BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O atual comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, Klepter Rosa Gonçalves, foi o responsável por autorizar dias de folga do coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, então chefe do Departamento Operacional da corporação, no dia 8 de janeiro --data em que golpistas invadiram e depredaram as sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal).
O coronel Jorge Naime era o chefe do setor responsável por elaborar o plano de segurança na capital federal para evitar os ataques golpistas. Ele foi exonerado do posto após os atos antidemocráticos.
Klepter Gonçalves assumiu o comando da PM após o 8 de janeiro, escalado pelo interventor na segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, para assumir a posição de forma interina --ele tinha sido responsável pela atuação do efetivo policial na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No dia 5, Gonçalves, ainda como subcomandante-geral da PM, assinou requerimento autorizando o afastamento total de Jorge Naime do serviço entre 3 e 8 de janeiro.
Essa ação, no entanto, não consta em relatório sobre os atos de 8 de janeiro produzido por Cappelli e divulgado em 27 de janeiro. O relatório cita o período de folga de Jorge Naime, mas não indica quem assinou o despacho autorizando os dias de recesso.
"A par de tudo isso, soma-se o fato de o Chefe do Departamento Operacional - DOP, Cel. Jorge Eduardo Naime Barreto, ao qual todos aqueles estão subordinados, solicitou 'dispensa recompensa' entre os dias 03/01/2023 e 08/01/2023, razão pela qual não estava de serviço no dia dos fatos", diz o relatório.
No documento, Cappelli afirma que a PM do DF não elaborou um plano operacional para conter os golpistas.
"Não houve a elaboração prévia de Planejamento Operacional nem Ordem de Serviço emitido pelo Departamento Operacional da PMDF em relação aos fatos do dia 08/01/2023", diz o relatório.
Cappelli também ressalta que havia apenas um Plano de Ações Integradas, elaborado pela Secretaria de Segurança Pública, sem destacar ações para batalhões de choque da polícia, "o que foge ao padrão operacional de manifestações anteriores".
O interventor afirmou ainda que, além do coronel Jorge Naime, outros seis comandantes de batalhões e dois chefes de áreas da PMDF estavam de "férias" no dia dos atentados --todos eram subordinados ao coronel.
O governo Lula, integrantes da Polícia Federal e do Judiciário têm creditado à PM do DF a responsabilidade pela invasão da praça dos Três Poderes, após tímida ação das forças de segurança para deter os golpistas naquele dia. E já havia insatisfações do Executivo federal com a atuação do próprio coronel Jorge Naime.
Assim como no dia 8 de janeiro, era o setor comandado por Naime que deveria ter atuado nas manifestações violentas que ocorreram no dia 12 de dezembro, data da diplomação do presidente Lula.
Naquele dia, após a tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal, manifestantes apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) praticaram atos de vandalismo que resultaram em incêndios a carros e ônibus pelas ruas de Brasília. A PM só conseguiu conter os ataques quando diversos veículos já estavam depredados.
O ex-comandante da PM Fábio Augusto Vieira, que foi preso por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou em seu depoimento à Polícia Federal que encontrou o coronel Jorge Naime durante os atos de vandalismo no dia 8.
O ex-comandante disse ter visto Naime por volta de 18h30 na praça dos Três Poderes. Ele teria indagado o policial sobre sua presença, uma vez que estava de folga. Naime teria dito então que estava no local para ajudar.
O depoimento de Vieira colocou o coronel no foco das apurações da Polícia Federal. Como a Folha de S.Paulo mostrou, o advogado de Jorge Naime, Gustavo Mascarenhas, afirmou que o policial militar estava fora de Brasília e antecipou o retorno à cidade por solicitação do Palácio do Buriti e de Gonçalves, para que fizesse parte da operação em andamento para conter os golpistas na Esplanada dos Ministérios.
De acordo com Mascarenhas, Naime compareceu ao local por volta das 18h, visando colaborar no restabelecimento da ordem. Desde o momento que passou a coordenar a operação, disse o advogado, seu cliente seguiu com o protocolo de esvaziamento dos prédios públicos.
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