BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, afirmou neste domingo (3) que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) articulada por senadores de oposição para garantir que o orçamento de defesa do Brasil seja igual ou superior a 2% do PIB (Produto Interno Bruto) é "absolutamente necessária" para a Força.

Segundo Olsen, só com a previsão orçamentária será possível reestruturar a Marinha com navios e submarinos para responder a "ameaças externas".

"Investimentos em defesa são de longo prazo, e isso impõe uma necessidade de previsibilidade orçamentária. É nesse sentido que a PEC é absolutamente necessária para que as Forças possam se planejar e executar isso", disse o comandante à Folha.

"Vivemos por décadas com um pensamento equivocado de que o Brasil não possui ameaças. O Brasil possui ameaças, tivemos uma em 2019, derramamento de óleo, e isso atenta contra os interesses da sociedade e precisa ser encarado como ameaca", completou.

A PEC do orçamento de defesa foi protocolada pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), líder do principal partido de oposição ao governo Lula (PT). Como a Folha mostrou, a Marinha participou da articulação da proposta e fez movimentos para mostrar apoio popular à proposta.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, é favorável à proposta; o líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), é o principal cotado para relatar a proposta.

A Força argumenta que, diante das restrições orçamentárias dos últimos anos, há previsão de que, até 2028, cerca de 40% das embarcações da Marinha serão descartadas sem a devida reposição.

"Desde a primeira reunião que eu tive com o presidente Lula, o assunto central foi investimentos nas Forças Armadas que lhe permitissem o reaparelhamento [...]. A Marinha está atenta sob esse aspecto, procurando assegurar o reaparelhamento dos meios e que possa responder à altura a essas provocações", disse Olsen à Folha.

As declarações do comandante foram dadas após a Marinha realizar cerimônia de substituição da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Trata-se de um dos eventos em comemoração ao Dia da Marinha, comemorado em 13 de dezembro, dia de nascimento de Marquês de Tamandaré, patrono da Força Naval.

O evento também marcou o início de uma campanha publicitária da Marinha cujo objetivo é resgatar sua imagem como a de uma Força formada pelo povo brasileiro --numa tentativa de reverter as sucessivas crises que as Forças Armadas enfrentaram pela participação no governo Jair Bolsonaro (PL) e pela relação de militares com os ataques de 8 de janeiro.

Somou-se à crise na Marinha trecho da delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid de que o ex-comandante da Força Almir Garnier teria apoiado planos golpistas contra a eleição de Lula em reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

Em protesto contra Lula, Garnier não participou da cerimônia de passagem de comando da Marinha em janeiro --ato inédito na democracia.

Olsen avalia que, apesar das crises envolvendo as Forças no início do ano, a Marinha permaneceu como "instituição nacional e independente, que se presta a atender os interesses da sociedade".

"Tivemos um início do ano, de certa maneira, tumultuado, com possível envolvimento das Forças, uma suspeição por parte da sociedade que precisava ser estancada. Particularmente, no âmbito da Força Naval, eu não percebi, a despeito das ocorrências a que você se referiu, nenhuma dissonância em termos de orientação, de autoridade, de comprometimento da hierarquia e disciplina", completou o comandante.


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