BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O evento sediado no Congresso Nacional que marcou um ano dos ataques golpistas de 8 de janeiro ganhou contornos políticos diante de um boicote da oposição ao presidente Lula (PT) e de ausências de governadores e líderes do centrão, entre eles o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Integrantes do governo se queixaram que, após Lira cancelar a participação às vésperas do ato, a Câmara não colocou um representante da Casa no palco da cerimônia. Além do PP, o grupo de Lira é formado por partidos como Republicanos, PL e União Brasil.
Uma ala desses partidos avaliou que Lula usaria o evento como palanque político. Por isso, a decisão foi não tomar o lado do petista, principalmente em ano eleitoral --o centrão deu sustentação ao governo Jair Bolsonaro (PL).
Em seu discurso, Lula se referiu a Bolsonaro sem citá-lo nominalmente, a quem chamou de golpista.
No entanto, auxiliares do petista dizem que, por ter sido uma cerimônia no Congresso e não no Palácio do Planalto, foi um ato institucional e limitado à defesa da democracia.
Lira não compareceu alegando problemas de saúde na sua família. Ele telefonou ao próprio Lula na noite de domingo (7) para informar que não iria mais participar do ato --havia previsão de ele discursar.
Aliados do presidente da Câmara também viram a ausência de Lira no evento como uma maneira de ele se preservar com parlamentares mais alinhados à direita na Casa, que criticaram a realização do ato.
Nas palavras de um interlocutor do presidente da Câmara, ele acabou não entrando em "bola dividida".
Além de Lira, várias lideranças da Câmara desfalcaram o evento. Compareceram os líderes do PSB, Gervásio Maia (PB), do PSD, Antonio Brito (BA), do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL) e do PT, Zeca Dirceu (PR).
Membros do governo buscaram minimizar a baixa adesão entre congressistas, afirmando que muitos parlamentares estão de férias, alguns viajando fora do país.
Mas alguns aliados de Lula viram nas ausências uma demonstração dos desafios na relação com o centrão. O presidente abriu espaço no primeiro escalão do governo em 2023 para atrair o PP e o Republicanos.
O ministro dos Esportes, André Fufuca (PP), disse que, por estar no evento, não seria necessária a presença de demais integrantes do partido. "Eu represento o PP", afirmou. O líder do partido na Câmara, Dr. Luizinho (RJ), está viajando com a família e por isso não compareceu.
O ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA), atribuiu ao recesso parlamentar a ausência dos parlamentares no evento.
"Alguns representantes de vários partidos não vieram, não foi só do União Brasil. Estamos em recesso parlamentar, hoje é dia 8 de janeiro, e praticamente todos os partidos não estão com 100% de seus parlamentares aqui", disse.
Líder do União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA) tampouco esteve no ato. Ele é um dos cotados para suceder Lira na presidência da Câmara em 2025.
Deputados federais licenciados, Sabino e Fufuca foram nomeados no ano passado para melhorar a articulação política do Executivo com os respectivos partidos.
O ministro Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), nomeado junto com Fufuca, esteve no evento. O presidente e o líder do Republicanos na Câmara, Marcos Pereira (SP) e Hugo Motta (PB), respectivamente, não compareceram.
Parlamentares do centrão usaram a ausência de aliados de Lula, como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), para justificar que poderiam estar fora durante o recesso. Ambos os petistas estão em viagem internacional.
Também houve desfalque entre os governadores. O chefe do Executivo de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), recuou às vésperas e decidiu não ir ao ato. Ele justificou que o evento virou "político" e não institucional.
Com o recuo, Zema se alinhou a outros governadores de oposição a Lula que desfalcaram a solenidade, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o de Santa Catarina, Jorginho Melo (PL), e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), esteve em Brasília e afirmou que o evento desta segunda não pertence a qualquer ideologia política e que ele é a celebração da democracia incontestável.
"Não estou aqui no 8 de janeiro pelo governo Lula ou por alguma conotação política ou eleitoral. E sim porque o Estado democrático de direito sofreu um ataque no Brasil, uma tentativa de golpe", disse.
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSBD), disse que a democracia não tem ideologia nem cor partidária. "É essencial para a democracia que a gente mantenha as nossas instituições fortes."
Aliados de Lula chegaram a avaliar que o ato de 8 de janeiro fosse realizado na primeira semana de fevereiro. A ideia era contornar as ausências por conta do recesso parlamentar. No entanto, a proposta não avançou.
"Era esperado [as ausências]. Não havia uma previsão dessa agenda. Eu até tinha dúvida se era melhor fazer no dia [8 de janeiro] ou 1º de fevereiro. Mas todo mundo quis marcar a data", disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
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