SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmam que a repercussão do ato de Jair Bolsonaro (PL) foi positiva, principalmente porque a manifestação atraiu bastante público, não teve confusão e os discursos foram mais moderados do que de costume, com exceção do pastor Silas Malafaia.
Ainda assim, Nunes, que busca a reeleição com apoio de Bolsonaro, foi alvo de críticas por parte de apoiadores ao centro e de bolsonaristas, que ao mesmo tempo elogiaram a presença do prefeito na avenida Paulista.
Adversários do emedebista, como Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), por sua vez, usaram a ida Nunes à manifestação como munição, conforme já era esperado pela equipe do prefeito.
Questionado pela reportagem sobre o ato, Nunes afirmou que "foi muito bom". "Manifestação pacífica, sem ofensas as instituições. Tudo dentro do esperado."
À rádio Guardiã da Notícia o prefeito declarou, ao deixar a manifestação, que o ato "fortalece a democracia" e "é o real exercício da democracia de qualquer ideologia". Ao fundo, Malafaia discursava e criticava a prisão dos que participaram nos ataques de 8 de janeiro.
Aliados de Tarcísio também viram sucesso na manifestação, que classificaram como ordeira e uma aula de democracia. Segundo eles, o governador ficou emocionado.
Como planejado, Tarcísio discursou e enalteceu Bolsonaro, já Nunes não falou ao público. O prefeito não foi nem sequer anunciado e se posicionou longe do alcance da multidão no trio. A postura acendeu o alerta de parlamentares bolsonaristas, que enxergam receio do emedebista em assumir-se como o candidato do ex-presidente.
"Acho positivo que o prefeito tenha ido, é um importante apoio. Mas gostaria que houvesse uma demonstração mais explícita, principalmente nas redes", opina o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), para quem o ato demonstrou que a força bolsonarista veio para ficar.
A respeito de Tarcísio, Bove afirma que sua fala foi "republicana" e que "foi importante ele ter se apresentado e demonstrado empenho".
Parlamentares ouvidos pela reportagem apontaram ainda que Nunes foi embora antes de Bolsonaro discursar, o que gerou incômodo.
O prefeito afirmou à reportagem que teve que sair por volta das 16h para encontrar a primeira-dama Regina Carnovale em uma feira de adoção de animais da qual ela foi madrinha. Nesse horário, era Malafaia que falava ao público ?ele antecedeu Bolsonaro. A camiseta amarela de Nunes tinha a estampa da feira de adoção.
Nunes esteve com Bolsonaro antes e depois da manifestação. Eles se encontraram no Palácio dos Bandeirantes, onde o ex-presidente se hospedou, e de lá partiram para o ato ao lado de Tarcísio e outros políticos. Mais tarde, Bolsonaro se sentou entre Nunes e Tarcísio para jantar em uma pizzaria.
Entre os bolsonaristas entusiastas da aliança entre Nunes e Bolsonaro, a leitura é a de que a discrição de Nunes estava prevista e que não há problema na falta de posts com o ex-presidente.
Em outra frente, emedebistas e tucanos, que têm ressalvas à ligação entre Nunes e Bolsonaro, se dividem entre os que priorizam o pragmatismo eleitoral e os que veem prejuízo para o prefeito.
Ex-integrante da gestão Nunes e apoiador da sua reeleição, Aloysio Nunes (PSDB) disse à Folha que o prefeito cometeu um erro.
"Acabou agregado ao perfil político dele [do prefeito] um fator de rejeição, imerecido e desnecessário. O comício foi um ato de solidariedade ao chefe de uma organização criminosa que tramou um golpe de Estado no Brasil, qualquer outra caracterização dessa reunião é conversa fiada."
"Ricardo Nunes tem argumentos sólidos em favor de sua reeleição, os resultados de sua gestão, sem o risco de contaminação com a toxidade do ex-presidente", completou.
De modo geral, porém, auxiliares de Nunes e de Tarcísio apontam que o ato atendeu às expectativas e teve o melhor cenário possível ?discursos e faixas não saíram de controle e o recado foi de pacificação.
Além disso, Bolsonaro conseguiu a fotografia da avenida Paulista cheia, e demonstrou força política apesar de estar cercado por investigações da Polícia Federal. Nesse contexto, Nunes e Tarcísio cumpriram a missão de acenar ao eleitorado bolsonarista.
Aliados do prefeito apontam ainda que o ato surpreendeu no tamanho do público e que o potencial de eleitores ali deve ter assustado os opositores de Nunes.
O prefeito foi à manifestação apesar de apelos iniciais do MDB para que ele não comparecesse. Mas, dentro do partido e também entre membros do PSDB, há quem defenda o elo com Bolsonaro sob a justificativa de que Nunes tem que escolher um lado diante da intensa polarização no país.
A aproximação pública entre Nunes e Bolsonaro alimenta a pré-campanha de Boulos, que, com o apoio de Lula (PT), aposta na nacionalização da eleição.
"Hoje, mais do que nunca, Ricardo Nunes envergonha São Paulo", publicou Boulos. Com a hashtag "BolsoNunes", ele compartilhou o vídeo em que Nunes cumprimenta Bolsonaro no palácio.
Tabata criticou a polarização e apontou que os responsáveis pela manifestação "estão sendo investigados por atentar contra a democracia".
"Nunes demonstra topar qualquer negócio para se manter no poder e envergonha o legado de Bruno Covas [PSDB]", publicou.
Como mostrou a Folha, estrategistas da equipe do prefeito dizem acreditar que Nunes não será avaliado como bolsonarista ou golpista pelo eleitor, que deve considerar também sua história na política. O prefeito tem buscado balancear o apoio de Bolsonaro com declarações em defesa da vacina e outros padrinhos políticos, como Michel Temer (MDB).
Para eles, o eventual desgaste do prefeito com a ida ao ato atinge aqueles que não votariam em Nunes de qualquer forma.
Como resposta à eventual pecha de golpista, aliados de Nunes apontam que Marta Suplicy (PT), vice de Boulos, também é tida como golpista por parte da esquerda, por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
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