BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um grupo de apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem repetido algumas das táticas dos militantes digitais bolsonaristas, como a publicação de informações distorcidas ou falsas, além de ataques a jornalistas.

Alguns desses influenciadores chegaram a ser recebidos pelo próprio Lula em um café da manhã no Palácio do Planalto.

Além de defenderem o governo nas redes, eles usam uma tática de contra-ataque em momentos de desgaste, usando para isso, por exemplo, mentiras contra a família do antecessor Jair Bolsonaro (PL) para desviar o foco.

Um dos alvos das fake news dos apoiadores de Lula é a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que se tornou presidente do PL Mulher e vem sendo apontada como postulante a algum cargo público. A cada notícia de benefícios e privilégios envolvendo Lula, é contra ela que se volta a carga dos ataques.

Quando a Folha de S.Paulo revelou que o governo havia comprado um sofá de R$ 65 mil e uma cama de R$ 42 mil para o Palácio da Alvorada, essa milícia digital pró-Lula espalhou sem provas a versão de que a família Bolsonaro havia sumido com os móveis da residência oficial.

O influenciador pró-governo Ronny Teles, que conta com quase 1 milhão de inscritos no YouTube e participou de café da manhã com Lula e a primeira-dama Janja no Planalto, divulgou conteúdo nas redes distorcendo uma declaração da ex-primeira-dama.

Ela havia publicado um vídeo rebatendo a história sobre o desaparecimento de móveis do Palácio da Alvorada, indicando que usou seus próprios bens para mobiliar o prédio histórico e que depois os teria levado embora.

O influenciador, no entanto, sugeriu no Twitter que Michelle havia reconhecido que tinha se apropriado de móveis do patrimônio público ?algo que a ex-primeira-dama não disse no vídeo.

"Michelle diz que móveis projetados por Oscar e Anna Niemeyer tirados do Alvorada eram seus e critica Lula", escreveu o influenciador.

À reportagem influenciador nega que tenha divulgado uma fake news.

"O que a gente faz no Twitter é uma pegada mais áspera, mais satírica. Esse vídeo não é na verdade uma desinformação ou uma informação falsa. É uma crítica, é uma sátira ao fato de que existe uma informação de que os móveis que ela carregou não são da casa dela."

"Então quando a gente afirmou assim 'ela admite em vídeo que carregou móveis de Oscar Niemeyer?, o que a gente está fazendo é uma brincadeira, uma provocação", justificou-se o influenciador, que é programador e biomédico.

Ronny Teles afirma que não recebe nenhum privilégio ou repasses do governo. Afirma ser uma "espécie de movimento social, como se fosse uma CUT [Central Única dos Trabalhadores] da internet". E reconhece que tem contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência e que recebe material do governo.

A Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência disse em nota que não tem nenhuma relação institucional com influenciadores e que tampouco tem ingerência no conteúdo publicado por eles.

"Desde o início desta gestão, já foram realizados três cafés da manhã no Palácio do Planalto, eventos que reuniram os mais diversos profissionais de imprensa, entre eles a Folha de S.Paulo, por exemplo. O objetivo é ampliar o debate sobre as ações e programas do governo e, assim, estabelecer uma comunicação mais transparente com a sociedade brasileira", afirma o texto.

O influenciador Thiago Reis também atacou com fake news Michelle Bolsonaro, para rebater as críticas sofridas pela primeira-dama Janja por ter ido a uma loja de luxo em Lisboa, no momento em que o governo pretendia taxar as remessas internacionais de até US$ 50, medida que afetaria a classe mais baixa.

"Michelle ostentando comprando sapato de R$ 20 mil com dinheiro público em Dubai, a imprensa: cri cri cri... Janja comprando com dinheiro próprio uma gravata pro Lula, a imprensa: ESCÂNDALO, COMPRANDO EM LOJA DE LUXO", escreveu o influenciador.

Michelle Bolsonaro integrou comitiva presidencial a Dubai e até fez turismo no Oriente Médio, mas não houve acusações de uso de dinheiro público para comprar sapatos.

O influenciador, que em 367 mil seguidores no Twitter e atua em um canal no YouTube com 1,2 milhão de seguidores. Thiago dos Reis também usa grande parte de suas postagens para atacar a imprensa e o que chama de "jornalixos".

Muitos influenciadores pró-Lula também frequentemente engrossam teorias conspiratórias em relação à facada contra Bolsonaro, durante a campanha eleitoral de 2018.

"Perguntar não ofende: depois da falsificação da carteira de vacinação, alguém duvida da fakeada", escreveu um influenciador pró-Lula nas redes. "Os assessores de Bolsonaro presos pela fraude dos dados de vacinação estavam em Juiz de Fora no dia da fakeada. O golpe começou ali", escreveu outro.

A tese fantasiosa da "fakeada", que foi engrossada pelo site Brasil 247, também alinhado ao PT, já foi defendida pelo próprio ministro Paulo Pimenta, da Secom.

Em entrevista à Folha, em janeiro, ele relativizou e disse que não questiona a facada em Jair Bolsonaro. "A 'fakeada' não é a facada, é a história criada em torno do episódio", afirmou na ocasião.

Outro influenciador importante é João Antônio Marques, que se apresenta como jornalista e empresário nas redes sociais e tem no perfil uma foto ao lado de Lula. Ele tem mais de 40 mil seguidores, mas o que mais lhe rende repercussão é uma página no YouTube chamada Click Política, administrada por ele.

O canal tem 655 mil inscritos e costuma publicar vídeos sobre os acontecimentos políticos da semana com uma visão alinhada à do governo.

Após a queda do ministro Gonçalves Dias, desgastado no GSI pela divulgação das imagens do 8 de janeiro, o influenciador gravou um vídeo no qual culpa, entre outros, a imprensa.

"Qual a certeza que nós temos nesse dia 24 de abril de 2023? A certeza que nós temos é que o general Gonçalves Dias, ex-comandante do GSI é inocente, que o general Gonçalves Dias no governo Lula foi boicotado, utilizaram dos piores instrumentos jornalísticos para derrubar alguém que não estava mancomunado com os bolsonaristas naquele fatídico dia", afirmou, assim como outros apoiadores de Lula, que passaram a atacar abertamente o jornalista da CNN Brasil que teve acesso aos vídeos.

O influenciador não chega a divulgar informações falsas, mas detém fama com vídeos que sempre trazem uma suposta "bomba" contra o lado bolsonarista.

Marques deixa claro em seus comentários que mantém uma relação próxima com o governo e com pessoas importantes do PT.

Em uma gravação publicada no domingo (30), por exemplo, ele conta que teve uma reunião com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), e outra com uma "equipe técnica" da Secretaria de Comunicação do Executivo.

Além disso, há parlamentares e políticos ligados ao PT que têm melhor desempenho nas redes e que desempenham papel relevante na defesa da gestão Lula. Um deles é o deputado federal André Janones (Avante-MG), que chegou a ser pré-candidato a presidente, mas recuou para apoiar Lula.

De perfil combativo, costuma dar respostas ríspidas e já foi criticado, inclusive por petistas, por recorrer a notícias distorcidas e sensacionalistas sobre seus opositores.


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