BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-ministro das Comunicações Fábio Faria enviou no dia seguinte ao segundo turno das eleições de 2022 um email com a proposta de discurso do então presidente Jair Bolsonaro (PL) reconhecendo a derrota para o presidente Lula (PT).

O texto nunca foi lido publicamente por Bolsonaro, cuja primeira fala após perder a disputa eleitoral ocorreu no Palácio da Alvorada, em 1º de novembro, sem mencionar Lula nem fazer nenhuma referência à derrota.

O email enviado por Faria foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pela Folha. Ele foi enviado às 16h de 31 de outubro e endereçado ao ex-ajudante de ordens Daniel Lopes de Luccas e ao ex-ministro das Relações Exteriores Carlos França.

Se tivesse seguido a redação sugerida por Fábio Faria, Bolsonaro teria prometido não contestar o resultado das eleições. O texto colocava Bolsonaro como alguém vítima "do sistema".

"Todos são testemunha do quão desigual foi o processo eleitoral. Começaram por tornar elegível alguém condenado em várias instâncias do Poder Judiciário. Mascararam a exitosa retomada econômica do Brasil em relação ao mundo pós pandemia. Ao contrário, focaram na desconstrução das minhas falas e em falsas narrativas", diz trecho do email em posse da CPI do 8/1.

O discurso no email também se queixava de "manipulação dos institutos de pesquisa e da grande mídia" e do bloqueio dos "grandes perfis de direita" nas redes sociais.

Apesar disso, o texto trazia um reconhecimento da derrota. "Mesmo assim, a diferença no resultado da votação em favor de meu adversário foi de apenas 1,8%. Estou certo de que, se houvesse imparcialidade e igualdade de tratamento, o resultado seria muito diferente."

"Eu sempre disse que o Brasil está acima de tudo e Deus acima de todos e que daria minha vida pelo Brasil. Por esse motivo, não contestarei o resultado das eleições", diz trecho do discurso que não foi lido por Bolsonaro.

O pronunciamento realmente feito por Bolsonaro ocorreu no dia 1º teve pouco mais de 2 minutos.

Ele afirmou que havia "indignação e sentimento de injustiça" com o processo eleitoral, em alusão aos protestos de apoiadores que fechavam rodovias no país em manifestação contra o resultado, e criticou os bloqueios.

"Somos pela ordem e pelo progresso", disse na ocasião, repetindo o lema da bandeira nacional e dizendo-se favorável a "manifestações pacíficas".

"Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição", disse Bolsonaro na ocasião.

"É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira. Muito obrigado".


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