RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A movimentação do senador Flávio Bolsonaro (PL) de colocar seu nome à disposição para a disputa da Prefeitura do Rio de Janeiro na eleição de 2024 mantém viva a ameaça feita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao prefeito Eduardo Paes (PSD) durante a campanha eleitoral do ano passado.

Bolsonaro prometeu "dar o troco" em 2024 em Paes em razão do apoio do prefeito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e das críticas feitas à sua gestão no governo federal. Há, agora, expectativa sobre o real interesse pessoal do ex-presidente na disputa.

A entrada de Flávio na disputa ainda é vista com desconfiança no meio político carioca. A apresentação de seu nome para a candidatura tem sido vista como uma forma de manter voz ativa na escolha do adversário do prefeito da base eleitoral do ex-presidente.

O objetivo do senador também foi limitar as movimentações recentes do governador Cláudio Castro (PL), que vinha sinalizando a intenção de impor nome de sua preferência (dr. Luizinho, do PP, atual secretário estadual de Saúde) e ensaiando, para alguns, uma aproximação com Paes.

A entrada de Flávio na pré-campanha exigiu uma recomposição de Castro com o bolsonarismo, do qual vinha se afastando gradualmente desde o fim da campanha eleitoral.

O filho do ex-presidente também limitou as negociações de Eduardo Paes, que já conseguiu atrair a União Brasil para seu governo.

A perspectiva de enfrentamento direto com a família Bolsonaro fez com que o prefeito conseguisse praticamente garantir a aliança com PT, PSB e PDT, mas dificultou a aproximação de outras siglas do centrão.

Bolsonaro deu a largada na disputa de 2024 pela Prefeitura do Rio de Janeiro no último dia da campanha presidencial do ano passado. Ao lado de Castro, o ex-presidente chamou Paes de vagabundo, mentiroso e mal-agradecido e ameaçou: "Ele vai ter o troco lá em 2024".

A entrada de Flávio na pré-campanha contou com o aval do ex-presidente.

A confiança de que o projeto pode ser bem sucedido vem do resultado nas urnas da cidade no ano passado: apesar do empenho de Paes no segundo turno em favor de Lula, Bolsonaro venceu o petista na cidade com 52,7% dos votos válidos. O ex-presidente conseguiu até ampliar a diferença para Lula em relação ao primeiro turno.

Aliados do senador ressaltam também o relativo bom resultado obtido na disputa pela prefeitura em 2016, antes da eleição de Bolsonaro, quando Flávio se candidatou à revelia do pai e obteve 14% dos votos válidos. Ele teve apenas 64 mil a menos do que Pedro Paulo, nome de Paes da ocasião que também ficou fora do segundo turno.

Contudo há dúvidas se Bolsonaro manterá o interesse pessoal na disputa, sob risco de derrota em seu domicílio eleitoral. Pessoas próximas ao senador afirmam que, desta vez, Flávio não vai contrariar a avaliação do pai sob risco de prejudicar seu projeto nacional.

Aliados do senador afirmam que a movimentação visa, principalmente, impedir a dispersão dos bolsonaristas nas negociações para o ano que vem.

Um dos que ameaçavam se desgarrar era Cláudio Castro. O governador travava uma disputa interna pelo controle do PL-RJ sob risco de trocar de partido. Ao mesmo tempo em que atuou como avalizador do acordo no diretório estadual, Flávio disponibilizou seu nome.

Castro mantém bom diálogo com Paes, ativo que o prefeito pretendia usar para atrair o governador para sua aliança. Com a entrada do senador na pré-campanha, o governador viu seus movimentos limitados. Ele mantém a defesa da candidatura de dr. Luizinho, mas não fecha as portas para apoiar Flávio.

As negociações para 2024 entre Flávio e Castro esbarram nas pretensões de ambos para o pleito de 2026. O senador tem como projeto principal sua reeleição, enquanto o governador também almeja uma cadeira no Senado.

A próxima eleição oferece duas vagas por estado, mas a costura dos dois excluiria o senador Carlos Portinho (PL), eleito como suplente de Arolde de Oliveira, morto em 2020. Uma das opções estudadas é indicar Portinho como candidato a prefeito, caso o filho do ex-presidente opte por não concorrer.

Outra opção discutida dentro do PL-RJ é do deputado Eduardo Pazuello, ex- ministro da Saúde de Bolsonaro. Ele não demonstrou muito interesse na missão, mas mantém as conversas abertas.

Eduardo Paes também tem a eleição de 2026 no mapa para as negociações de 2024. O prefeito deve disputar o governo estadual, o que torna a vice na chapa um espaço nobre para negociação.

O prefeito vem insistindo em escolher o deputado federal Pedro Paulo (PSD), seu braço-direito, para o posto. Uma das possibilidade é que ele se filie a algum partido da aliança que está sendo formada, como a União Brasil, a fim de contemplar outra sigla na chapa.

Paes pretende manter esse desenho até as vésperas das convenções, a fim de ter uma carta na manga para atrair outros partidos, caso o cenário eleitoral assim imponha. Sua equipe diz que não teme enfrentar Flávio Bolsonaro, e avalia não ser um empecilho para o quarto mandato à frente do município --o que o tornaria o político com mais tempo no comando da cidade da história.

O prefeito já conseguiu atrair antecipadamente o PT para o projeto, ao lhe ceder três secretarias este ano.

O movimento, articulado pelo vice-presidente da sigla, Washington Quaquá, desagradou a ala que defendia deixar as negociações para o ano que vem a fim de que pudesse pleitear a vice da chapa. O deputado Lindbergh Farias advogava para que uma aliança com o deputado Tarcísio Motta (PSOL) permanecesse como uma opção.

O MDB-RJ é outro partido que Paes avalia tentar atrair. A sigla oficialmente confirmou a pré-candidatura do deputado bolsonarista Otoni de Paula.


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