BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em mais um entrave para a reforma ministerial planejada pelo presidente Lula (PT), o PP tem resistido a aceitar o Ministério do Esporte, como o governo ofereceu, e tenta turbinar a pasta com novas secretarias para aceitar a proposta do petista.
Em outra frente, Lula se reuniu nesta terça (5) com o vice-presidente Geraldo Alckmin para tentar desatar o nó com o PSB. O petista quer que a sigla de seu vice abra mão do ministério de Portos e Aeroportos para acomodar outro possível aliado do centrão, o Republicanos.
O impasse com o PP chegou ao ponto de integrantes da cúpula do partido e do próprio governo lançarem dúvidas se a negociação de fato vai prosperar. Há uma ala do partido, ligada ao presidente da sigla, Ciro Nogueira (PI), que deseja que a articulação dê errado.
Negociadores políticos do Planalto, no entanto, estão empenhados em concluir o desenho da reforma ministerial até esta quarta (6). No dia seguinte, Lula participa do Desfile da Independência em Brasília e depois embarca para a Índia, para a cúpula do G20.
Lula tem tentado preparar o terreno para a entrada do PP na Esplanada e se reuniu, no início da noite desta terça, com a ministra Ana Moser (Esporte). A expectativa de auxiliares era que Lula a comunicaria da decisão de substituí-la. Mas a ministra disse a interlocutores que o presidente a comunicou que ainda não tomou uma decisão sobre o desenho final da Esplanada.
As secretarias pleiteadas pelo PP para turbinar o Ministério do Esporte são de temas ligados a empreendedorismo e assistência social. O Planalto, por sua vez, teria topado criar apenas uma, relacionada ao setor de games.
O partido ainda reivindica a criação de um Fundo Nacional do Esporte, que seria abastecido com parte da arrecadação proveniente da tributação de apostas -algo que enfrenta resistência no governo.
O PP quer que o governo faça um compromisso de que o setor de apostas ficará no Ministério do Esporte, embora a previsão inicial fosse de que iria para o Ministério da Fazenda.
O Planalto, porém, avisou aos parlamentares do PP que caberá a eles conseguir fazer a articulação no Congresso para garantir a ida para o Esporte da Secretaria de Apostas, o que irritou o partido.
O líder do PP na Câmara, André Fufuca (PP-MA), que deve ser o indicado para assumir o ministério, avisou ao governo que a bancada no Congresso rejeita assumir o Esporte caso ele não seja turbinado. Por outro lado, deputados dizem que nem sequer foram consultados sobre a proposta.
"A forma com que o Fufuca está conduzindo e afirmando que tem consultado a bancada pode no final prejudicar o governo. Os deputados que já votam no governo podem não continuar votando, se houver chateação, pode deixar de votar do governo", avalia o deputado Dudu da Fonte (PP-PE).
A reforma ministerial negociada entre partidos do centrão e Lula tem como objetivo abrir espaço no primeiro escalão do governo, em troca de apoio no Congresso. As conversas, no entanto, se arrastam há mais de dois meses.
Até o final de semana, a possibilidade de o PP assumir Esporte era a mais provável no xadrez da reforma.
Contudo, a demora do Planalto em bater o martelo tem alimentado dissidências na bancada do PP. O senador Nogueira, presidente da sigla, é ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e lidera a ala que é frontalmente contrária ao embarque no governo.
Até mesmo quem era favorável à adesão passou a criticar a negociação. Alguns parlamentares do PP dizem que o Esporte não tem nada a ver com o partido e que não tem capacidade de atender as bases dos políticos nos municípios.
A sigla tem 49 deputados na Câmara.
Já auxiliares de Lula veem na movimentação do PP uma forma de tentar esticar a corda e garantir um ministério ainda mais encorpado para o partido.
O entrave com o PP se soma às insatisfações no PSB com a forma com que o Planalto tem conduzido as tratativas da reforma. Foi em meio a esse clima que Lula se reuniu nesta terça com Alckmin.
Havia uma expectativa de que o vice-presidente abrisse mão do comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para que o correligionário Márcio França (PSB) --hoje na pasta de Portos e Aeroportos- assuma o posto.
O Ministério de Portos e Aeroportos foi ofertado ao Republicanos e deve ser chefiado pelo deputado Silvio Costa Filho (PE). Se não for transferido para o Desenvolvimento, França pode comandar o Ministério de Pequena e Média Empresa, cuja criação chegou a ser anunciada por Lula na semana passada e hoje já é colocada em dúvida por aliados do petista.
Outra possibilidade é que França seja acomodado na pasta da Ciência e Tecnologia, chefiada por Luciana Santos (PC do B).
Dirigentes e parlamentares do PSB tecem duras críticas à condução das negociações e defendem que França fique em Portos e Aeroportos.
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