BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A conversa usada pela Polícia Federal para apontar o uso de uma estrutura paralela na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) pelo vereador Carlos Bolsonaro traz uma data em que Alexandre Ramagem já não era mais diretor-geral do órgão.
Os investigadores sustentaram o pedido de busca e apreensão contra o filho de Jair Bolsonaro no print de um diálogo pelo WhatsApp em que uma assessora de Carlos envia o nome de uma delegada da Polícia Federal e a identificação do que seriam inquéritos envolvendo a família do ex-presidente.
O aplicativo de mensagens exibe a data de "ter., 11 de out." em uma mensagem em que Luciana Almeida, assessora de Carlos, diz estar "precisando muito de um ajuda". Em seguida, com a data "Hoje" ela envia os números dos inquéritos.
Não é possível saber quando é o "Hoje", mas, nos últimos sete anos, o dia 11 de outubro só caiu em uma terça-feira, em 2022. Naquele ano, nesta data, Ramagem já tinha deixado o comando da Abin havia seis meses para disputar a eleição a deputado federal.
Além disso, o diálogo anterior, datado de "dom., 9 de out.", indica que a conversa teria ocorrido entre primeiro e o segundo turno da última eleição presidencial.
Alexandre de Moraes, do STF, diz em sua decisão, com base o relatório policial, que a troca de mensagens mostrava pedido de ajuda ao "então diretor-geral da Abin" sobre o andamento de inquéritos "em unidades sensíveis da Polícia Federal".
Apesar de, com o que foi divulgado até o momento, não ser possível saber o tempo decorrido entre o pedido de ajuda (11 de outubro) e a mensagem com os números de inquéritos ("hoje"), a investigação vinculou as duas coisas.
Carlos Bolsonaro foi alvo da terceira fase das investigações que miram a "Abin paralela". Segundo Moraes, o objetivo da PF na operação realizada nesta segunda-feira (29) foi "avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [Agência Brasileira de Inteligência]".
Além da questão da data, há ainda uma divergência sobre os envolvidos na troca de mensagens.
Na decisão de Moraes, há menção de que o pedido da assessora de Carlos teria sido feito "através de Priscilla Pereira e Silva", assessora de Ramagem.
Uma possível inferência, a partir do print no entanto, é de que a troca de mensagem de Luciana Almeida se daria com Ramagem. Ela usa a expressão vossa senhoria e deseja sucesso na nova etapa da vida. A resposta: Muito obrigado [no masculino]. (...) Agora vamos eleger nosso presidente Bolsonaro". Naquela data, o ex-Abin já tinha sido eleito deputado federal e apoiava a reeleição do então presidente.
Já a Procuradoria-Geral da República afirma que a mensagem foi enviada diretamente para Ramagem e, por isso, se manifestou contra a busca nos endereços da assessora do ex-diretor-geral. Moraes discordou e manteve Priscilla entre os alvos da operação.
A reportagem procurou a PF, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo, mas não obteve resposta até o momento.
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