RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A conta bancária do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) recebeu, de 2005 a 2021, R$ 129,5 mil em depósitos em espécie, sendo a maior parte (R$ 91 mil) sem origem identificada, aponta laudo do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Um dos créditos sem identificação do depositante, de R$ 10 mil, foi feito uma semana antes do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro adquirir um imóvel em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.
As informações constam do laudo feito pelo Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do Ministério Público no âmbito da investigação sobre "rachadinha" no gabinete de Carlos na Câmara Municipal.
O advogado do vereador, Antônio Carlos Fonseca, afirmou que não iria se manifestar sobre o caso em razão do sigilo da investigação. "Lamento o vazamento do laudo", disse.
A investigação contra Carlos, ainda não concluída, foi aberta após a Folha revelar em 2019 a existência de uma "funcionária fantasma" no gabinete do vereador.
A Justiça autorizou em maio de 2021 a quebra de sigilo bancário de 25 servidores ou ex-servidores da Câmara, e de cinco empresas, para apurar a prática de "rachadinha". Uma das suspeitas é o uso de dinheiro vivo para dificultar o rastreamento do esquema.
De acordo com o documento, a conta bancária de Carlos no Banco do Brasil recebeu oito depósitos em espécie ao longo dos 16 anos sob investigação da Promotoria.
O maior deles ocorreu em janeiro de 2010, quando R$ 45 mil foram depositados em dinheiro vivo sem identificação do depositante.
O único com origem identificada foi o realizado em maio de 2011, quando o próprio vereador realizou um crédito em espécie de R$ 38.450 ?o depositante foi identificado como "Carlos H Bolsonaro", sendo um possível erro de identificação da abreviação do primeiro sobrenome, Nantes.
A primeira entrada não identificada ocorreu em março de 2008, quando R$ 30 mil foram depositados na conta do filho do ex-presidente.
Esse crédito ocorreu num período em que Carlos realizava transferências para uma corretora de valores de São Paulo para a realização de investimentos. Contudo, os dados bancários do vereador indicam que o mesmo montante foi investido na poupança no mês seguinte.
Em 12 de março de 2009, um depósito em espécie de R$ 10 mil foi realizado, mais uma vez, sem identificação. Oito dias depois, Carlos assinou escritura para a compra de um imóvel na avenida Princesa Isabel, em Copacabana, no valor de R$ 70 mil.
Os demais quatro depósitos foram em valores abaixo de R$ 2.000, sendo dois deles, no mesmo dia, com valor de R$ 1.600 cada um.
Os depósitos em espécie guardam semelhanças e diferenças sobre fatos que levaram à denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sob acusação de comandar um esquema de "rachadinha". O caso depois foi arquivado em razão da anulação das provas.
Uma das acusações por lavagem de dinheiro contra Flávio tinha como base justamente uma sequência de depósitos em espécie na conta do senador, quando ainda exercia o mandato de deputado estadual.
Flávio recebeu R$ 159,5 mil em depósitos em espécie não identificados em sua conta bancária. A diferença em relação a Carlos se dá na forma dos créditos. No caso do senador, foram realizados 83 depósitos fracionados, o que, para o MP-RJ, era uma forma de fugir da obrigatoriedade de identificar o depositante.
Um depósito às vésperas da concretização de uma transação imobiliária também foi considerado um ato de lavagem de dinheiro na denúncia contra Flávio.
A conta da mulher do senador, Fernanda, recebeu R$ 25 mil em espécie uma semana antes do pagamento da primeira parcela de um apartamento. Neste caso, o responsável pelo crédito foi identificado: Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema.
A acusação, no caso de Flávio, era de que esses recursos tinham como origem o esquema da "rachadinha", que circulava em dinheiro vivo entre os assessores lotados no antigo gabinete dele na Assembleia Legislativa.
O MP-RJ ainda tenta identificar se o mesmo ocorria no gabinete de Carlos na Câmara Municipal.
As primeiras suspeitas após a produção do laudo recaíram sobre o atual chefe de gabinete Jorge Fernandes, cuja conta bancária recebeu R$ 2 milhões de seis funcionários de Carlos.
A investigação, ainda não concluída, busca analisar se esse dinheiro foi repassado de alguma forma para Carlos, seja em espécie, seja por meio de pagamento de contas pessoais. Informações iniciais indicam que Jorge pagou alguns boletos do vereador.
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