RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Após três meses da gestão Lula, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), ainda vê uma administração perdida.
"Foi um governo que começou com muita boa vontade, de querer mostrar que era para frente. Acho que as brigas estão paralisando o governo. O governo ainda não conseguiu mostrar a que veio", afirmou nesta quinta-feira (6) em entrevista à reportagem.
Eleito com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Castro afirma que sua avaliação não parte do ponto de vista de um governador de oposição. "Quem faz oposição é o Congresso."
O governador aponta um distanciamento do presidente Lula do Rio de Janeiro, principalmente na atuação na segurança pública.
"Tem três meses que a gente não recebe uma ligação. A gente não é procurado para nada. Todo novo superintendente [da PF e PRF] que vinha para cá conversava. Até agora não teve conversa."
Após flertar com uma saída do PL e um afastamento gradual do bolsonarismo, Castro garante ter o ex-presidente como líder. "Somos do mesmo partido. É o nosso líder."
Ele diz ver Bolsonaro como o candidato natural à Presidência em 2026 e rejeita tentar algum dia o cargo. "Presidência é escravidão."
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PERGUNTA - Como avalia o início do governo Lula?
CLÁUDIO CASTRO - Foi um governo que começou com muita boa vontade, de querer mostrar que era para frente. Mas me parece que tem tanta briga interna. Acho que essas brigas estão paralisando o governo. O governo ainda não conseguiu mostrar a que veio. Disseram que o outro [governo, de Bolsonaro] só brigava e esse só briga também.
Se eles parassem de brigar e começassem a trabalhar mais, voltar para aquela ideia de ser um governo colaborativo, participativo, acho que tem tudo para realmente funcionar.
P - Que tipo de briga?
CC - A gente, por exemplo, não conseguiu discutir nada do Regime de Recuperação Fiscal.
Com toda essa questão de arcabouço fiscal, de reforma tributária, não conseguimos discutir as coisas mais daqui.
Na segurança pública, a Polícia Federal sumiu. Eu não sei o que eles estão fazendo no Rio. PF, PRF devem estar com outras prioridades que não combater o crime, de impedir de entrar arma, droga. A gente nunca viu tanta arma nas comunidades como nos últimos três meses.
P - Isso não pode ser resquício da política armamentista do governo Bolsonaro?
CC - Nunca foi liberado o fuzil.
P - Mas CACs estão sendo usados para isso.
CC - Parece muito mais um afrouxamento de fronteira do que qualquer coisa. Se fosse [maior quantidade de] pistola, talvez concordasse. Mas o que a gente está vendo é armamento pesado, muita droga, um poderio que não via há muito tempo aqui.
A gente precisa voltar a ter o auxílio de quem ajudava a gente antes, que era a PF e a PRF. Tem três meses que a gente não recebe uma ligação. A gente não é procurado para nada. Todo novo superintendente que vinha aqui conversava. Até agora não teve conversa.
Quando criou a força-tarefa do caso Marielle, tirou a Polícia Civil. Essa falta de integração prejudica muito o nosso trabalho.
P - O sr. se queixou com o ministro Flávio Dino sobre isso?
CC - Liguei para ele e disse: "Estou preocupado". Ele ficou de vir aqui fazer uma reunião comigo.
P - Como está seu relacionamento com o presidente?
CC - Fui [a Brasília] na posse, no dia 9 de janeiro [após os ataques golpistas]. Depois ele veio no Rio um dia e eu fui [ao evento]. Depois ele chamou os governadores e eu fui. Da última vez que ele veio [ao RJ], não fui convidado.
P - Acha que há uma tentativa de se afastar do sr?
CC - Não é o que o pessoal dele dialoga. Mas na prática... Talvez todas essas confusões estejam impedindo ele de conseguir estar mais perto. Convidei ele para o Consud [encontro dos governadores do Sul e Sudeste] e nem ele, nem o ministro da Casa Civil [Rui Costa] responderam.
P - O fato de serem governadores de oposição pesou?
CC - Quem faz oposição é o Congresso. Tanto que ele chamou no dia 9 [de janeiro] e foram os 27. Na reunião com ele os 27 foram de novo. Eu não tenho visto nenhum governador fazendo oposição. Nem o Tarcísio [de Freitas, governador de SP], nem o Ratinho [Junior, do PR], nem o Jorginho Melo [SC]. Muito pelo contrário. Ele [Lula] foi em São Paulo ajudar [após as chuvas no litoral norte] e o Tarcísio deu uma comenda. Os governadores estão governando.
P - E há reciprocidade do governo federal?
CC - Só está distante, mas está sendo super-republicano. O papel de qualquer governador é governar. Não cabe fazer oposição no Executivo. A oposição, se for feita, será na época da campanha. Ao governador cabe dialogar.
P - Qual o papel do Bolsonaro hoje?
CC - O papel dele é fazer oposição, de quem teve metade do país ao seu lado. Essa oposição inclusive é saudável para o Brasil. O mundo inteiro tem. A oposição leva a pensar, a refletir, tem um papel importante para o país. Eu acho que o Bolsonaro se encaixa nessa oposição que o Lula fazia até 31 de dezembro.
P - O sr. acha que ele tem essa capacidade de liderança que esperam dele?
CC - Claro. Foi presidente da República, elegeu a maior bancada de [deputado] federal e senador.
P - Ele é um líder para o sr?
CC - Somos do mesmo partido. É o nosso líder.
P - O sr. se vê como um bolsonarista?
CC - Eu sou castrista. Em muitas coisas eu penso igual o Bolsonaro, mas eu também gosto da pauta social. Tenho minha maneira de fazer política e não abro mão para ser tachado de outra coisa.
P - Como o sr. viu esse período dele fora do país?
