BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve prestar depoimento à Polícia Federal na próxima terça-feira (16) no âmbito que investiga fraude em carteiras de vacinação no sistema do Ministério da Saúde.

No último dia 3, o ex-chefe do Executivo foi intimado a depor durante busca e apreensão cumpridas em sua residência em Brasília. Mas a defesa disse na ocasião que ele não iria e que aguardava acesso aos autos antes de remarcar o depoimento.

O relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Alexandre de Moraes, autorizou acesso aos autos no final da semana passada. A partir de segunda (8), advogados da defesa de Bolsonaro se revezaram para ler as de páginas do inquérito.

De acordo com interlocutores do ex-mandatário, o depoimento agora foi remarcado para a próxima terça. Bolsonaro tem na sua defesa os advogados Paulo Cunha Bueno, Eduardo Kuntz, Daniel Tesser e Marcelo Bessa.

A medida ocorre no âmbito de uma investigação sobre uma suposta "associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde."

No início do mês, além da operação de busca e apreensão na casa do ex-mandatário, a PF também prendeu seus assessores Mauro Cid e Max Guilherme. Outro alvo de mandado de prisão foi Sergio Cordeiro, que atuava na equipe de segurança de Bolsonaro.

De acordo com a Polícia Federal, os alvos da investigação são suspeitos de realizar inserções de informações falsas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.

Há suspeita de que os registros de vacinação de Bolsonaro, Cid e da filha mais nova do ex-presidente, Laura, teriam sido forjados.

Aliados de Bolsonaro, contudo, usam como argumento o fato de que o então presidente não esteve no Palácio do Planalto nos dias em que o seu cartão de vacina foi acessado no sistema do SUS por meio de um endereço IP da Presidência da República.

Dizem também que ele não teve conhecimento da fraude, do acesso e da impressão do cartão de vacina, apesar dos indícios apontados pela PF. O próprio Bolsonaro afirmou, no dia da operação, que não se vacinou.

"Não tomei a vacina. Nunca me foi pedido cartão de vacina [para entrar nos EUA]. Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso. Havia gente que me pressionava para tomar, natural. Mas não tomava, porque li a bula da Pfizer", disse o ex-chefe do Executivo.

As vacinas contra a Covid, como a da Pfizer, são seguras e tiveram sua eficácia comprovada em estudos científicos. Foram aplicadas mais de 6 bilhões de doses em todo o mundo.

Bolsonaro foi crítico da vacinação contra o coronavírus, espalhou mentiras sobre o tema e sempre disse não ter se imunizado. Na esteira da operação da semana passada, ele afirmou ter reiterado aos próprios policiais que nunca se vacinou.

Defensores de Bolsonaro também dizem que sua posição contra vacina é amplamente conhecida e que qualquer tentativa de entrar num país estrangeiro com um certificado de imunização geraria no mínimo estranhamento entre as autoridades alfandegárias.

Além disso, a defesa conta com a admissão de culpa do tenente-coronel Mauro Cid.

Aliados do ex-mandatário avaliam que Cid não terá alternativa a não ser reconhecer ter adulterado certificados de imunização. Ao mesmo tempo, advogados de Bolsonaro buscam desvinculá-lo do episódio.

A avaliação de interlocutores do próprio ex-presidente ouvidos pela reportagem é que a investigação da Polícia Federal trouxe elementos robustos e difíceis de serem refutados por Cid. Eles citam, por exemplo, as trocas de mensagens e os acessos do próprio celular do militar à conta do então mandatário no aplicativo do ConecteSUS.


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