BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Após a saída do general Gonçalves Dias do comando do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), alas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divergem sobre manter um militar ou colocar um civil à frente da pasta.
Os auxiliares que defendem manter o ministério sob o comando dos militares acreditam ser essa a alternativa que trará menos traumas e ruídos políticos.
Eles temem que tirar um general para colocar um civil no posto pode reabrir uma crise com a caserna. O governo Lula buscou apaziguar os ânimos com os militares, mas os primeiros quatro meses do mandato foram marcados pela demissão do então comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda.
Já os integrantes do governo que defendem um civil à frente do GSI sustentam uma reestruturação completa do ministério. A avaliação é de que é preciso montar uma secretaria especial com configuração robusta, mas sob o comando de alguém de fora do meio militar.
Caso Lula escolha manter a estrutura com um militar, o principal nome cotado é o do general Valério Stumpf Trindade, hoje na reserva e à frente da Poupex.
Ele ocupava o segundo cargo mais alto na hierarquia interna, o Estado-Maior do Exército, mas deixou a corporação quando Tomás Paiva se tornou Comandante do Exército. Pelas regras militares, o comandante não pode ter entre os subordinados nenhum militar mais antigo.
Stumpf é respeitado entre os militares. Ele já foi secretário-executivo do GSI durante a gestão de Michel Temer (MDB) e nos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro (PL). Ele também atuou na pasta durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e no primeiro ano do governo Lula 1.
O petista indicou ainda nesta quarta-feira (19) o ex-interventor na segurança do Distrito Federal, Ricardo Capelli, um civil, para comandar o GSI interinamente.
Há quem defenda, por exemplo, o nome do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski e o do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante.
A hipótese de colocar o GSI sob comando de um civil já vinha sendo aventada desde a transição, quando houve uma queda de braço entre militares e integrantes da Polícia Federal pelo órgão ?sobretudo pela segurança presidencial e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
A avaliação é a de que se trata de um resquício do período da ditadura militar; e que em outros países tanto essa área como a de segurança do chefe do Executivo estão sob a tutela de civis.
O problema central era a desconfiança com a estrutura do GSI herdada do governo Bolsonaro. Na gestão anterior, o gabinete foi comandado pelo general Augusto Heleno, um dos auxiliares mais identificados com o bolsonarismo.
Integrantes da equipe de Lula também se incomodavam com a militarização da inteligência que assessora o mandatário.
As desconfianças levaram o GSI a ser excluído da segurança do presidente eleito, como é de praxe. Além disso, logo no início do governo, ele perdeu a atribuição da segurança presidencial aproximada. Restou apenas a de patrimônio da presidência.
No começo do mandato, havia dúvidas se a Abin deveria continuar ou não sob a tutela dos militares palacianos. Depois dos episódios de 8 de janeiro, ganhou força a tese defendida pelos que queriam a agência fora do GSI. No mês passado, ela foi transferida para a Casa Civil, do ministro Rui Costa (PT).
Em meio às recentes reorganizações do órgão, Gonçalves Dias resistiu a algumas pressões e manteve sob sua tutela secretarias que tratam de cibersegurança e de energia nuclear, por exemplo.
A sua queda agora reabre uma disputa interna pela estrutura que a pasta deve assumir.
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