SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O apoio político espontâneo ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fica restrito a 20% dos deputados federais e a 20% dos senadores se consideradas somente as menções positivas à marca de cem dias de governo feitas por eles nas redes sociais, indica um levantamento da consultoria Quaest.

A análise, que evidencia a fragilidade da base do Planalto nas duas Casas, mostra que mesmo em partidos presumidamente aliados houve pouca celebração da marca, atingida no último dia 10. Em alguns casos, integrantes de legendas próximas ao governo adotaram o silêncio ou lançaram críticas.

Na Câmara, 103 dos 513 deputados fizeram menções positivas sobre os cem dias, de 7 a 10 de abril, no Twitter, Instagram, Facebook e YouTube, plataformas monitoradas para o estudo. Outros 11 deputados da virtual base partidária de Lula lembraram a data de maneira crítica ou neutra.

A aprovação de um projeto de lei, por exemplo, exige voto favorável de ao menos 257 parlamentares. Para uma PEC (proposta de emenda à Constituição), são necessários 308 votos, no mínimo.

Apenas quatro bancadas demonstraram o que a Quaest classificou como apoio forte. PT (com 69 deputados), PC do B (6) e Rede (1) tiveram 100% dos integrantes fazendo comentários elogiosos ao mandato de Lula. O PSOL também entrou na categoria, mas teve adesão menor: de seus 13 deputados, 10 fizeram publicações em tom otimista, mas 3 nada comentaram sobre a data.

Outros quatro partidos da órbita governista expuseram um apoio de nível misto, já que o percentual de deputados que fizeram postagens positivas não superou os 50% dentro da bancada.

No PSB, por exemplo, que é a sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin, 9 dos 14 parlamentares deixaram a efeméride passar em branco. Dos 5 que fizeram algum registro, todos falaram bem. PDT, PV e Solidariedade também tiveram só uma parte dos integrantes dispostos a lembrar a ocasião.

Um terceiro grupo de partidos entrega, de acordo com a Quaest, um apoio baixo: PSD, MDB, União Brasil e Avante. São legendas cujo percentual interno de alinhamento com Lula não ultrapassou os 14%. No PSD, por exemplo, só 3 dos 42 deputados postaram sobre a data --2 com viés positivo e 1 em tom crítico.

A União Brasil --imersa em uma crise que levou à saída de quadros como a ministra do Turismo, Daniela Carneiro-- se declara independente, embora o governo esteja otimista de que colherá apoio significativo de seus quadros em votações como a do arcabouço fiscal e a da reforma tributária.

A situação também é desanimadora para Lula no Senado. Dos 81 titulares, 16 fizeram menções à chegada dos cem dias --8 deles são os senadores filiados ao PT, que propagaram em sua totalidade mensagens positivas sobre o governo.

Os outros 8 que comentaram o tópico, também com conteúdos favoráveis à administração, estão distribuídos por legendas consideradas aliadas: PSB, PDT, Rede, PSD e MDB. No entanto, dentro desses partidos, os otimistas com o governo tendem a ser casos isolados.

No MDB, por exemplo, só Renan Calheiros (AL) se pronunciou. No Twitter, o veterano disse que Lula "reergueu o país, sufocou um golpe e retomou programas sociais" como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. Os outros 9 senadores emedebistas ficaram calados.

Dos 15 do PSD, cuja bancada é a maior do Senado, apenas Omar Aziz (AM) e Otto Alencar (BA) foram às redes louvar o 100º dia de administração do PT.

A aprovação de um projeto no Senado demanda 41 votos, enquanto para passar uma PEC são necessários 49.

Segundo o cientista político Felipe Nunes, que é diretor da Quaest e comandou o levantamento, medir o grau de comprometimento com o governo a partir das postagens sobre a chegada aos cem dias foi uma maneira de tentar quantificar o apoio real, diante de um cenário ainda nebuloso.

"Estamos vivendo uma situação atípica, em que o governo entrou no quarto mês sem ter atravessado nenhuma votação importante no Congresso. Com isso, é preciso buscar formas criativas de mensurar o universo que parece predisposto a votar de acordo com os interesses do Planalto", diz.

O pesquisador avalia que o nível de envolvimento espontâneo de deputados e senadores com uma bandeira da comunicação do governo sugere que "levar adiante as pautas defendidas por Lula, mesmo aquelas supostamente simples, poderá ser mais custoso do que parece".

Para Nunes, embora o parâmetro da menção aos cem dias em redes sociais tenha limitações, o levantamento ajuda a compreender o apoio ao governo no sentido mais amplo, já que a exposição pública em defesa da gestão Lula embute custos políticos perante o eleitorado.

Os comportamentos discrepantes dentro de bancadas específicas, acrescenta o autor, são um alerta para o governo de que nem mesmo partidos dados como amigáveis têm unidade de atuação. O cenário se repete em siglas como União Brasil, PSD e MDB, todas com bancadas numerosas.

Na União, Brasil que tem 59 deputados, 5 se manifestaram sobre Lula (4 deles foram críticos e 1 foi neutro). Segundo a Quaest, os dados confirmam o status de independência do partido. Sua composição heterogênea, resultado da fusão de PSL e DEM, se reflete no humor em relação ao Executivo.

No MDB, que possui 42 representantes na Câmara, 6 entraram no tema dos cem dias --1 falou em tom positivo, 3 foram críticos e 2 soaram neutros. No Avante, nenhum dos 7 deputados se posicionou --nem para o bem nem para o mal.


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