BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O comandante do Exército, general Tomás Paiva, reforçou a todos os oficiais e sargentos da Força a orientação de que os militares não podem ter perfis em redes sociais com identificação de função militar e patente.
A diretriz consta de uma portaria do Exército de 2021. Tomás, no entanto, tem afirmado a generais a ideia de reafirmar a determinação sobre o assunto, para evitar que eventuais manifestações de soldados e oficiais nas redes sejam interpretadas como opiniões oficiais do Exército.
A instrução foi dada na quarta-feira (1º) em teleconferência realizada entre o comandante e todos os oficiais e sargentos do Exército. O encontro virtual teve duração de mais de uma hora.
É a primeira vez que um chefe da Força realiza uma conversa dessa proporção, com mais de 10 mil militares participando de forma online.
Comandantes anteriores, como os generais Freire Gomes e Paulo Sérgio Nogueira, utilizavam transmissões nos canais oficiais ou conversas específicas com organizações militares para se comunicar.
Tomás Paiva foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como comandante do Exército após a demissão do general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro à sede dos três Poderes, em Brasília.
Ele tem feito declarações na Força em defesa de um Exército apolítico e apartidário depois da intensa participação de militares no governo Jair Bolsonaro (PL).
Três oficiais relataram à Folha de S.Paulo detalhes da teleconferência de quarta-feira. Segundo os relatos, Tomás ressaltou que as redes sociais devem ser utilizadas pelos militares com cuidado, diante da quantidade de notícias falsas e de posições extremadas que são compartilhadas.
O comandante ressaltou que, conforme portaria de 2021, não há proibição para militares manterem perfis particulares.
"O criador do perfil [é] responsável por todas as suas interações digitais, observando-se fielmente o prescrito no Estatuto dos Militares e no Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), além do ordenamento jurídico vigente", define a portaria de 2021.
Na conversa, Tomás ainda destacou que o Exército tem grande prestígio na opinião pública e que, para manter a imagem da Força, a atuação de cada militar é importante.
De acordo com os relatos, o comandante ressaltou que a credibilidade do Exército é uma de suas principais características e, portanto, é fundamental que os militares tenham cuidado para não divulgar informações falsas e entrar em discussões online consideradas desnecessárias.
Tomás ainda afirmou que os pilares do Exército são a hierarquia e a disciplina, com as quais a Força mantém a cadeia de comando e evita insubordinações.
A utilização das redes sociais é considerada tema delicado desde que o ex-comandante Eduardo Villas Boas recorreu ao Twitter para escrever, em 2018, sobre o julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à época preso.
Na atual composição, nenhum general do Alto Comando do Exército possui perfil pessoal no Twitter.
Mesmo com as orientações, a Força enfrenta dificuldades para fiscalizar e punir militares que afrontam as regras nas redes sociais.
Um dos exemplos mais citados internamente foi o do coronel Ricardo Sant?Anna, que participou da fiscalização das urnas eletrônicas mesmo tendo feito publicações contra o sistema eletrônico de votação.
Na reunião de janeiro em que foi gravado de forma escondida, o general Tomás Paiva fez queixas sobre os memes e publicações sarcásticas que foram feitas sobre os militares durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
O comandante se mostrou irritado com charges sobre a atuação dos militares no processo eleitoral e sobre o desfile de blindados que a Marinha fez na Esplanada dos Ministérios no dia da votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do voto impresso na Câmara, em 2021.
"A gente fica puto quando vê um negócio desses, fica chateado, ninguém gosta", disse na ocasião.
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