SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro trimestre do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi marcado por gafes e polêmicas capitaneadas pelo presidente, mas, para 61% dos eleitores, ele se comporta sempre ou na maioria das vezes de forma adequada ao cargo.

A percepção foi captada pelo Datafolha em pesquisa realizada nos dias 29 e 30 de março, marcando os primeiros 90 do terceiro mandato do petista.

Segundo 37% dos entrevistados, Lula se comporta adequadamente o tempo todo, enquanto 24% creem que ele o faz quase sempre. Já 20% acham que ele não age de forma condizente com a cadeira que ocupa na maioria das oportunidades, e outros 18% dizem que ele nunca o faz.

Outros 2% dos entrevistados não souberam dizer. O instituto ouviu 2.028 pessoas com mais de 16 anos em 126 cidades, em um levantamento com margem de erro de dois pontos para mais ou menos.

No período, o presidente esteve no centro de episódios que variaram do quase folclórico, como quando apontou a obesidade do ministro Flávio Dino (Justiça) em um evento, a um grave erro de avaliação ao sugerir que o plano para matar autoridades do PCC desbaratado pela Polícia Federal seria uma "armação do Moro".

Sergio Moro foi o juiz da Operação Lava Jato que pôs Lula na cadeia em 2018 --o petista acabou saindo pela revisão da regra de prisão por decisão em segunda instância, e a sentença acabou anulada depois quando o hoje senador da União Brasil do Paraná foi declarado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal.

A acusação sem provas foi criticada pela oposição e por aliados de Lula, cientes do tiro no pé.

Mesmo na área externa, da qual usualmente Lula se orgulha, o presidente cometeu uma impropriedade fática ao dizer que a Lava Jato foi um conluio da PF e do Ministério Público Federal com autoridades norte-americanas para destruir empreiteiras brasileiras.

O presidente também falou palavrão em entrevista e foi criticado por declarações acerca da miscigenação brasileira, episódios que se alinhavam a diversos outros desde que voltou à vida política ao deixar a cadeia em 2019.

A pesquisa mostra, assim, descompasso entre o senso comum na população e tanto avaliação política de temas com gravidade quanto o tribunal das redes sociais, ávido por julgamentos sumários de todo e qualquer tema.

O perdão popular, por assim dizer, a esses episódios não é uma novidade. Em seu primeiro trimestre no poder, o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro (PL), protagonizou diversos episódios de verborragia de gosto duvidoso. Chegou a postar um vídeo pornográfico para criticar o que seriam excessos do Carnaval.

Mas, quando o Datafolha fez a aferição do que os brasileiros achavam de seu comportamento dos primeiros três meses do mandato, o resultado foi apenas um pouco mais crítico do que o dispensado ao petista.

Afirmavam que ele era adequado sempre ou quase sempre 54% (27% para cada categoria), enquanto 43% o reprovavam (20% o achavam inadequado na maioria das vezes, mesma taxa de Lula, e 23% o viam sempre assim). Na época, 4% disseram não saber avaliar. As somas totais não dão 100% devido aos arredondamentos.


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