RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - O PDT mandou sinais ao PSB de que poderá romper a aliança entre os dois partidos no Recife caso não receba apoio em troca na disputa em Fortaleza. As duas cidades estão entre os três maiores colégios eleitorais do Nordeste.
Enquanto a prioridade nacional dos pedetistas é reeleger o prefeito Sarto na capital cearense, a legenda pessebista almeja a renovação do mandato de João Campos no Recife.
A atual vice-prefeita do Recife é Isabella de Roldão (PDT). Inicialmente, o partido mandou sinais de que desejava manter o posto, mas as chances são diminutas. Isso porque o PSB não vê o PDT com a mesma força para emplacar a vice na chapa da tentativa de reeleição de João Campos.
A vaga é disputada pelo PT, partido do presidente Lula, mas esbarra em resistências de João Campos, que quer emplacar um nome do próprio PSB e ter um vice de confiança.
A cobiça pela vice no Recife está mais intensa que o habitual porque o prefeito poderá ser candidato a governador em 2026, se a governadora Raquel Lyra (PSDB) estiver em um cenário adverso e de impopularidade.
Entre os nomes cotados pelo PT estão o deputado federal Carlos Veras e o médico Mozart Sales, auxiliar de Alexandre Padilha no Ministério das Relações Institucionais do governo federal. Pelo PSB, os mais cotados são o presidente da Câmara Municipal, Romerinho Jatobá, e o ex-prefeito Geraldo Julio.
Com a vaga entre PT e PSB, as relações do PSB e do PDT no Recife ficaram fragilizadas. "Estamos no começo do ano e muitas pessoas já estão pensando em 2026. Temos que focar no trabalho deste ano, que será muito intenso. O foco de 2024 é pensar em 2024 e no trabalho que estamos desenvolvendo nos últimos três anos", diz a vice-prefeita Isabella de Roldão.
Para piorar a situação, a cúpula do PDT está chateada com a ausência de reciprocidade em Fortaleza.
O atual prefeito Sarto enfrenta dificuldades em manter alianças em meio à perda de espaço do PDT no Ceará, após o rompimento e derrota para o PT nas eleições de 2022 e a briga, desde o segundo semestre de 2023, entre os irmãos Ciro e Cid Gomes.
O senador Cid Gomes está de saída do PDT e acertou a filiação ao PSB, que deve acontecer até o início de fevereiro. Além da chegada de Cid, outro fator que irrita o PDT é que o PSB cearense é presidido por Eudoro Santana, pai do ministro da Educação e senador licenciado Camilo Santana (PT). Já o PDT retornou às mãos do grupo do deputado federal André Figueiredo, ligado a Ciro Gomes, após a saída de Cid da presidência.
A expectativa é que, junto com Cid, mais de 30 prefeitos se filiem ao PSB, deixando o PDT, além de vereadores e, futuramente, deputados federais e estaduais.
Em Fortaleza, a tendência é que o PSB esteja no palanque da candidatura do PT. O nome petista na disputa municipal deve ficar entre o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, recém-filiado ao partido de Lula, e a deputada federal Luizianne Lins.
Evandro Leitão é o candidato a prefeito de Camilo e do governador Elmano de Freitas (PT) e é tido como o mais cotado para a disputa. Além das candidaturas de PT e PDT, figuram como candidatos competitivos o deputado federal André Fernandes (PL) e o ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), derrotado em 2016 e 2020 no segundo turno para prefeito e candidato a governador mais votado na capital em 2022.
Em visita a Fortaleza na sexta (12), Carlos Lupi disse confiar que Sarto pode ser reeleito no primeiro turno e ratificou a capital cearense como prioridade para o PDT nacionalmente. "Fortaleza é a mais importante cidade que o PDT administra e vai ser a mais importante que nós vamos apoiar em termos não só de investimentos do fundo eleitoral, mas de prestígio político."
O ex-deputado federal Wolney Queiroz, atual secretário-executivo do Ministério da Previdência, afirma que a situação no Ceará coloca em risco a aliança no Recife. "Não tem nenhum problema nosso com o PSB, e João nos prestigia politicamente. Ocorre que Recife não é uma ilha e os acontecimentos do PDT Nacional terminam tendo efeito colateral no Recife."
Em retaliação, o PDT cogita uma aliança com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que já fez propostas para aliança a Lupi. O partido poderá atrair o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede) para disputar a Prefeitura do Recife, se o parlamentar obtiver uma carta de anuência com a liberação por parte da federação Rede/PSOL, o que é considerado difícil pelos próprios aliados do parlamentar.
Túlio já foi filiado ao PDT até 2022 e agora reabriu diálogos com o PDT, por meio do ministro da Previdência, Carlos Lupi, com quem estava rompido desde 2020, quando o PDT barrou a candidatura a prefeito dele no Recife.
Lupi externou a interlocutores nos últimos dias que o PDT caminha para uma aliança com Raquel Lyra não apenas em 2024, mas também em 2026, nas eleições estaduais. O ministro alegou a aliados que partiu do próprio PSB ter outras prioridades de composição, inclusive sem ter a preferência para manter com o PDT a vaga de vice.
No dia 8 de janeiro, a vice-prefeita do Recife, Isabella de Roldão, foi ao gabinete de Lupi na Esplanada dos Ministérios junto com Raquel Lyra. Além disso, os três posaram juntos para foto. A imagem irritou o PSB, que viu o ato como falta de cortesia de Isabella, que estava no exercício do cargo de prefeita enquanto João Campos estava de férias, e tirou foto ao lado de Raquel Lyra, a quem o PSB faz oposição em Pernambuco.
Raquel Lyra articula para haver múltiplas candidaturas de oposição a João Campos no Recife. Além de Túlio Gadêlha, a gestora defende nos bastidores que o secretário de Turismo de Pernambuco, Daniel Coelho (Cidadania), seja postulante. A palavra de ordem no entorno da governadora é tentar levar a eleição ao segundo turno no Recife, o que já configuraria uma derrota política a João Campos, tido como favorito para ser reeleito no primeiro turno.
O deputado federal Pedro Campos (PSB-PE) afirma que o imbróglio em Fortaleza é um problema do PDT, mas reconhece que as composições entre os partidos serão discutidas levando em conta o cenário em outras capitais e cidades.
"É impossível que sejam discussões isoladas, vão ser feitas no contexto nacional. O PDT tem um problema que é do próprio PDT, que é essa divisão do grupo cearense, e isso é uma questão que eles devem tratar, nada tem relação com o PSB", diz.
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