BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Dados do Ministério da Justiça indicam que o ex-diretor Silvinei Vasques omitiu da CPI do 8 de janeiro mais de 200 pontos de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal no dia do segundo turno das eleições de 2022.

Ao tentar rebater a suspeita de uso político da corporação em prol de Jair Bolsonaro (PL), ele informou na ocasião à comissão que a PRF atuou em 694 locais. Números do ministério, porém, indicam que a quantidade de pontos de fiscalização foi bem superior, totalizando 911.

Enquanto o Ministério da Justiça, já sob o comando de Flávio Dino (PSB), identificou 290 pontos de fiscalização no Nordeste em 30 de outubro, Silvinei informou à comissão 228 pontos na região na mesma data.

O depoimento de Silvinei no Congresso ocorreu no dia 20 de junho.

Durante o segundo turno, as operações da PRF no Nordeste superaram as do Sudeste. Nesta última região, que concentra mais de 40% dos eleitores do país, foram 161 pontos de fiscalização, segundo Silvinei, e 191, segundo o Dino --quase cem a menos na comparação com o Nordeste.

O ex-diretor foi preso nesta quarta-feira (9) por suspeita de interferência da PRF no processo eleitoral. A ordem de prisão preventiva foi expedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal). São cumpridos também mandados de busca e apreensão.

O policial foi um dos diretores mais próximos de Bolsonaro e chegou a ser convocado, sob o risco de ter a prisão decretada, a dar explicações ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, sobre a atuação do órgão no segundo turno.

A Folha de S.Paulo revelou que a PRF ampliou naquele dia o número de abordagens a ônibus, descumprindo uma decisão do TSE que proibia operações que envolvessem transporte público.

Foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado principalmente à região Nordeste, colégio eleitoral então mais favorável a Lula (PT) nas intenções de voto.

Os números do segundo turno enviados por Silvinei à CPI divergem dos oficiais em todas as regiões do país. Foram 153 pontos de fiscalização no Centro-Oeste, segundo o ministério, contra 118 na versão de Silvinei. Ele também informou 74 locais a menos no Sul e 16 no Norte.

As contradições foram levantadas pelos deputados federais Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Erika Hilton (PSOL-SP) e enviadas a Moraes após o depoimento do ex-diretor da PRF, em junho.

Os parlamentares também compararam o número de fiscalizações em cada região do país a partir de um ofício recebido pela bancada do PSOL em 30 de dezembro. O documento é assinado pelo então número dois do Ministério da Justiça de Bolsonaro, Antônio Lorenzo.

Segundo o ofício, a PRF realizou 55 mil fiscalizações no Nordeste em 30 de outubro --número que colocou a região em primeiro lugar no país, com 29% do total. O Centro-Oeste vem em segundo com 37 mil fiscalizações, seguido pelo Sudeste, com 33 mil.

Mesmo diante dos dados, Silvinei afirmou à CPI em junho que a região "onde mais se fiscalizou" foi a Sudeste. O ex-diretor da PRF colocou o Sul em segundo lugar, o Centro-Oeste em terceiro e o Nordeste em quarto, empatado com o Norte.

No mesmo dia, Silvinei disse à comissão que as operações se concentraram no Nordeste porque a região tem a maior quantidade de unidades da PRF, "a maior malha viária de rodovias federais, o maior número de acidentes e a maior frota de ônibus no Brasil".

"A porcentagem de ações de fiscalização não foi distribuída de forma equitativa entre as regiões, significando a desigualdade no tratamento dos eleitores. Isso mostra a falta de garantia da igualdade de condições para todos os eleitores, independentemente de sua localização geográfica", argumentam os deputados.

Vieira e Hilton também lembram que Silvinei pediu votos para Bolsonaro um dia antes do segundo turno. Na ocasião, ele publicou uma foto da bandeira do Brasil em seu perfil no Instagram com a frase "Vote 22. Bolsonaro presidente". A postagem foi apagada posteriormente.


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