SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O veto imposto pelo presidente Lula (PT) a eventos relativos aos 60 anos do golpe militar em órgãos do governo é aprovado por 59% dos brasileiros, enquanto 33% dizem que o petista agiu mal. Não souberam se posicionar 8% dos 2.002 ouvidos pelo Datafolha sobre o tema.
O veto foi a mais recente polêmica envolvendo o presidente, já na mira de sua base mais à esquerda devido ao trabalho de acomodação com as Forças Armadas após anos de simbiose entre os fardados e o governo de Jair Bolsonaro (PL) e o envolvimento de militares nos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023.
Além de fazer diversos acenos aos militares, Lula disse recentemente que a ditadura de 1964 "faz parte da história", pelo que sofreu críticas. Ele também protela a recriação da Comissão de Mortos e Desaparecidos, cujo trabalho focado só nas vítimas do regime, e não nas da luta armada, indispôs de forma terminal a então presidente Dilma Rousseff (PT, 2011-16) com as Forças.
A posição conciliatória de Lula vai em linha com o que ele fez nos seus primeiros dois mandatos, de 2003 a 2010. Produto político daquele período, o petista chegou a ser preso quando comandava greves no ABC paulista.
Acompanhando a polarização vigente quando o tema é a atuação de um de seus líderes, Lula ou Bolsonaro, a autodeclaração política norteia a opinião colhida entre os entrevistados mais do que uma suposta coerência ideológica.
Entre aqueles que se dizem muito ou algo petistas, 41% do total da amostra, 77% acham que ele agiu bem. Outros 19% dizem que ele decidiu mal no caso. Teoricamente, franjas à esquerda são as que mais cobram a lembrança e o debate acerca do período ditatorial.
Na via contrária, 49% dos bolsonaristas afirmam que Lula agiu mal, ante 42% que aprovaram o veto. Aqui, a inconsistência presumida pode ter a ver com uma especulação: o entrevistado pode ter considerado que atos de lembrança do golpe, como o cancelado pelo Ministério dos Direitos Humanos, contivessem algum tipo de elogio à ditadura.
Bolsonaro é historicamente apologista da ditadura, e nunca mudou de posição enquanto ocupou o Palácio do Planalto, de 2019 a 2022.
Entre outros segmentos do eleitorado usualmente próximos do bolsonarismo, como os evangélicos, 52% acharam que o presidente agiu bem e 38%, mal. A maior aprovação ao veto lulista é vista entre aqueles que têm menos instrução, 66%.
Já aqueles que se declaram politicamente neutros, nem petistas, nem bolsonaristas, aprovam majoritariamente o veto (53%, ante 36% que reprovam a decisão de Lula).
A pesquisa do Datafolha foi feita nos dias 19 e 20 de março em 147 cidades. Sua margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
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