SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pouco depois de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter sido condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o julgamento e a inelegibilidade do líder por oito anos já não eram mais destaque entre os bolsonaristas nas redes sociais.

De outro lado, ganharam espaço ataques ao governo Lula (PT) e comparação com a gestão de Bolsonaro à frente do Executivo. Também o debate em torno da reforma tributária, vista como "reforma do PT", rendeu engajamento, sendo um dos picos na última semana relacionados ao nome de Bolsonaro.

No dia seguinte ao julgamento, em 1º de julho, eram pouco mais de 65 mil menções diretas sobre o assunto; no dia 11, esse número ficou abaixo das 2.000 citações. Nesta mesma data, críticas ao PT por bolsonaristas totalizavam mais de 10 mil menções.

É o que relata monitoramento feito pela Quaest, empresa de pesquisa e consultoria. Houve coleta de menções ao ex-presidente em publicações no Twitter, Instagram, Facebook, YouTube e Google, que foram classificadas a partir de um modelo de aprendizagem de máquina. A coleta dos dados ocorreu entre 1º de março a 11 de julho deste ano.

As referências a Bolsonaro, de modo geral, despencaram em quantidade absoluta desde a data em que foi condenado. Mesmo levando essa queda em consideração, o debate sobre a inelegibilidade proporcionalmente passou a representar parcela bastante reduzida das menções ao ex-chefe do Executivo, tendo praticamente sumido.

Apesar de a inelegibilidade, em si, não estar sendo alvo de comoção, as postagens de apoio ao presidente seguem tendo relevo proporcionalmente, com uso de expressões como "meu líder" e "meu capitão". A hashtag #bolsonaro2026 chegou a aparecer nos primeiros dias após o julgamento, mas depois também minguou.

Outras menções, como nas hashtags #bolsonaroorgulhodobrasil, #fechadocombolsonaro e #somostodosbolsonaro, foram relevantes após a condenação, além da fala "somos sementes", em referência a um vídeo de parlamentares apoiados por Bolsonaro e publicado nas redes.

As referências ao ex-presidente após ter sido vetado das urnas foram alavancadas principalmente por três episódios: uma aparição na Jovem Pan, o desentendimento público com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e live do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), em que Bolsonaro fez uma participação.

Na entrevista à emissora, em 3 de julho, Bolsonaro evitou falar sobre a possibilidade de se tornar cabo eleitoral e dar espaço a novos nomes na direita, mantendo-se no radar ao dizer que não tinha morrido politicamente.

"Eu tô na UTI, não morri ainda. [Não é justo] Alguém já querer dividir meu espólio", afirmou Bolsonaro.

Com Bolsonaro declarado inelegível, abriu-se oficialmente a disputa sobre qual nome da direita será o sucessor do ex-presidente e liderará a oposição no pleito de 2026. Principal nome cotado, Tarcísio foi um dos assuntos protagonistas nas menções a Bolsonaro entre os dias 6 e 7 de julho.

Ele foi alvejado pela direita após ganhar espaço nas negociações pela reforma tributária com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Tarcísio tentou convencer o PL a votar em favor da proposta, mas foi contrariado pelo PL e pelo próprio Bolsonaro, sendo classificado como traidor. A reforma foi aprovada na Câmara dos Deputados em 7 de julho.

No período analisado, a data de encerramento do julgamento de Bolsonaro representou o pico de menções a seu nome, e dividiu as interações entre os favoráveis e os contrários à decisão.

Conforme os dados da empresa de consultoria e pesquisa, o número de menções a Bolsonaro dentre os favoráveis à condenação do ex-presidente foi maior que os defensores da manutenção da elegibilidade, apesar da menor distância entre os dois grupos.

O segundo pico também foi negativo, tendo ocorrido quando irrompeu o escândalo envolvendo a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro --as menções foram muito maiores entre os que criticaram o ex-presidente do que entre os que o defenderam.

Apenas a volta do ex-presidente ao país após meses nos Estados Unidos teve amplo engajamento digital entre os que comemoraram sua volta. Segundo a Quaest, o assunto teve 1,2 milhões de menções, ante 642 mil registradas quando Bolsonaro desembarcou.

Segundo Guilherme Russo, diretor de inteligência da Quaest, os bolsonaristas mudaram de estratégia digital, passando a direcionar mais esforços para criticar o governo Lula como forma de manter o engajamento ativo, com pautas capazes de chamar a atenção do eleitor.

Para ele, a estratégia usada por apoiadores de Bolsonaro para assuntos como o ataque às urnas eletrônicas, a ideia de perseguição política e até um perigo comunista remete a uma resposta aos reveses do ex-mandatário, evitando maior desgaste entre seus oposicionistas.

Essa resposta, segundo Russo, de caráter imediato e visando proteger o ex-presidente, logo dá espaço ao engajamento de maior apoio, mais positivo, e isso envolve demonstrar negatividade entre as pautas que o governo petista tem levado durante o mandato.

"Em vez de falar da inelegibilidade, que é um tema factual, e os bolsonaristas sabem que não dá para resolver, eles mudam a narrativa para mostrar que Bolsonaro está vivo apesar da situação imposta. Os bolsonaristas, agora, centram o apoio deles em uma coisa muito mais positiva", diz o diretor.

Ele pontua, porém, a dificuldade dos eleitores do ex-presidente em defendê-lo nas redes quando situações adversas ocorrem, o que é visto no escândalo da fraude nos cartões de imunização.

"Toda vez que acontecem notícias negativas a Bolsonaro, contra seu legado, os bolsonaristas sofrem mais na internet, tem dificuldade de emplacar narrativas, o que consequentemente faz a atividade digital diminuir", completa.


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