SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) criticou indiretamente o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em evento nesta segunda-feira (11), em São Paulo, para receber apoio do ex-prefeito de Nova York Bill de Blasio, que se referiu ao deputado federal como um "ursinho de pelúcia progressista".

O democrata, que se aproximou de Boulos nos últimos meses, disse que gostou dele assim que o conheceu, mesmo sem saber de sua história ou personalidade. "Para mim, ele parece um grande ursinho de pelúcia", disse sob risos da plateia, acrescentando os adjetivos "progressista" e "pró-ativo".

Boulos, ao falar na sequência, usou a piada para rebater a pecha de radical associada a ele por adversários.

"Eu disse para ele [Blasio] que tinha algumas pessoas, aqui em São Paulo e no Brasil, que achavam que eu era muito extremista, radical, violento. Aí vocês viram a resposta dele, né? Quase um ursinho carinhoso", disse, rindo.

Os dois participaram de um seminário sobre desafios das cidades globais promovido pelas fundações Lauro Campos e Marielle Franco (ligada ao PSOL) e Rosa Luxemburgo. Além do evento, em Pinheiros (zona oeste), os dois políticos tiveram outras atividades com movimentos de esquerda na capital.

O americano foi levado para conhecer uma unidade das Cozinhas Solidárias do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e visitou um apartamento construído pelo grupo liderado por Boulos. Blasio se disse emocionado em ver que, mesmo com dificuldades, há pessoas que "não estão paralisadas".

O ex-prefeito declarou apoio ao psolista, afirmando ver nele não só capacidade intelectual e de trabalho para administrar uma metrópole como São Paulo, mas, principalmente, "senso de empatia, sensibilidade e afinidade com as pessoas". Ele exaltou líderes que buscam ler os sentimentos da população.

Sem citar Nunes, que buscará a reeleição em 2024, Boulos criticou a falta de visão de futuro e o que chamou de desconexão da capital com tendências mundiais para resolver problemas em áreas como trânsito, habitação, educação, gestão de resíduos sólidos e segurança pública.

"Nossa cidade está parada no tempo, largada, sem comando, sem um rumo definido", disse.

Exaltando seu esforço para conhecer políticas públicas adotadas em outros países, o deputado afirmou que "São Paulo precisa novamente se voltar para experiências internacionais, não para copiá-las, não como um complexo de vira-lata", mas na intenção de adaptá-las.

"São Paulo mal tapa buraco de rua. Nós estamos fora dos grandes debates urbanos", observou.

Ao falar sobre a violência no centro, Boulos disse que é preciso "devolver vida" à região para "devolver segurança". O visitante americano concordou com a cabeça. Durante sua fala, o ex-prefeito afirmou que não há soluções fáceis, mas que um dos caminhos é envolver a sociedade civil.

Na saída, ao conversar com jornalistas, Blasio afirmou ter a intenção de manter interlocução com Boulos durante a corrida eleitoral, para que possa compartilhar aquilo que os técnicos e profissionais de campanha não conseguem, mas que políticos têm mais facilidade por experiência própria.

O americano disse também que a decisão de apoiar o psolista não tem a ver com uma opção sua entre os pré-candidatos locais, mas com os sentimentos que enxerga em Boulos, descrito por ele como um tipo de líder raro, por incorporar uma visão humanista dos problemas da população.

O discurso de Blasio soou alinhado à mensagem que o deputado vem trabalhando na pré-campanha, pregando o combate à desigualdade para diminuir as distâncias entre a São Paulo rica e próspera e aquela marcada por miséria e falta de oportunidades.

O americano disse que sociedades desiguais não são sustentáveis e que, na guerra política, é preciso convencer as pessoas de que defender condições de vida dignas para todas as camadas beneficia não só os grupos atendidos, mas a população como um todo.

Em 2017, Blasio foi o primeiro prefeito do Partido Democrata reeleito na cidade desde Edward Koch em 1985. Sua gestão (2014-2021) foi marcada por ações de tom progressista em temas como migração, educação e segurança pública, pautando também debates sobre direitos humanos e racismo.

Ele também foi opositor do ex-presidente Donald Trump e assumiu postura alinhada à ciência durante a pandemia de Covid-19 ?na época da crise, chegou a se manifestar publicamente com críticas à política negacionista de Jair Bolsonaro, então presidente brasileiro, com quem costumava rivalizar.

Boulos e Blasio já tinham se reunido em setembro, nos Estados Unidos. Segundo a equipe do deputado, na ocasião os dois trocaram experiências sobre temas como urbanismo, sustentabilidade e combate ao racismo.

O psolista tem se escorado na agenda de encontros internacionais para se apresentar como alguém que está estudando iniciativas que deram certo em outras cidades e poderiam ser repetidas em São Paulo, caso se eleja. Boulos nunca ocupou cargo no Executivo e está no primeiro mandato na Câmara.

As conversas são também uma estratégia para demonstrar visão de longo prazo para a cidade, algo que o deputado diz desconhecer em Nunes. Boulos deve fechar o ano tendo se aprofundado em experiências do Chile, Colômbia, França, México, Espanha e Estados Unidos.


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