Agência Brasil: Quais os principais desafios nas Américas para se garantir acesso rápido e equitativo às inovações em saúde?
Jarbas Barbosa: Temos alguns problemas já bem identificados. Primeiro, o subfinanciamento. Há um consenso entre quem estuda economia da saúde de que um sistema de saúde, para garantir acesso universal com qualidade, precisa de pelo menos 6% do Produto Interno Bruto [PIB - soma de todas as riquezas produzidas no país] como gasto público em saúde. Só temos quatro países da região, quase seis agora, que estão neste patamar. Todos os outros 29 estão abaixo disso.
[Segundo problema identificado] ainda dependemos muito de importação de insumos farmacêuticos, produtos, equipamentos. É muito importante reverter esse quadro e garantir mais capacidade de produção. Estamos trabalhando com os países com vacinas de RNA mensageiro, tecnologia usada pela Pfizer e pela Moderna. Temos dois projetos aprovados, um no Brasil, com Biomanguinhos e Fiocruz, e outro na Argentina.
Agência Brasil: A atenção primária à saúde deve ser o foco central dos sistemas de saúde na região?
Jarbas Barbosa: Não tenho dúvidas sobre isso. A atenção primária tem a capacidade de resolver mais de 80% dos problemas de saúde da população, está próxima da comunidade, consegue identificar os principais problemas de saúde e resolvê-los de uma maneira adequada.
Agora, para funcionar bem, ela precisa de dois movimentos importantes. Primeiro, revigorá-la: se a atenção primária não consegue identificar e controlar a hipertensão e o diabetes, ela não será efetiva. Também é muito importante que essa atenção primária esteja conectada e articulada com os serviços especializados. Ou as pessoas vão continuar preferindo ir à uma emergência e esperar de quatro a seis horas, mas sair com o raio-x, o ultrassom e os demais exames de que precisam, além de serem medicadas. A atenção primária precisa ser resolutiva.
Agência Brasil: Como especialista em saúde pública, o senhor defende uma reforma sanitária brasileira que tenha a saúde como direito universal?
Jarbas Barbosa: A reforma sanitária brasileira, que começou nos anos 1970, resultou em uma Constituição e, dentro dela, na Lei Orgânica da Saúde. Ter o direito à saúde inscrito na Constituição foi uma vitória importantíssima. O que cabe agora às autoridades sanitárias, ao Ministério da Saúde, às secretarias estaduais e municipais é continuar trabalhando para aperfeiçoar esse sistema. Isso envolve financiamento e regionalização.
Um município de 5 mil habitantes não vai fornecer um serviço de tratamento de câncer, por exemplo. Mas esse município precisa saber para onde os pacientes de câncer dele vão. São serviços que podem ser ofertados por grupos de municípios com a participação do estado. Isso poderia racionalizar o uso de recursos e oferecer mais serviços, além de reduzir barreiras.
Agência Brasil: Como a Opas se prepara para um futuro classificado por muitos especialistas em saúde como desafiador, permeado por emergências sanitárias à espreita?
Jarbas Barbosa: Se cada país não estiver melhor preparado, nenhum de nós estará seguro. Quando olhamos as pandemias recentes, há um mesmo comportamento: um vírus que circula entre animais e que faz mutações o tempo todo, completamente ao acaso.
O conceito de saúde única precisa ser implementado na prática, com um sistema de vigilância não só sobre doenças que ocorrem em pessoas, mas também sobre o que acontece em animais, com o objetivo de detectar o mais precocemente possível esse tipo de mudança. Um dos projetos da Opas consiste em fortalecer, em cada país da região, esse conceito da saúde única, fazendo com que a gente possa aumentar a nossa capacidade de predizer e detectar o mais rápido possível quando há uma nova emergência em saúde pública começando.
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