SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No livro "João Doria ? O Poder da Transformação", biografia do ex-governador de São Paulo que será lançada pela editora Matrix nesta segunda-feira (27), o jornalista Thales Guaracy observa que o ex-tucano ganhou as prévias presidenciais do PSDB, em 2021, mas não levou a candidatura em 2022 ?e que pouca gente, nem mesmo o próprio Doria, entendeu direito o que aconteceu.

Como todo personagem digno de um livro biográfico, João Doria carrega uma trajetória que desperta interesse, sobretudo pela meteórica ascensão na política, com uma vitória no primeiro turno em 2016 e, menos de seis anos depois, uma retirada melancólica da vida pública, sem realizar a pretensão da candidatura à Presidência da República.

Embora a biografia se dedique mais ao que deu certo na vida de Doria do que ao que não deu, o livro dá pistas sobre o que pode ter levado a esse desfecho e expõe bastidores das campanhas do ex-tucano e das disputas políticas nelas envolvidas.

Guaracy entrevista os políticos mais próximos de Doria, além de amigos e familiares. Raul, irmão do ex-governador, afirma ao escritor que Doria foi "excluído do sistema político", como o pai deles, que foi cassado pela ditadura militar.

Já o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que foi vice de Doria, diverge de Raul ao dizer ao biógrafo que "João não foi tirado da disputa", mas que houve má vontade do PSDB, o que fez ele analisar as dificuldades e desistir.

O jornalista aponta, por sua vez, que o movimento contra Doria no PSDB "era também em direção a [Jair] Bolsonaro". A exemplo da bolsonarização do partido, ele cita o episódio em que Rodrigo estendeu tapete vermelho ao então presidente no Palácio dos Bandeirantes, durante o segundo turno da campanha.

No mesmo saguão, lembra o livro, em que Doria dava suas entrevistas à imprensa a respeito da pandemia e se opunha ao negacionismo de Bolsonaro. Esse embate, inclusive, é narrado em um capítulo específico. Da mesma forma em que expõe a oposição de Doria a Bolsonaro, Guaracy também ressalta o antagonismo entre o ex-governador e Lula (PT).

O autor atribui a alta rejeição de Doria entre o eleitorado, motivo que levou o PSDB a rifá-lo em 2022, à máquina de ataques do bolsonarismo ?explicação já expressada por Doria e aliados. Já a parcela de culpa de Lula no naufrágio de Doria estava no esvaziamento da terceira via, já que o petista atraiu o apoio de tucanos históricos.

Em ordem cronológica, o livro detalha a vida dos pais de Doria para depois narrar a dele próprio, o que ajuda a entender como e por que João Doria, o pai, se tornou a principal referência do filho. Em 1964, o Doria pai, então deputado federal, teve que se exilar em Paris quando a ditadura militar se instalou no Brasil.

Nesse ponto, a biografia localiza no tempo o período de dificuldade financeira a que Doria sempre se refere, quando ele tinha entre 8 e 16 anos, e o pai estava no exílio. O livro se debruça sobre a carreira na publicidade de Doria pai e de Doria filho, e também conta sobre o período deste último na Embratur.

A obra, cujo prefácio foi escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), narra a visão de Doria sobre suas conquistas, exaltando em tom laudatório a superação de dificuldades e as entregas no Governo de São Paulo, sobretudo a vacina contra a Covid.

É também o lado de Doria que aparece quando os embates internos do PSDB são narrados, ainda que alguma autocrítica seja pescada aqui e ali quando o autor afirma que Doria se indispôs e entrou em confronto com o "alto tucanato" e "a velha política do partido".

Ele menciona, entre outras, disputas com Geraldo Alckmin (PSB) e Aécio Neves (PSDB) ?sempre sob o olhar de Doria, que fica no papel de traído e injustiçado pelos seus pares.

Para Guaracy, Doria é "o líder que quer realizar, não importam os obstáculos". O livro descreve uma obsessão do ex-tucano pelo perfeccionismo e pela pontualidade e narra que, na prefeitura, ele adotou "métodos de trabalho de empresas privadas". Havia um prêmio de secretário do mês, e Doria presenteava com um relógio o escolhido.

Nesse sentido, a obra mostra que Doria, no mundo da política, foi um estranho no ninho e recorre aos chavões da antipolítica e da velha política para expor a tese de que o ex-governador, um "empreendedor que se lança à política", encontrou dificuldades por não se curvar à política tradicional que ele rejeitava.

A saída de Doria da corrida eleitoral, segundo Guaracy, foi o jogo político cobrando seu preço. "Ele mesmo, João, pensava que não tinha sido eleito para agir politicamente, ou segundo as regras da política tradicional, e sim para mudá-las, ainda que para isso criasse inimigos. Era aquela forma de agir e pensar que levava o Brasil ao atraso ?e, se fosse para melhorar, quem tinha de mudar era o sistema, e não ele", escreve.

A biografia, porém, não é um registro lamentoso ou decadente, pelo contrário. Passa a mensagem de que, para Doria, valeu a pena enfrentar o sistema para entregar uma gestão mais eficiente. E que ele não guarda mágoas de seus algozes no PSDB.

Guaracy ainda deixa em aberto o futuro de Doria na vida pública ?se ele vai voltar a ouvir "o canto da sereia" que o levou para as urnas.

JOÃO DORIA - O PODER DA TRANSFORMAÇÃO

Autor: Thales Guaracy; Editora Matrix;

Quanto: R$ 72 (320 págs); ebook: R$ 50

Lançamento: 27/3, às 18h, na Livraria da Travessa do Shopping Iguatemi (av. Brig. Faria Lima, 2.232)


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