SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que vai concorrer à Prefeitura de São Paulo, reuniu pela primeira vez, nesta segunda-feira (16), os cinco partidos que integram sua coligação e ouviu do PT a promessa de que o presidente Lula (PT) fará parte da sua campanha.

A reunião contou com dirigentes estaduais ou municipais de PSOL, PT, PC do B, PV e Rede. Também estavam presentes os deputados estaduais Antonio Donato (PT), Paulo Fiorilo (PT) e Carlos Giannazi (PSOL). A nova presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, acompanhou o encontro, realizado em um hotel na região central da capital paulista.

A coordenação da campanha de Boulos ficará a cargo do seu chefe de gabinete, Josué Rocha, ex-coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), e de Laércio Ribeiro, presidente do PT na cidade de São Paulo. Donato será o coordenador do programa de governo.

Laércio afirmou que Lula certamente fará parte da campanha de Boulos e também será consultado quando o PT deliberar quem do partido integrará a chapa como vice. Apesar de nomes como o de Ana Estela Haddad (PT) ganharem força, Boulos e os aliados afirmaram que esse assunto só será tratado pelo grupo no ano que vem.

"Algumas coisas já estão definidas. Vamos ter o nosso Luiz Inácio Lula da Silva na campanha obviamente em muitos momentos", disse Laércio.

"As eleições do ano passado já mostraram que existe na cidade de São Paulo uma forte aprovação ao governo do presidente Lula, a sua maneira de governar, ao perfil e as pautas que o presidente Lula coloca de combate às desigualdades sociais e existe uma rejeição crescente à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro [PL]", disse Boulos.

O deputado afirmou que o grupo de partidos é um "ponto de partida" e disse manter conversas com o Avante e com o PDT, que pretende lançar o apresentador José Luiz Datena para a prefeitura.

O psolista lidera a última pesquisa Datafolha, divulgada em agosto, com 32%. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), marca 24%, sendo seguido no terceiro lugar por Tabata Amaral (PSB, 11%) e Kim Kataguiri (União Brasil, 8%).

Em entrevista à imprensa, Boulos fez uma série de críticas à gestão de Nunes na prefeitura e fez elogios a vários ex-prefeitos da cidade, mencionando não apenas Luiz Erundina (PSOL), Fernando Haddad (PT) e Marta Suplicy (que era petista à época e hoje apoia o prefeito), mas também Gilberto Kassab (PSD) e Bruno Covas (PSDB).

"Qual é o legado de Ricardo Nunes? Dobrar a população de rua e espalhar a cracolândia pelo centro inteiro", disse Boulos, para quem o prefeito faz tudo "de um jeito mal feito e suspeito". "Ricardo Nunes é um [Celso] Pitta com dinheiro", completou ainda.

"O prefeito gosta de explorar estereótipos, caricaturas e fake news a respeito da minha trajetória", disse Boulos aos jornalistas.

Como mostrou a Folha, a pré-candidatura do psolista foi fustigada por duas crises recentes. O deputado federal e líder do MTST foi alvo de ofensiva por causa da greve contra a privatização dos transportes e da Sabesp em São Paulo e por causa de seu posicionamento após os ataques do grupo terrorista palestino Hamas a Israel.

Acusado de endossar o Hamas por bolsonaristas, aliados de Nunes e pelo MBL (Movimento Brasil Livre), Boulos chegou a recuar e fazer um novo pronunciamento para desfazer ambiguidades pela ausência de menção à facção extremista em sua primeira manifestação a respeito da guerra.

"Eu me posicionei claramente em relação à guerra. Eu condeno de forma veemente ataques a civis, a crianças, ataques terroristas ?sejam eles feitos pelo Hamas ou pelo governo de extrema direita de Israel. Foi o que eu disse na semana passada e o que eu disse na tribuna da Câmara, com palavras diferentes, é verdade", disse o deputado nesta segunda.

Na avaliação de adversários, os dois episódios serviram para minar a tentativa de Boulos de formatar um perfil de moderação e diálogo e reforçaram a pecha de radical de esquerda.

Questionado pela reportagem sobre as recentes crises, Boulos afirmou que não vai abrir mão de suas convicções e princípios "por mais constrangimentos e tentativas de pressão que ocorram, seja de formadores de opinião, seja de setores, esses sim, extremistas da sociedade".

Ele associou Nunes ao extremismo que vê em Bolsonaro, de quem o prefeito busca apoio, e disse que sempre exerceu o diálogo e a ponderação, inclusive no seu atual mandato.

"Eu acho muito estranho ver o prefeito e alguns dos meus adversários falando de extremismo, extremismo e extremismo quando falam de mim. Enquanto estamos aqui no lançamento de uma frente de partidos, com amplitude e diálogo, o prefeito está lá hoje cercado por Bolsonaro. Para ele, o Bolsonaro é um moderado? Uma pessoa ponderada? De paz? Não acredito que seja o que a sociedade brasileira e paulistana pensam. Não é o que nós pensamos", disse.

Nesta segunda, Nunes, Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) compareceram juntos ao evento de aniversário de 53 anos da Rota (tropa de elite da PM paulista).

Boulos afirmou que Nunes mantém uma "relação ambivalente com Bolsonaro", ora se afastando do ex-presidente ora implorando seu apoio, o que definiu como uma "situação vexatória".

Na reunião, Boulos falou sobre os grupos de trabalho de sua campanha ?há grupos estabelecidos para o tema da saúde, educação e cracolândia. O deputado busca especialistas e ex-gestores para compor seu time.

No caso da cracolândia, conta com nomes como Drauzio Varella, Raquel Rolnik e Benedito Mariano. Já no grupo da saúde, a declaração de Boulos sobre a guerra causou a saída de Jean Gorinchteyn, que foi secretário estadual de Saúde de João Doria (ex-PSDB).

Ainda nesta segunda, Boulos participa de um jantar de arrecadação de sua pré-campanha, que teve ingressos vendidos por R$ 500 e R$ 1.000 e terá o menu assinado por Bel Coelho.


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