SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Empenhada em fomentar o projeto do governador gaúcho, Eduardo Leite, para a eleição presidencial de 2026, a cúpula do PSDB em São Paulo definiu como prioridade lançar um candidato próprio à prefeitura da capital e avança na negociação com Andrea Matarazzo, mas enfrenta resistência da bancada de vereadores, que defende o apoio dos tucanos à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Há ainda uma terceira opção em jogo, que é o apoio à candidatura de Tabata Amaral (PSB).
Tucanos ouvidos pela reportagem afirmam que essa disputa interna deve ser arbitrada só no ano que vem e preveem o desenrolar de mais uma novela na sigla já combalida pelos rachas internos e pelo encolhimento eleitoral.
Interlocutores do ex-secretário municipal e ex-vereador Andrea Matarazzo, que hoje é filiado ao PSD, afirmam que ele está empolgado com a possibilidade da candidatura e até já começou a pensar em possíveis nomes para sua equipe.
Na última quinta-feira (30), Marconi Perillo (GO) foi eleito presidente nacional do PSDB e, apesar de ter sido uma indicação do deputado federal Aécio Neves (MG) em uma disputa interna de força com Leite, ele está comprometido com a projeção eleitoral do gaúcho.
Na gestão anterior, presidida pelo próprio Leite, o PSDB publicou uma resolução, no dia 3 de outubro, determinando que o partido apresente candidato próprio a prefeito nos municípios com mais de 100 mil eleitores.
O texto diz ainda que as candidaturas nesses municípios, como é o caso de São Paulo, devem ser autorizadas pela executiva nacional.
Segundo integrantes do PSDB, o convite a Matarazzo foi feito pelo próprio Aécio, que depois promoveu um encontro entre o ex-secretário e Leite, em que mais uma vez o projeto de candidatura foi reforçado.
"Nosso principal objetivo é cumprir a resolução de candidatura própria, que foi a principal missão que Eduardo Leite, então presidente [do PSDB], me deu", afirma Orlando Faria, presidente da comissão municipal provisória do PSDB.
Lançar Matarazzo, porém, depende do convencimento da bancada de vereadores tucanos. A bancada ocupa na gestão Nunes a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, com orçamento previsto de R$ 165 milhões para 2024.
Em um jantar com Perillo nesta terça (5), os vereadores disseram não abrir mão do apoio a Nunes e que poderia haver uma debandada do partido. O PSDB, com oito vereadores, é a maior bancada da Câmara Municipal em empate com o PT.
Buscando se preservar, o presidente do PSDB afirmou a eles que a discussão sobre o rumo do partido na eleição paulistana será feita no momento certo.
O vereador Xexéu Tripoli afirma à Folha que o apoio da bancada a Nunes é unânime e que o jantar com Perillo foi cordial. "Tem alas no PSDB que defendem candidatura própria, que defendem apoiar Tabata e que defendem apoiar Nunes, são várias vertentes e isso vai ser discutido no início do ano que vem", diz.
Procurado pela reportagem, Faria diz que "o partido respeita a posição da bancada, que já tinha solicitado que levássemos para a direção nacional a opção de apoio a Ricardo Nunes".
O presidente municipal, no entanto, pondera que a candidatura própria é "estratégica para que o PSDB tenha protagonismo na eleição de 2024 e para estruturar a nossa participação também na eleição de 2026".
"É importante que a gente tenha, em 2024, espaço e propostas e não seja apenas uma questão fisiológica", completa.
Depois de decisões de Leite que foram contestadas por alas do tucanato paulista, hoje o PSDB na capital e no estado está sob o comando de aliados do governador gaúcho ?Faria e o prefeito de Santo André, Paulo Serra, respectivamente.
Enquanto presidente do PSDB, Leite suspendeu a convenção estadual e não reconheceu a convenção promovida pelo então presidente municipal, Fernando Alfredo, em que ele afirma ter sido reeleito.
Fernando Alfredo sempre foi defensor da aliança com Ricardo Nunes, dando continuidade à chapa formada com o prefeito Bruno Covas (PSDB), em 2020. Faria, por sua vez, tem feito críticas duras ao prefeito, que, em sua avaliação, abandonou o projeto tucano para a cidade.
Tucanos ligados ao gaúcho veem mais benefícios na candidatura própria ou até mesmo na alternativa de apoio a Tabata. No último dia 23, em uma reunião com Orlando Faria, a deputada convidou o PSDB para fazer parte de sua coligação. A expectativa do PSDB, caso a aliança seja formada, é ocupar a vaga de vice na chapa.
Já no caso do apoio a Nunes, dirigentes tucanos argumentam que, por ser mais um na aliança que já inclui, entre outros, PL, Republicanos e União Brasil, o PSDB dificilmente seria alçado à vice.
Aliados do governador gaúcho veem na candidatura própria uma chance de promovê-lo na capital por meio das propagandas na TV. Para eles, esse é o verdadeiro projeto partidário, enquanto o da bancada de vereadores é fisiológico.
Como mostrou o Painel, Matarazzo participou, em outubro, de evento de apoio à candidatura de Kim Kataguiri (União Brasil) e, em sua palestra, defendeu medidas linha-dura para lidar com a cracolândia.
Matarazzo foi filiado ao PSDB por 25 anos, mas deixou o partido em 2016 após uma briga nas prévias para a prefeitura contra João Doria, a quem acusou de fraude e abuso de poder. Doria acabou se desfiliando em 2022, abrindo espaço para a ascensão de Leite.
Em 2020, Matarazzo foi candidato a prefeito pelo PSD e terminou apenas em oitavo lugar, com 1,55% dos votos válidos.
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