RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A operação da Polícia Federal contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) colocou uma incógnita na candidatura do parlamentar à Prefeitura do Rio de Janeiro. O bolsonarista é investigado por monitoramentos ilegais feitos durante sua gestão na Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

A PF cumpriu nesta quinta-feira (25) mandados de busca e apreensão no gabinete e no apartamento funcional de Ramagem, que também teve seu celular apreendido. O deputado nega as acusações.

Ramagem é homem de confiança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e foi escolhido por ele para ser o pré-candidato na disputa municipal. No entanto aliados já levantam dúvidas sobre sua viabilidade agora que é alvo da PF, o que pode minar alianças com partidos mais moderados de direita e de centro-direita.

A ala mais próxima do ex-presidente já traça uma estratégia de colocar Ramagem como um perseguido político e alvo de uma conspiração entre o STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou a operação, e o governo Lula (PT).

A ideia é que, assim, a disputa fique ainda mais polarizada, fazendo com que o engajamento gerado beneficie o parlamentar.

O próprio presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, falou sobre isso ao comentar as investigações.

Pelas redes sociais, o líder partidário escreveu: "Está claro que essa operação da PF contra o deputado Alexandre Ramagem é uma perseguição por causa do Bolsonaro. Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro".

Há, porém, um receio de que ter um pré-candidato alvo de uma investigação seja um obstáculo para construir alianças políticas. Fontes próximas ouvidas pela Folha de S.Paulo veem, nesse sentido, a operação como um banho de água fria na candidatura de Ramagem, que já gerava insatisfação entre líderes de outros partidos.

No ano passado, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), promoveu um almoço com os presidentes estaduais de PP, MDB, União Brasil e Solidariedade para selar o apoio a Ramagem. Apesar do que foi dito na conversa, nada avançou dali.

Líderes dessas legendas afirmam que ainda não receberam nenhum gesto do PL em troca da aliança. Pelo contrário, a ala mais bolsonarista --e, portanto, mais próxima de Ramagem-- ainda defende uma chapa pura à prefeitura, indicando como possíveis vices a deputada federal Chris Tonietto ou o estadual Alan Lopes.

Com a operação da PF, essa insatisfação se juntou à incerteza do que acontecerá com Ramagem nos próximos meses. Eles não querem dividir o palanque com alguém que possa voltar a ser alvo de operações, a poucos meses da eleição, ou que possa até mesmo ser preso. O temor é de que isso respingue, de alguma forma, na imagem deles.

Ainda assim, embora os mais moderados do PL vejam um esfriamento da candidatura do deputado, eles mesmo admitem que a decisão final será de Bolsonaro e irão acatar a palavra do ex-presidente.

Eles, porém, pontuam que ainda falta muito tempo para a escolha oficial do candidato. A candidatura só é sacramentada no início do segundo semestre, com as convenções partidárias, e o ex-chefe do Planalto tem um histórico de mudar de ideia na última hora.

Por causa da busca e apreensão, Ramagem foi retirado de todos os grupos do WhatsApp do PL e da oposição. É uma medida de praxe com todo mundo que é alvo da PF --o mesmo foi feito com o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), alvo de operação na semana passada.

Há dois motivos para isso. Primeiro, o deputado teve o celular apreendido, não possui mais aquele número. Segundo, os membros do grupo não querem que as novas mensagens vazem para a Polícia Federal.

Ao longo do dia de quinta-feira, Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, passou o dia se movimentando para defender Ramagem. O vereador é o principal fiador da pré-candidatura do deputado. É ele quem vai coordenar a campanha.

Usando o perfil do pai, Carlos fez postagens defendendo o aliado e alegando perseguição por ele ser o candidato de Bolsonaro no Rio.

No ano passado, os planos de Bolsonaro e do PL já tinham sofrido outro baque, com a condenação à inelegibilidade do general Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente em 2022 e era cotado para a disputa municipal. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) considerou que ele cometeu abuso de poder político e econômico durante as comemorações do Bicentenário da Independência, junto com Bolsonaro.


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