BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O tenente-coronel Mauro Cid confirmou à Polícia Federal que aliados de Jair Bolsonaro (PL) monitoraram o ministro Alexandre de Moraes, que comanda o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para o caso de o ex-chefe do Executivo colocar em prática o plano de impedir a posse do presidente Lula (PT).

A declaração foi feita pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro em depoimento de mais de nove horas na segunda-feira (11) à PF. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha de S.Paulo.

Na representação da PF que embasou operações contra o ex-presidente e pessoas próximas, entre elas generais e ex-ministros, há uma troca de mensagens entre Cid e Marcelo Camara, ex-assessor de Bolsonaro, indicando a vigilância ao ministro do STF.

Camara está preso desde 8 de fevereiro, quando foi alvo de operação da PF. Segundo o relatório da investigação obtido pela Folha, Camara estaria monitorando a localização de Moraes.

"Viajou para SP hoje, retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente para SP no mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo", diz uma mensagem encaminhada por Marcelo Camara para Cid em 16 de dezembro de 2022.

Algumas versões das minutas de decreto em discussão entre Bolsonaro e aliados previam a prisão do ministro do STF.

Há momentos em que Cid e Camara usaram o codinome "professora" para se comunicar sobre o ministro do Supremo, segundo a PF. "Por onde anda a Professora", perguntou Cid em 21 de dezembro. "Informação que foi para uma escola em SP. Ontem", respondeu o militar da reserva.

Três dias depois, novas mensagens obtidas pela PF mostram Câmara dizendo que o alvo monitorado estava em SP. "Volta dia 31 a noite para posse [...] Na residência em SP ? eu não sei onde fica", completou.

A Polícia Federal afirma no relatório da investigação que as provas atestam que o alvo do monitoramento de Camara era Moraes, apesar do uso de codinomes.

"A equipe de investigação comparou os voos realizados pelo Ministro no período de 14/12/2022 até 31/12/2022, com os dados de acompanhamento realizados pelos investigados. A análise dos dados confirmou que o Ministro Alexandre de Moraes foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito estavam em execução."

Os investigadores ainda afirmam que a ação de Marcelo Camara evidencia "ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados", sugerindo o uso de "equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle".

"As ações identificadas de Marcelo Camara revelam o uso de uma ?inteligência paralela? para municiar os planos do grupo. Nesse sentido, considerando o atual estado de liberdade do investigado, não há garantias de que o monitoramento ao ministro Alexandre de Moraes tenha realmente cessado", diz trecho do relatório.


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