BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O recém-nomeado ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA), afirma que a imagem do centrão deixou de ser pejorativa e passou a representar ponderação em um ambiente politicamente polarizado.

Sabino é aliado do líder do centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e assume a pasta após semanas de negociações políticas entre o grupo parlamentar e o presidente Lula (PT).

"Hoje o centro político tem uma importância e uma relevância muito grande para qualquer governante", disse o ministro em entrevista à reportagem.

Para ele, a composição política com partidos do Congresso é natural da democracia e as emendas são instrumentos constitucionais. O bloco de congressistas dava sustentação ao governo Jair Bolsonaro (PL) e agora tem se beneficiado com a liberação de verbas por Lula.

À frente do ministério, Sabino pretende lançar um plano de desenvolvimento do turismo e criar medidas para hospedagem barata para quem for beneficiado pelo programa de passagem aérea de R$ 200, prometido pelo governo.

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PERGUNTA - Por que houve demora no anúncio para oficializar a troca da ex-ministra Daniela Carneiro pelo senhor?

CELSO SABINO - Foi uma dificuldade de agendas. Acho que o presidente viajou duas vezes. As lideranças do nosso partido viajaram também. Quando o presidente esteve lá em Belém, no Pará [em 17 de junho], a gente já teve uma conversa onde já ficou definido. Estava dependendo dessa conciliação de agendas. Na semana passada, a gente conseguiu.

P - O que o presidente pediu ao sr. a partir do momento em que virasse ministro?

CS - No Pará, nós conversamos muito sobre turismo. Ele falou das preocupações dele, do potencial que o turismo tem para o nosso Brasil. E deu algumas sugestões, de algumas pessoas que eu poderia conversar, como o ex-ministro Walfrido [dos Mares Guia].

O presidente pediu que a gente faça com que o país passe a ter o turismo também como um importante gerador de riqueza e de emprego. Ele pediu para olhar a questão da sustentabilidade, do turismo, do ecoturismo com sustentabilidade, e sobre a COP-30.

P - Quais os planos do sr. para o ministério?

CS - Nós começamos já desde ontem [segunda-feira] a formatar um Plano de Desenvolvimento Nacional do Turismo, com metas e avaliação de ações. Pretendemos ouvir os atores que operam nessa atividade. A ideia é entregar o plano até o fim de setembro, a gente tem muito para crescer. Tenho a convicção de que nós podemos e vamos conseguir fazer com que o turismo signifique um novo pré-sal em termos de geração de riqueza para o Brasil.

P - O Ministério do Turismo tem uma limitação orçamentária, com uma das menores verbas da Esplanada.

Como superar essa limitação?

CS - Vamos trabalhar o turismo exatamente como sendo uma política transversal, dialogar com os outros ministérios, buscar parcerias. Estive ontem com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo. Queremos fazer uma recomposição orçamentária [no ministério] da ordem de R$ 500 milhões.

Além disso, nós começamos a elaborar, já desde ontem, um cardápio de propostas para apresentar aos parlamentares, senadores e deputados. Então, a gente tem aqui um projeto para melhorar ainda mais o potencial turístico, quer seja a construção de um centro de convenções, um anfiteatro, um ambiente de convivência turístico, um acesso a uma praia. O objetivo é atrair emendas parlamentares para o Ministério do Turismo. E vamos dar a celeridade máxima para atender os parlamentares com as emendas que eles destinarem para cá.

P - Uma das críticas das emendas é que, às vezes, acaba direcionando recursos para redutos de políticos da base do governo e aliados, em vez de destiná-los a cidades mais necessitadas. Como resolver essa questão?

CS - O percentual que é destinado às emendas parlamentares é um percentual constitucional. Em relação ao parlamentar destinar uma emenda para o local onde foi mais votado... Você queria que ele destinasse para onde foi menos votado?

P - Com a troca no Ministério do Turismo, o sr. acha que a União Brasil dará mais votos ao governo?

CS - Nosso partido tem votado majoritariamente a favor dos projetos que entende que são importantes para o Brasil. O voto de cada deputado pertence ao mandato de cada deputado.

É claro que há uma disposição de ampliar o diálogo. Há agora uma perspectiva de que o diálogo seja mais eficiente, que os parlamentares na Câmara possam participar de uma forma mais decisiva da elaboração de políticas. E você tende a ser favorável àquilo que foi você que ajudou a construir.

P - A União Brasil seguirá com o discurso que é independente ou isso irá mudar?

CS - Acredito que a União Brasil vai continuar sendo responsável e votando na sua quase totalidade a favor dos projetos que são importantes para o Brasil.

