BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Pessoas próximas a Jair Bolsonaro (PL) afirmam que o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid tem potencial para comprometer a imagem do ex-presidente, temem eventuais implicações contra a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e se preocupam com o teor das revelações que podem ser apresentadas pelo ex-ajudante de ordens presidencial.

Nas declarações públicas, no entanto, a palavra-chave, segundo interlocutores, será tranquilidade. A ideia é dizer que Bolsonaro está sereno e manter a tese de que há um vácuo legal sobre presentes recebidos por mandatários e, portanto, a conduta não pode ser considerada crime.

Cid deixou a unidade militar no DF onde estava preso na tarde deste sábado (9), após firmar o acordo, mas passará a usar tornozeleira eletrônica.

Nos bastidores, o clima é de preocupação. Aliados lembram que Cid tinha acesso a praticamente todas as informações da vida do ex-mandatário e há o receio de que ele apresente novos detalhes sobre os casos das joias, da inserção de dados falsos de vacinação e da campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas liderada pelo antigo chefe do Executivo.

A estratégia que vem sendo traçada em conversas reservadas é reforçar a comparação entre Bolsonaro e o presidente Lula (PT) em duas frentes: em relação aos presentes recebidos durante o mandato e também no embate com delatores.

Pessoas próximas ao ex-mandatário citam como exemplo que inúmeros delatores acusaram o petista de crimes e que, mesmo assim, as investigações acabaram anuladas.

Também lembram que, do ponto de vista jurídico, a delação premiada é considerada um meio de obtenção de prova e que, sozinha, não pode ser considerada para incriminar alguém.

Esse é um debate técnico que os advogados de Bolsonaro devem trazer à tona. No entanto, o ex-presidente e seus correligionários mais próximos não devem partir para o embate público com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que é relator do caso e homologou a colaboração de Cid com a Polícia Federal.

Eles lembram que Moraes não costuma recuar diante de ataques de bolsonaristas ?pelo contrário, geralmente ele intensifica as ações nessas situações. Pessoas próximas ao ex-mandatário também acreditam que até o momento de homologar a delação foi pensado pelo integrante do Supremo.

Dois anos atrás, em discurso durante manifestações de 7 de Setembro, Bolsonaro chamou Moraes de canalha e disse que não cumpriria mais suas decisões.

Agora, o ministro aceitou a colaboração do ex-ajudante de ordens presidencial no final de semana que sucedeu o mesmo feriado usado pelo ex-mandatário para atacar o ministro em 2021.

As críticas ao magistrado, que se consolidou como algoz do bolsonarismo nos últimos anos, devem ficar restritas aos bastidores e a aliados que não orbitam no entorno do ex-presidente no dia a dia.

Apesar de a ordem ser evitar ataques públicos, nos bastidores os interlocutores de Bolsonaro comparam Moraes à Lava Jato e dizem que, assim como na operação iniciada no Paraná, o magistrado só liberou o investigado da cadeia após ele firmar a delação.

Moraes também determinou o afastamento do militar do cargo de oficial do Exército e mandou suspender o porte de arma do ex-auxiliar de Bolsonaro. Além disso, vetou o uso de redes sociais e o proibiu de sair do país.

"Obrigação de apresentar-se perante ao Juízo da Execução da Comarca de origem, no prazo de 48 horas e comparecimento semanal, todas as segundas-feiras", decidiu o ministro.

Na decisão, o ministro afirmou que no atual momento das investigações não é mais necessário manter Cid preso.

O magistrado disse que o "descumprimento de qualquer uma das medidas alternativas implicará na revogação e decretação da prisão".

Mauro Cid foi preso em 3 de maio por suspeita de adulterar o seu cartão de vacinação, o de Bolsonaro, o de sua esposa, Gabriela Cid, e de uma de suas filhas.

Segundo a Polícia Federal, o militar teria colocado a informação falsa de que eles haviam sido vacinados para permitir a ida deles aos Estados Unidos dias antes da posse de Lula.


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