Em busca de oferecer maior suporte à população, o estado de Minas Gerais está disponibilizando tratamento para sofrimento ou transtornos mentais na rede pública de saúde. Segundo a Agência Minas, os serviços são oferecidos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que assite em saúde mental a toda a população que apresente sofrimento, transtorno mental ou necessidades de saúde decorrentes do uso prejudicial de álcool e drogas.
É por meio da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) que os serviços atuam de forma articulada, inclusive com outras áreas, como assistência social, educação e direitos humanos para garantir o cuidado efetivo ao usuário.
A coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Taynara Fátima da Silva Paula, explica que o cuidado em saúde mental ocorre na atenção primária, secundária e terciária, de acordo com a necessidade e condição clínica do paciente. "A pessoa em sofrimento mental agudo e persistente deve procurar os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), postos de urgência e emergência, ou unidades básicas de saúde para que um profissional qualificado avalie o quadro e faça a intervenção necessária, seja iniciar o tratamento ou dar o encaminhamento para o serviço adequado”.
Renata Rodrigues Martini, de 40 anos, moradora de Lagoa Santa, é paciente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município. Segundo ela, foi ali que encontrou acolhimento, apoio e pessoas aptas a ouvir e ajudar com as suas angústias: “Iniciei o tratamento há quatro meses. Na verdade, retomei há quatro meses, porque comecei e interrompi por ter arrumado um trabalho e não tinha como vir para cá, então acabei me automedicando. Depois parei de tomar os remédios porque achei que já estava bem. Só que, nisso, deu um efeito rebote e precisei realmente estar mais assídua aqui no Caps para seguir com o tratamento correto, dando um passo de cada vez. Então agora venho diariamente”, relata, desejando não explicar o seu diagnóstico.
Para a paciente, que reflete sobre as mudanças que o tratamento contínuo no Caps promoveu em sua vida, a Renata de hoje é uma pessoa totalmente diferente, mais calma, mais branda e consciente do tratamento. "Quando a gente sabe do que precisa, o que a gente quer para a nossa vida, fica mais fácil. Eu me sinto muito mais leve e confiante”, afirma.
Atividades e tratamentos
Dentre as diversas atividades disponíveis no Caps, Renata destaca seu apreço pelas oficinas de pintura, as exibições de filmes e as atividades de decoração no espaço físico do centro. Ela compartilha sua experiência em relação à interação com os profissionais que atuam no local, enfatizando a importância do afeto recebido. Segundo Renata, o carinho proporcionado no Caps desempenha um papel crucial, pois a atenção, as palavras e os olhares acolhedores proporcionam uma sensação de segurança que é fundamental para seguir com o tratamento.
Mesmo com algum pesar, ela encara esta fase como uma nova oportunidade, reconhecendo que os desafios que enfrenta são consequências de escolhas passadas, realizadas sem tratamento adequado. Apesar de não poder alterar o passado, a paciente encontra motivação para moldar uma nova versão de si mesma e escrever uma história diferente.
De acordo com o psicólogo e coordenador do Departamento de Saúde Mental de Lagoa Santa, Maxwell Civinelli dos Santos, o Caps adulto do município realiza aproximadamente 800 atendimentos por mês. Ele destaca que o maior desafio nesse contexto é o diagnóstico diferencial, pois existem doenças com sintomas semelhantes, como o transtorno de personalidade bipolar e a esquizofrenia. Ter um diagnóstico preciso é crucial para orientar o tratamento no Caps e determinar o caminho a ser seguido. A partir da entrada do paciente na Rede de Atendimento Psicossocial, é desenvolvido um projeto terapêutico singular para tratar cada uma das demandas daquele indivíduo e de sua família.
Dentre as atividades desenvolvidas nos Caps, o coordenador destaca as oficinas terapêuticas, que abrangem artesanato e diversas formas de expressão cultural, salientando a importância dessas atividades para a valorização pessoal dos pacientes, que influencia positivamente no tratamento oferecido. O sentimento de utilidade e a visualização dos resultados do trabalho realizado são componentes essenciais desse processo, conta.
“É comum aos pacientes do serviço de saúde mental o sentimento de inutilidade, incapacidade e impotência. Buscamos dia a dia reverter essa sensação e mostrar para esse usuário que ele é capaz, e tem total condição de fazer e, eventualmente, gerar renda com a sua produção. Ou seja, ele pode estar momentaneamente prejudicado nas suas capacidades, mas esta não é a sua essência, ele é um ser capaz”, ressalta.
Sobre o serviço em Minas Gerais
Minas Gerais conta com 424 Centros de Atenção Psicossocial, de diversas modalidades, sendo I, II ou III, de acordo com a população do município (até 15 mil, 70 mil ou mais de 150 mil habitantes, respectivamente), infanto-juvenil e AD (especialista em atendimento contra o álcool e outras drogas), compostos por equipe multiprofissional, médico-psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, entre outros. Além disso, o estado conta também com 606 leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais.
Em 2023, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) investiu R$ 123 milhões da Rede de Atenção Psicossocial em todo estado, sendo R$ 15 milhões na Atenção Primária para o fortalecimento das Equipes Complementares de Saúde Psicossocial, das Equipes de Atenção Residencial de Caráter Transitório e das Equipes de Consultório na Rua; R$ 97 milhões para os Centros de Atenção Psicossocial e Serviços Residenciais Terapêuticos; e R$ 11 milhões em leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais e no serviço hospitalar às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.
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