SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou à Record que não tinha participação em suposto monitoramento de campanha pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e atribuiu ao general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, decisões referentes ao trabalho de inteligência.
"Em dado momento [de reunião ministerial de 2022], Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma", afirmou o ex-presidente em entrevista veiculada na sexta-feira (9).
"Eu raramente usava as inteligências que nós temos, das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal. Não vejo nada demais naquilo. O Heleno queria se estender sobre o assunto, eu falei que não era o caso de ficar entrando em detalhes. Vai fazer uma operação, faça. A Abin tem esse poder de fazer operações e preservar as pessoas até", continuou.
O vídeo de reunião de 2022 foi usado como base para a operação da PF (Polícia Federal) na semana passada e tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Nele, Bolsonaro e auxiliares discutem cenários golpistas.
Na decisão que autorizou a operação, Moraes relata que o então chefe do GSI falou ter tido conversa para a infiltração de agentes da Abin nas campanhas eleitorais, tendo sido interrompido por Bolsonaro no sentido de que o assunto fosse tratado posteriormente.
Heleno, segundo a transcrição, prossegue: "Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições".
A PF deflagrou na quinta (8) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de Direito.
Ocorrida em um contexto de forte ofensiva de Bolsonaro contra a lisura das urnas eletrônicas, a reunião da cúpula do governo contou com a presença, entre outros, de Augusto Heleno, do então ministro da Justiça, Anderson Torres, e do então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira.
"A descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições e a Justiça eleitoral", escreveu Alexandre de Moraes em sua decisão.
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