BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A decisão sobre a saída do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, foi tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após uma reunião de emergência no Palácio do Planalto, da qual participaram o vice Geraldo Alckmin (PSB) e ministros mais próximos ao mandatário.
Aliados de Lula dizem que ele estava bastante irritado, pois havia pedido reiteradas vezes ao general, sem sucesso, acesso às imagens do sistema de câmeras de segurança do Planalto. Ouviu que não seria possível e, de acordo com um interlocutor do petista, até que uma das câmeras estaria quebrada. Acabou surpreendido nesta quarta-feira (19) com a divulgação desse mesmo conteúdo, que teria sido negado a ele.
Também pesou a desconfiança em relação à versão apresentada pelo general, de que aparece indicando a saída para os invasores nas imagens porque estava conduzindo os golpistas para serem presos no segundo andar do palácio.
À Folha de S.Paulo o general rebateu a versão de que teria negado acesso às imagens do dia 8 de janeiro. Afirmou que o GSI chegou a montar uma apresentação com as filmagens mais sensíveis para encaminhar a Lula e que todas as horas de filmagem foram encaminhadas aos órgãos envolvidos na investigação, como STF (Supremo Tribunal Federal), Polícia Federal, Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Distrito Federal.
Também afirmou que as filmagens se encontravam em sigilo previsto no Código de Processo Penal.
Uma semana após os ataques de 8 de janeiro, o governo divulgou vídeos editados, em particular com trechos que evidenciavam que os militantes eram aliados de Jair Bolsonaro (PL). No entanto, recusou um pedido da Folha de S.Paulo, via Lei de Acesso à Informação, para divulgar a íntegra das gravações.
Gonçalves Dias entregou para o presidente Lula o seu pedido de demissão na tarde desta quarta, pressionado e desgastado pela divulgação das imagens do circuito interno de segurança do Planalto --que colocaram em xeque a atuação do GSI e dele próprio no enfrentamento aos invasores.
Horas antes, a CNN Brasil divulgou as imagens que mostram os vândalos recebendo água de um agente do GSI e interagindo calmamente com militares durante a invasão da sede da Presidência da República.
Nos vídeos, o próprio general Gonçalves Dias circula pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo.
A divulgação das imagens aumentou a pressão sobre Gonçalves Dias, que chegou a se reunir com alguns ministros para explicar a sua atuação no dia dos ataques.
Lula depois atrasou por mais de uma hora a sua participação em uma cerimônia da área de educação no Planalto, pois convocou alguns ministros mais próximos para uma reunião de emergência. Participaram Alckmin, os ministros Flávio Dino (Justiça), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
Nessa reunião, saiu o entendimento de que GDias --como o general é conhecido-- deveria pedir demissão. Nenhum dos presentes se posicionou ou argumentou contra a saída do ministro do GSI.
A avaliação dos ministros participantes foi de que as imagens eram fortes e impactante e deixavam evidente que GDias havia perdido o controle da situação durante o ataque golpista de 8 de janeiro.
Os integrantes do governo, no entanto, descartam qualquer tipo de ligação do general com os invasores. Apenas chegaram à conclusão, por meio das imagens, de que sua atuação esteve abaixo do esperado para a segurança do palácio presidencial.
Os participantes também questionaram a versão dada por Gonçalves Dias para aparecer nas imagens indicando a saída para os militantes bolsonaristas. O general apontou que estava levando os invasores de volta ao segundo andar do palácio, para que fossem presos lá.
Um integrante do governo diz que não foi dada voz de prisão a esses golpistas que foram levados ao segundo andar imediatamente na sequência, o que contrariaria a versão do general.
À Folha de S.Paulo Gonçalves Dias reforça que "os manifestantes que se encontravam no quarto e terceiro piso foram conduzidos ao segundo com intuito de contê-los para chegada da PM [Polícia Militar]".
Também foi apontado que parlamentares bolsonaristas já tinham acesso às imagens que foram depois divulgadas pela CNN Brasil e que pretendiam usá-las para constrangê-lo durante audiência na Câmara prevista para esta quarta-feira. GDias, no entanto, cancelou sua participação após a divulgação, alegando problemas de saúde.
A leitura é que o general seria futuramente confrontado em uma nova participação e que isso seguiria desgastando o governo.
O ponto central que selou a saída de GDias, no entanto, segundo interlocutores do governo, foi a falta de acesso ao presidente Lula das imagens do Palácio do Planalto no dia da invasão. O mandatário queria, em particular, ver as gravações de câmeras posicionadas em frente ao seu gabinete.
Um desses auxiliares do presidente disse à reportagem que Lula chegou a receber um relato do chefe do GSI de que havia uma câmera quebrada, impossibilitando acesso à íntegra das imagens de 8/1.
Lula chegou a afirmar publicamente, durante café da manhã com jornalistas, no dia 12 de janeiro, que fazia questão de ver essas imagens, pois estava "convencido" de que as portas do palácio teriam sido abertas para os invasores.
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