RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - A corrida eleitoral pela Prefeitura do Recife nas eleições de 2024 tem mais dúvidas do que certezas na oposição e uma busca do atual prefeito, João Campos (PSB), em acenar à esquerda, sobretudo ao PT, para se consolidar na tentativa da reeleição.
A eleição da capital pernambucana deve se concentrar em um tripé, com os palanques do atual prefeito, de uma candidatura apoiada pela governadora Raquel Lyra (PSDB) e pelo bolsonarismo. Há ainda a possibilidade remota de uma candidatura própria do PT, que governou a cidade de 2001 a 2012.
Na busca para cacifar a reeleição, Campos assumiu diretamente a articulação política para montar um palanque robusto de partidos no próximo ano.
Depois da derrota do PSB para o Governo de Pernambuco em 2022, o mandato do gestor no Recife é tido como a vitrine para o partido ter fôlego. Se ganhar em 2024, o PSB irá para o quarto mandato seguido na capital. O prefeito tem apoio assegurado de siglas como PDT, PC do B, MDB e Republicanos.
João espera contar ainda com o apoio do PT, legenda do presidente Lula, que consolidaria em bloco o apoio de PC do B e PV, que integram uma federação partidária com os petistas.
O partido é tido como essencial para Campos, que quer ser reeleito no primeiro turno e com folga, para ter mais tempo de propaganda eleitoral de rádio e televisão, além de ter a pecha de "candidato de Lula" no Recife.
De um lado, o prefeito adaptou a forma de atuação, evitando abordagens sobre concessões, reformas e privatizações e investindo em publicações de encontros com Lula nas redes sociais. Em 2020, Campos usou o antipetismo como estratégia eleitoral na disputa do segundo turno contra a sua prima Marília Arraes, então filiada ao partido do atual presidente.
Já o PT, que participa do governo com duas secretarias desde março, quer ocupar a vice na chapa de João em 2024, tendo como pano de fundo as eleições de 2026. O partido não admite publicamente, mas trabalha nos bastidores para garantir a vaga.
Para a sigla, se João Campos for reeleito e se candidatar a governador em 2026, um petista assumiria a prefeitura. Já se o prefeito decidir completar um eventual segundo mandato, o PT quer receber o apoio de João para seu candidato a governador.
João, no entanto, tem como vice dos sonhos o presidente da Câmara de Vereadores do Recife, Romerinho Jatobá (PSB). Para afastar possíveis críticas de formarem uma chapa unipartidária, o prefeito cogita filiar Romerinho a um partido aliado, como Republicanos ou MDB.
Na gestão, o prefeito tem a seu favor a melhoria das contas públicas e trabalha para reverter críticas após as chuvas de 2022, que levaram desgaste aos mandatários do Grande Recife após as 133 mortes.
O empréstimo de R$ 2 bilhões, obtido via BID, é tido como chave para a ampliação da popularidade de Campos. O montante será destinado principalmente para obras em áreas de morros, mas possibilitará outros investimentos na cidade.
Na oposição, o PL deverá ter um candidato próprio à prefeitura da cidade. O mais cotado para representar o campo bolsonarista é o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto, derrotado para o Senado em 2022.
Gilson usa como argumento para ser o candidato o fato de ter tido 323.769 votos para o Senado no Recife, cerca de 40 a mil a menos que a atual senadora Teresa Leitão (PT), que obteve 362.356 votos.
Porém, o nome de Gilson não é unanimidade no PL. Ele tem o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro para o pleito, mas o partido é comandado no estado pelo ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira, ligado ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto.
Em maio, Anderson Ferreira indicou que poderia apoiar uma candidatura de Gilson Machado no Recife, mas aliados dele dizem ainda não haver ponto pacificado. O grupo de Anderson, que disputou o governo estadual em 2022, também tenta convencer Gilson a disputar o cargo de vereador para ser o puxador de votos de uma bancada expressiva do PL no Recife. O ex-ministro do Turismo resiste a essa hipótese.
Nas eleições de 2022, Bolsonaro obteve 43% dos votos no Recife, ante 57% de Lula. A avaliação de aliados de Gilson é que será difícil uma vitória no Recife, mas que uma eventual derrota com capilaridade eleitoral pode funcionar como espólio político para 2026.
Outros possíveis candidatos do PL são os deputados estaduais Alberto Feitosa e Renato Antunes. Os argumentos a favor de Renato são de que ele não teria o discurso radical de Gilson e poderia formar um arco de alianças mais amplo que o ex-ministro.
Outro palanque na eleição do Recife será o do grupo da governadora Raquel Lyra (PSDB). No atual momento, o nome mais cotado para ser o candidato dela é o secretário de Turismo de Pernambuco e ex-deputado federal Daniel Coelho (Cidadania).
Daniel, inclusive, foi adepto à ideia de assumir a Secretaria de Turismo em janeiro por avaliar que pode fazer entregas no município a curto prazo, antes da eleição municipal.
A vice-governadora Priscila Krause (Cidadania), que já foi candidata a prefeita em 2016, é outro nome cotado, mas há um temor no Palácio do Campo das Princesas de que uma eventual derrota dela leve um peso negativo direto para a governadora. Por outro lado, pesa a favor de Priscila um possível aceno ao eleitorado feminino.
Ainda não há certeza em aliados de Raquel Lyra se ela entrará diretamente na disputa do Recife. Interlocutores afirmam que o foco principal da governadora está na gestão do estado e no fortalecimento do PSDB no interior do estado, com a possível filiação de prefeitos que tendem a sair do PSB, fora do poder ao nível estadual.
Outro aliado de Raquel Lyra que tem o desejo de ser candidato é o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede). Porém, o parlamentar terá que travar uma batalha interna com o PSOL, que forma uma federação com a Rede. Os psolistas refutam uma eventual aliança com o grupo de Raquel e querem lançar o vereador Ivan Moraes ou a deputada estadual Dani Portela, líder da oposição a Raquel Lyra e ex-vereadora do Recife.
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