BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Aliados de Lula (PT) temiam que golpistas invadissem o aeroporto de Brasília e que o presidente ficasse sitiado na base aérea caso tentasse voltar à capital durante os atos do dia 8 de janeiro.

Enquanto o Palácio do Planalto estava ocupado por manifestantes, Lula chegou a afirmar que deixaria Araraquara (SP), onde estava para anunciar medidas contra a chuva. Auxiliares convenceram o petista a permanecer na cidade paulista, com a avaliação de que não havia garantias à segurança do presidente em Brasília.

"Era um risco Lula tentar voltar, um risco real ele não conseguir sair do aeroporto, um risco ele ficar sitiado na base aérea, um risco os golpistas tentarem invadir o aeroporto", afirma o prefeito Edinho Silva (PT) no livro "Uma Cidade na Luta pela Vida", que será lançado em 13 de novembro.

Àquela altura, segundo o relato, integrantes do governo relatavam suspeitas de "passividade e colaboração" forças de segurança do Distrito Federal e das Forças Armadas.

Lula estava no gabinete do prefeito de Araraquara em contato por telefone com os ministros Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa) e Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional). Estavam na sala Waldez Góes (Integração Nacional), Jader Filho (Cidades), Luiz Marinho (Trabalho) e outros auxiliares.

Segundo o relato do prefeito, Lula havia manifestado a intenção de retornar para comandar uma sala de situação criada pelos ministros na capital. O presidente se levantou e afirmou: "Tenho que voltar para Brasília".

Os auxiliares teriam, então, argumentado que "ele não poderia ir para Brasília sem que a situação estivesse sob total controle".

"Chegando à capital naquele cenário que se concretizara, ninguém seria capaz de afirmar como se dariam as condições para o presidente fazer gestão da crise", acrescenta o prefeito.

O relato confirma uma tese levantada naquele domingo de que o presidente adiou sua volta a Brasília por falta de segurança e um receio de descontrole nas forças responsáveis pela proteção do presidente. Lula só retornou à noite, quando os prédios dos três Poderes haviam sido desocupados.

Havia durante a tarde o temor de que uma eventual invasão do aeroporto e um cerco ao presidente representariam o que o prefeito chamou de "concretização do golpe".

"Como permitir que o presidente retornasse para Brasília? Claro que não. Se isso ocorresse, a cena mais provável seria a do avião presidencial tendo que decolar às pressas com milhares de golpistas tentando invadir o aeroporto da capital. Essa cena, se existisse, seria de derrota da democracia e de concretização do golpe", escreveu.

Naquele momento, auxiliares de Lula mantinham contato com agentes que estavam dentro do Palácio do Planalto.

O prefeito relata o telefonema feito a um integrante da equipe de segurança pessoal do presidente. Esse homem teria dito que havia improvisado uma barricada para evitar o avanço dos golpistas em direção ao gabinete presidencial.

O livro narra ainda discussões sobre medidas para conter os ataques, incluindo a decretação de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). De acordo com o prefeito, a primeira-dama Janja da Silva fez uma oposição enfática ao uso dessa ferramenta.

"GLO significa entregar o poder para os comandantes das Forças Armadas", afirmou a primeira-dama, segundo o relato. Lula teria consultado o ministro Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e, então, vetado a operação.

Edinho Silva escreveu o livro para narrar a experiência de Araraquara durante a pandemia de Covid. O município adotou medidas rigorosas contra a doença. O prefeito decidiu incluir no relato os bastidores da passagem de Lula pela cidade no dia 8 de janeiro.


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