BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conversou com o ex-presidente Michel Temer (MDB) na semana anterior à manifestação de domingo (25), na avenida Paulista.
Segundo relatos, o ex-mandatário buscou Temer para conversarem sobre o script do que Bolsonaro falaria no trio elétrico. O recado de Temer foi no sentido de pedir pacificação, o que Bolsonaro ouviu e incorporou na sua fala.
A informação foi revelada pela GloboNews e confirmada pela reportagem.
Depois, Temer levou o recado a alguns ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), de que o ex-presidente não radicalizaria em seu discurso.
Esta não foi a primeira vez que Bolsonaro buscou Temer como conselheiro e interlocutor com a corte. Em setembro de 2021, depois de xingar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de canalha, exortar descumprimento de decisões judiciais, o então presidente percebeu que esticou a corda e recorreu a Temer para escrever uma carta recuando de ameaças golpistas.
Agora, de acordo com interlocutores, o emedebista disse a Bolsonaro que ele deveria adotar tom de pacificação e de defender o enfrentamento por meio do voto. Os dois pontos foram acatados.
"Eu busco, [governador Ronaldo] Caiado, é a pacificação. É passar uma borracha no passado", disse Bolsonaro, num tom muito abaixo de outros atos na Paulista.
"Agora temos eleições municipais, vamos caprichar no voto, em especial, para vereadores e prefeitos também. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence", afirmou também.
Bolsonaro falou em "abuso de alguns" no seu discurso, o que não estava no roteiro discutido com Temer, mas tampouco foi visto como grave. De acordo com interlocutores do emedebista, ele aprovou a fala do ex-presidente.
Em 9 de setembro de 2021, dois dias após atacar o STF, Bolsonaro divulgou uma nota na qual recuou, disse que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes" e atribuiu palavras "contudentes" anteriores ao "calor do momento".
"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", afirmou.
A mudança de tom do presidente após repetidos xingamentos a integrantes da corte desagradou grupos bolsonaristas, foi elogiada pelos presidentes do Senado e da Câmara, mas vista com ceticismo pelos magistrados.
Horas depois de divulgá-la, Bolsonaro usou sua live semanal para tentar se justificar a apoiadores, dizendo não haver "nada de mais" na nota, e voltou a questionar as urnas eletrônicas e a provocar o ministro do STF e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso.
Antes da divulgação de nota, Bolsonaro conversou com Alexandre de Moraes, numa ligação intermediada por Temer. O emedebista indicou o magistrado para o STF.
Na véspera, ele também fora acionado pelo Planalto por conselhos para administrar os bloqueios de caminhoneiros.
Então, Temer pegou um avião da FAB de São Paulo para ir para Brasília conversa com Bolsonaro. Segundo quem acompanhou a conversa, o diálogo foi institucional e Bolsonaro adiantou o que divulgaria posteriormente na carta pública, escrita com a ajuda de Temer: que nunca teve a intenção de agredir, que foi afetado pelo calor do momento e que acredita na harmonia entre os Poderes. Não houve pedido de desculpas.
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