P - O sr. acaba sendo citado como um exemplo de que o centrão agora entra no governo Lula.

CS - Hoje o centro político tem uma importância e uma relevância muito grande para qualquer governante. Nós viemos de uma eleição muito polarizada, muito radicalizada e o centro político é o pêndulo ali que pode ajudar o Brasil a crescer.

Antigamente se falava no centrão como uma coisa pejorativa. Agora o centrão já está virando uma coisa positiva. Eu me considero uma pessoa ponderada. Não busco os extremos, mas quero fazer aquilo que seja o melhor para o nosso país, políticas sociais que são importantes para o Brasil.

P - O que torna o centrão hoje positivo?

CS - As pessoas estão começando a entender que a ponderação é um caminho positivo. É um caminho que você tem coisas positivas que podem ser agregadas com a ponderação.

P - Mas o grupo também é associado a negociações de ministérios e emendas.

CS - É natural, praticamente todos os países onde reina a democracia há composições no governo. Não vejo isso como alguma coisa antidemocrática ou antirrepublicana.

É natural que haja esse tipo de composição para elaboração de políticas públicas, para composição ministerial. Eu pretendo aqui no Ministério do Turismo dar uma grande contribuição para o Brasil, para o governo do presidente Lula e ajudar a mostrar também que a União Brasil possui bons quadros.

P - O sr. é próximo a Lira. Como enxerga a relação dele hoje com o governo?

CS - Ele é uma pessoa muito republicana, ele preza pela democracia e demonstrou isso na resposta que deu aos atentados que aconteceram no dia 8 de janeiro. Ele, claro, se preocupa muito em prestigiar os deputados, porque são os deputados que elegem ele como presidente. Não vejo ele como uma pessoa que causa embaraço ao governo.

P - O sr. defende mais espaço para a União Brasil na Esplanada?

CS - Defendo que desenvolva um grande plano de turismo e que a gente faça a reformulação do Conselho Nacional do Turismo, que é um conselho que foi muito bem-sucedido na época do Walfrido. Com reuniões trimestrais, ouvindo o conselho para decisões importantes do ministério.

P - O sr. disse que esteve com Marcelo Freixo. O sr. irá mantê-lo à frente da Embratur, que é cobiçada pelo centrão?

CS - Eu aguardo aí a composição que está sendo construída com o presidente, com as lideranças do partido.

Acho que é natural, você vê partidos políticos que têm uma participação em algum tipo de política, com ministérios até maiores do que esse, e possuem uma participação do início ao fim. E eu vejo que é natural esse pleito da União. Eu não sei como é que vai se dar esse desfecho. Estamos aguardando o presidente retornar [de viagem] e as conversas retomarem.

P - O sr. vai defender que a União Brasil fique com a Embratur?

CS - Conversei ontem [segunda] bastante com Freixo. Mas nós falamos sobre política de turismo, sobre a agenda que tem ainda até o final do ano, sobre a participação dele também na construção desse plano que a gente está fazendo. Sou uma pessoa do diálogo, então vamos aguardar o melhor fechamento disso.

P - Quais as prioridades para a COP-30 [que será promovida em Belém, em 2025]?

CS - A COP [conferência da ONU sobre mudanças climáticas] vai ser positiva para o Brasil inteiro, não só para Belém. A região inteira vai servir de apoio logístico para Belém.

A perspectiva é de que ela deixe, assim como outros eventos de grande porte deixam, um legado para a região, um legado de aparelhos turísticos, de receptivo. O Brasil inteiro vai respirar esse momento, vai se beneficiar da realização do maior evento sobre mudanças climáticas e preservação do meio ambiente que ocorre no mundo. A perspectiva é receber em Belém mais de 80 mil visitantes no período da COP. Já foram anunciados investimentos e outros ainda vão ser anunciados.

P - O sr. já pensa em algum projeto em parceria com outros ministros?

CS - Tive reunião com o ministro Márcio França [Portos e Aeroportos]. É uma iniciativa muito nobre, muito positiva esse programa de passagens de R$ 200.

E eu já fiz contato com representantes da ABIH [Associação Brasileira da Indústria de Hotéis], que é a maior associação dos hotéis do Brasil, no sentido de nós lançarmos um programa também junto com esse das passagens, para que essas mesmas pessoas que tenham a possibilidade de se beneficiar dessas passagens possam também ter desconto nos hotéis.

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RAIO-X

CELSO SABINO, 44

Deputado federal desde 2019, se licenciou do cargo para ocupar o Ministério do Turismo. É advogado e atuou como auditor fiscal. Aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira, ele conseguiu posições relevantes nas discussões orçamentárias do Congresso logo no primeiro mandato.


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