SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Adversários de Guilherme Boulos (PSOL) elevaram a quantidade e o tom dos ataques a ele nas redes sociais desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, pressionando o pré-candidato a prefeito de São Paulo com críticas e desinformação, mostram levantamentos em grupos e redes sociais.

O deputado federal tem atribuído a campanha negativa a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que negocia aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB). O MBL (Movimento Brasil Livre), que tenta consolidar a candidatura de Kim Kataguiri (União Brasil), também espalha conteúdos contra o psolista.

Apadrinhado pelo presidente Lula (PT), Boulos lidera a pesquisa Datafolha, com 32% das intenções de voto, seguido pelo pré-candidato à reeleição, com 24%. A ofensiva no ambiente digital preocupa a campanha do psolista, que atribui o movimento à "máquina de fake news BolsoNunes".

Levantamento da empresa de tecnologia Palver em grupos de WhatsApp e Telegram, assim como relatório da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV com base no Facebook e no X (antigo Twitter) indicam aumento no número de menções a Boulos após a eclosão do conflito no Oriente Médio.

Nas redes abertas, segundo a FGV, quase 50% dos conteúdos sobre o deputado também abordam a guerra.

No X, foram 63 mil conteúdos de 27 mil autores únicos entre 7 e 15 de outubro, um aumento de 10% em relação à semana anterior, quando ocorreu a greve contra as privatizações em São Paulo. O psolista também foi criticado na paralisação pelas ligações de seu partido com sindicatos.

O relatório da FGV aponta ainda que a temática da guerra tem sido vinculada à pré-candidatura dele.

Nos grupos, a Palver viu a aparição do nome de Boulos praticamente dobrar em relação à época da divulgação do Datafolha, em agosto, e ser ainda maior que na semana da greve.

De 7 a 15 de outubro, 53% das menções tinham referência ao Hamas, com destaque para a repercussão de uma foto de Boulos em 2018 com outros dois membros do partido na Cisjordânia, junto de uma pedra onde se lê, em inglês, "PSOL com a Palestina".

Nas redes e em grupos, a reportagem identificou posts com fake news evidentes, como as de que as pessoas no registro com o deputado seriam do Hamas. Outros expõem a imagem com insinuações.

Boulos foi criticado pela ambiguidade de sua primeira fala sobre o conflito, sem citar o Hamas, o que deu margem à interpretação de que defende o grupo. Pressionado, ele fez um novo discurso em que mencionou o Hamas, sem qualificá-lo, e também repudiou a violência de Israel contra os palestinos.

O episódio provocou a perda de um coordenador de seu futuro plano de governo, o ex-secretário estadual de Saúde Jean Gorinchteyn, que é judeu e disse que deixaria a função "diante da postura pró-Palestina que não menciona ou condena o grupo extremista islâmico armado Hamas".

Entre os posts rastreados pela reportagem, o primeiro a utilizar a foto de 2018 foi o deputado estadual Gil Diniz (PL-SP), em seu perfil no X. A partir dali, a imagem se espalhou.

O bolsonarista não fez qualquer afirmação sobre quem seriam as pessoas na foto, mas escreveu: "Não podemos esquecer as fortes relações de @GuilhermeBoulos e do PSOL com o Hamas. Boulos já condenou os ataques terroristas dos seus amigos do Hamas?".

Em posts de outros usuários, a frase se transmutou para: "Alguém sabe quem é esse garotão que está à esquerda, junto com seus amigos do Hamas?".

Perfis de peso do bolsonarismo contribuíram para a repercussão. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) postou a imagem sem legenda, chegando a quase 600 mil visualizações. Fabio Wajngarten, que atua como assessor de Jair Bolsonaro e se movimenta para ser vice de Nunes, adicionou: "Mais claro impossível. Boulos: Nunca. PSOL: Jamais".

A Palver encontrou um vídeo antigo do Estado Islâmico sendo divulgado como se fosse do atual conflito para fustigar o PSOL e a esquerda. Nas cenas, de 2016, dois soldados eram queimados vivos.

No Facebook, entre os vídeos de maior alcance sobre Boulos estão os do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). Num deles, Gayer citou a candidatura e disse que o psolista "fez questão de atrelar o nome dele a um grupo terrorista que está matando os judeus, assim como os nazistas fizeram na Alemanha".

O MBL usou perfis próprios para atacar o postulante do PSOL, com afirmações como a de que "Boulos já se acostumou a passar pano para invasões terroristas". No YouTube, foram três vídeos com títulos como "Boulos dá tiro no pé ao apoiar a Palestina" e "Boulos: Hamas não é um grupo terrorista".

Em vídeo no X, Kim afirmou: "Gente como o Guilherme Boulos e como o PSOL apoiam grupos terroristas como o Hamas que matam e torturam família inocentes que só querem viver em paz".

Outra frente de desgaste para Boulos é uma foto dele com Sayid Tenório tirada em 2022. Vice-presidente do Instituto Brasil Palestina, Tenório foi exonerado do gabinete do deputado federal Márcio Jerry (PC do B-MA) após o início da guerra por ter feito postagem que zombava de vítima do Hamas.

A pesquisadora Mariana Carvalho, da ECMI-FGV, diz que se destacaram no levantamento postagens de parlamentares que fazem oposição ao governo Lula. "Como esses perfis têm um grande alcance nas plataformas, esse tipo de conteúdo ganha capacidade de circulação."

Monitoramento realizado pela equipe de Boulos identificou "crescimento expressivo" de menções e comentários negativos nas redes do deputado em outubro, associados sobretudo à guerra. No X, a média de comentários negativos chegou a 71%, de acordo com o balanço da pré-campanha.

Dois terços do que a equipe classifica como ataques, segundo o relatório, vieram não de políticos ou influenciadores, mas de perfis pulverizados. Também foram apontados indícios de uso de robôs, com movimentação intensa de contas com menos de 50 seguidores --algumas não tinham nenhum.

Boulos tem reagido com postagens em que sugere haver ataques orquestrados com perfis legítimos e anônimos, rebate fake news e pede ajuda para desmentir boatos e denunciar conteúdos falsos.

Ele disparou um áudio para grupos de apoiadores dizendo que "a máquina de fake news foi ligada na velocidade máxima". "Eles estão desesperados, porque, apesar de toda a estrutura e dinheiro, ainda estão atrás nas pesquisas. A associação do BolsoNunes a cada dia inventa uma mentira nova."

No domingo (15), o deputado publicou vídeo no YouTube denunciando "jogo sujo" e "máquina de ódio". Também foi convocado para esta quarta-feira (18) um encontro virtual com simpatizantes da pré-candidatura para discutir como combater a onda negativa.

Procurados via assessoria, nem Nunes nem Bolsonaro se manifestaram.

O MBL, por meio de nota, negou relação "com a suposta 'máquina de fake news'" e reiterou que faz oposição a Boulos independentemente do fato de Kim ser ou não candidato.

"Desafiamos o deputado [Boulos] a explicar por que o Hamas não é considerado um grupo terrorista pelo PSOL e por qual motivo lideranças do partido apoiaram a greve do metrô que ferrou com a vida dos trabalhadores paulistanos."

Gil Diniz afirmou que "não há uma rede orquestrada, há parlamentares de São Paulo que sabem o histórico de Boulos, que sempre foi pró-Hamas e agora hipocritamente diz que não apoia" o grupo. O deputado disse que "só trouxe a lembrança ao público" e que não se trata de ataque, mas de crítica.


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