BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O corregedor-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Benedito Gonçalves, voltou a defender nesta terça-feira (27) a inclusão, na ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da minuta golpista aprendida em janeiro deste ano na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
Benedito é o relator da ação que pode tornar Bolsonaro inelegível por oito anos. Ele começou a apresentar os argumentos para seu voto na noite desta terça, no segundo dia de julgamento do TSE.
Julgamento de Bolsonaro no TSE: datas, qual a acusação e outras dúvidas respondidas A minuta apreendida pela PF tratava da decretação de um estado de defesa após a eleição de Lula, e sua inclusão no processo é questionada pela defesa de Bolsonaro.
Depois que Benedito finalizar, será a vez dos outros seis integrantes da corte eleitoral votarem. A expectativa é que que a conclusão do julgamento seja na próxima sessão, marcada para as 9h de quinta-feira (29).
A ação protocolada pelo PDT mira Bolsonaro e Walter Braga Netto, ex-ministro que foi candidato a vice na chapa derrotada do PL à Presidência em 2022. O ex-presidente é acusado de ter cometido abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião com embaixadores realizada em julho do ano passado.
Depois de Benedito, votarão os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares e, por fim, os membros do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes.
O cenário é considerado adverso para Bolsonaro, e a tendência é que ele seja declarado inelegível. O advogado do ex-presidente, Tarcísio Vieira de Carvalho, já admite recorrer ao STF em caso de derrota no TSE.
Ao defender a punição para Bolsonaro no primeiro dia de julgamento, na última quinta (22), a representação jurídica do PDT argumentou que houve tentativa de golpe de Estado.
O evento com os embaixadores durou cerca de 50 minutos e foi transmitido pela TV Brasil. Na ocasião, a Secretaria de Comunicação do governo barrou a imprensa, permitindo apenas a participação dos veículos que se comprometessem a transmitir o evento ao vivo.
O vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet Branco, considerou a reunião com embaixadores como algo grave, com o objetivo de criar desconfiança sobre as eleições e deslegitimar um eventual resultado negativo nas urnas para Bolsonaro.
"O discurso ganhou difusão nacional por meio de televisionamento em TV federal e nas redes sociais. O discurso, portanto, também se dirigiu ao conjunto da população brasileira e não apenas para o corpo diplomático", afirmou na semana passada.
O procurador disse ainda que o chefe do Executivo tem poder para convocar reunião com embaixadores, mas que esse "poder não é ilimitado".
"O evento, não obstante a sua primeira aparência, foi deformado de forma eleitoreira, traduzindo desvio de finalidade."
Segundo ele, a reunião foi arregimentada para criar desconfiança da comunidade internacional e dos cidadãos brasileiros em um sistema de votação legítimo, por meio de alegações inverídicas.
Gonet, porém, não considerou que Braga Netto deve se tornar inelegível e não viu abuso na atuação do ex-ministro em relação ao evento.
A ação contra Bolsonaro é uma Aije (ação de investigação judicial eleitoral), que pode ser apresentada até a data da diplomação do candidato.
Esse instrumento tem como objetivo apurar condutas que possam afetar a igualdade de disputa na eleição, como abuso de poder econômico, de autoridade ou uso indevido dos meios de comunicação social em benefício de um candidato.
Uma das linhas da defesa de Bolsonaro tem sido sustentar que as falas do evento foram feitas enquanto chefe de Estado e como ato de governo, tendo o objetivo de "dissipar dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral".
Além disso, apontam que o público-alvo do evento não eram eleitores, mas pessoas sem cidadania brasileira.
Segundo Tarcísio Vieira, a ação movida pelo PDT é "impostora e eivada de falsidade ideológica" e não está em julgamento o movimento político representado pelo ex-mandatário.
"Não está em julgamento, como quer se fazer crer, o bolsonarismo, não se está a arbitrar uma disputa sangrenta imaginária entre civilização e barbárie", disse.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Bolsonaro admitiu a possibilidade de ficar inelegível e disse que, mesmo fora da urna, pretende seguir na vida pública. Sinalizou, ainda, que pode passar um tempo fora do Brasil.
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