SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os vídeos apreendidos pela Polícia Federal no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mostram uma reunião em que o ex-presidente convoca seus ministros a fazerem "alguma coisa" antes das eleições presidenciais de 2022 para impedir a vitória de Lula.
No encontro, em julho de 2022, Bolsonaro afirma que o Brasil viraria um caos caso o PT assumisse o poder, e insinua que as eleições brasileiras seriam fraudadas.
"Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições", disse.
Os vídeos foram obtidos pelo repórter Túlio Amâncio, da Band Brasília.
Veja, abaixo, dois trechos da reunião:
No primeiro, Bolsonaro diz: "Nós sabemos que se a gente, se a gente reagir depois das eleições vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém duvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições".
No segundo, ele ataca os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): "Os caras estão preparando tudo, pô, pro Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude. Vou mostrar como e por que. Alguém acredita qui em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta o braço. Acredita que eles são pessoas isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo o que vocês estão vendo?", diz. Em seguida, emenda: "Eu vou explicar a cagada. Cagada do bem, deixar bem claro. Como é quer eu ganho uma eleição, um fodido como eu? Deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado."
No terceiro, ele afirma:
"Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintando, está pintando. Eu parei de falar em voto imp... em eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que... Eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes".
No quarto, ele afirma:
"Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí? Mais claro? Impossível. Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que... quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar... a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal... dizer... que até o presen... uma nova conjunta com vocês, com vocês todos... topam? Que até o presente momento, dadas as condições de... de... se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas.
No quinto, ele afirma:
"O TSE cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência Eleitoral. Cometeram um erro. Eles erraram. Para nós foi excelente. Eles se esqueceram que eu sou o chefe supremo das Forças Armadas."
Na mesma reunião, Bolsonaro segue fazendo ataques aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
E insinua que os magistrados poderiam até estar recebendo dinheiro para atuar.
"Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os caras não têm limite. Eu não vou falar que o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Ou que o Barroso tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo", diz Bolsonaro.
Os ministros do governo não respondem.
Os vídeos da reunião são considerados cruciais pela PF, que aponta uma "dinâmica" golpista na alta cúpula do governo.
Na decisão em que autorizou as operações de busca e apreensão e as prisões contra aliados de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes afirma que a reunião comandada pelo ex-presidente "nitidamente revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte".
Além de Bolsonaro, também o general Braga Netto, então ministro da Casa Civil, o general Augusto Heleno, que então comandava o Gabinete de Segurança Institucional, e o então ministro da Justiça, Anderson Torres, fazem falas que colocam em dúvida a lisura do processo eleitoral brasileiro.
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