CC - Acho que ele precisava desse tempo. Não estou na pele dele para entender do que ele precisava. Cada um funciona de uma forma diferente. Tem gente que precisa desintoxicar um pouco, sair para poder olhar melhor. Espero que ele tenha voltado mais forte.
P - Ele é o nome da oposição para [as eleições de] 2026?
CC - Tenho convicção que é. Ele teve 49% dos votos. Tem que ser ele.
P - O ex-presidente teve responsabilidade sobre o que ocorreu no 8 de janeiro?
CC - Essa é uma investigação que corre no STF. De achismo, creio que não, porque o maior prejudicado com aquilo foi o [ex-]presidente Bolsonaro. Da mesma forma que aqui no Rio a gente imputou à esquerda a vida inteira os black blocs, é um prejuízo para ele. [Do ponto de vista] De quem não tem o processo em mãos, não acho nada inteligente alguém fazer, porque o povo não gosta de quebra-quebra.
Mas não estou vendo o processo. É puro achismo. Tem uma investigação que vai apontar os culpados.
P - Como tem visto a atuação do PL no Congresso?
CC - É uma bancada muito grande, muito heterogênea. Tem gente que vinha de uma postura mais centrão, outro pedaço de bolsonaristas mais raiz. O PL ainda está aprendendo a boa oposição, construtiva, de ideias, que não paralise o país.
P - Uma das atuações do PL foi o questionamento ao ministro Flávio Dino pela visita ao Complexo da Maré. Como o sr. viu esse episódio?
CC - Todos nós no Executivo temos que estar tranquilos em responder ao Legislativo, que é o nosso fiscal.
P - Mas o sr. achou suspeita a visita dele à Maré?
CC - Suspeito não. Ele é o ministro da Justiça e vai onde ele quiser. Aqui no Rio de Janeiro eu falo que a gente entra em qualquer lugar. E o poder público não pode ser impedido de entrar em lugar nenhum. Ele é ministro, tem a PF, PRF, Força Nacional. Sabe onde pode entrar ou não.
O questionamento sempre é válido, mas não essas bobagens de acordo com o tráfico. Não creio que alguém que foi governador duas vezes, senador da República, ministro, faça acordo com bandido.
P - O sr. se sente confortável no PL, após a disputa pelo controle da sigla no Rio?
CC - Super confortável. Disputa faz parte da democracia.
P - O presidente da Assembleia [Rodrigo Bacellar], grande aliado do sr., está indo para o União Brasil. O sr. também vai?
CC - Não está indo. Já conversamos e o deputado Bacellar disse que fica no PL. Ele teve convite, mas não há motivo para sair. E, se for, não irei.
P - Flávio Bolsonaro é um bom candidato para a prefeitura?
CC - É um ótimo candidato. Se ele quiser, é unanimidade. Vamos todos com ele. Não terá disputa. Ele não sendo, abriremos dentro da base a discussão sobre qual o melhor nome. Para mim, é o dr. Luizinho [secretário de Saúde, do PP].
P - O sr. tem feito movimentos que foram lidos como de aproximação do Eduardo Paes.
CC - Quais? Sou próximo de todos [os prefeitos]. Acabei de estar em Maricá com o prefeito Fabiano Horta, que é do PT, e meu partido tem pré-candidato lá.
P - O sr. convidou o deputado Pedro Paulo, em 2022, para ser vice na sua chapa, por exemplo.
CC - Era uma ideia. Eu queria ter o apoio do prefeito Eduardo Paes. Naquela época ele e o Bolsonaro se falavam bem. Era para fazer uma grande frente para vencer a eleição. Eles entenderam que o caminho era ir para o PSD e apoiar o Rodrigo Neves.
P - Essa decisão impede um acordo para o ano que vem?
CC - Ele tomou um outro caminho, né? Agora eu tenho pessoas que me apoiaram. Você caminha com quem caminha com você. A opção dele foi caminhar com o Rodrigo Neves. Como vou dizer agora para o meu eleitor, para o meu partido que eu vou apoiar o que ficou com o outro? Nada é impossível, mas é muito difícil.
P - O programa de transferência de renda de seu governo teve falhas de controle e planejamento apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado. A que o sr. atribui essas falhas?
CC - Bolsa Família, auxílio emergencial, Auxílio Brasil tiveram os mesmos problemas. Infelizmente há uma cultura de pessoas que se aproveitam de bons programas para fazerem mal feito. Há mecanismos de controle para não acontecer. Mas vai acontecer. Tem gente especialista em burlar.
P - O sr. nomeou para uma secretaria importante o ex-deputado Washington Reis, condenado pelo STF. Não é inadequado nomear um condenado?
CC - Washington foi prefeito três vezes, deputado federal, deputado estadual, vereador, passou por toda a Lava Jato e teve uma condenação ambiental. Ele está dando um show na Secretaria de Transportes. Ele é um homem público fantástico. Enquanto eu puder tê-lo aqui, eu terei.
P - Não seria um desgaste político ele ser preso no cargo?
CC - Não, é do jogo político de quem está governando. É um dos melhores que tenho. Enquanto ele estiver elegível e apto, ficará aqui. Se a Justiça não tirou, quem sou eu para antecipar essa tutela?
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CLÁUDIO CASTRO, 44
Nascido em Santos (SP), foi vereador (2017-2018) e vice-governador do Rio de Janeiro até agosto de 2020, quando assumiu o Palácio Guanabara após o afastamento de Wilson Witzel. Tornou-se governador em definitivo em 1º de maio de 2021, após o impeachment do antecessor. Membro da Renovação Carismática da Igreja Católica, construiu carreira como cantor gospel. É formado em direito pela UniverCidade.
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Cláudio Castro
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