Uma doação do banco internacional de medula garantiu o transplante a uma paciente do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF, sob gestão da Ebserh). É a primeira vez que o Hospital realiza um transplante não aparentado, ou seja, quando não é uma medula doada por pais ou irmãos/as. Raimunda Souza de Almeida Carmo, mais conhecida como Duda, de 53 anos, realizou o procedimento e logo a medula começou a funcionar.


A medula veio da Inglaterra, trazida por um profissional de saúde, tudo intermediado pelo Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), pertencente ao Ministério da Saúde e com financiamento público, responsável por reunir informações de mais de cinco milhões de doadores no Brasil e em articulação com outros bancos no exterior.


“A paciente já era atendida no Ambulatório de Aplasia de Medula, uma doença quase órfã no SUS, de difícil tratamento”, explica o médico hematologista Abrahão Hallack, do serviço de transplante de medula óssea (TMO) do HU. Como ela já tinha tentado tratar a doença com medicações e não existia doador na família, a paciente foi inscrita no banco de medula até aparecer o doador. A partir daí, houve troca de mensagens e a preparação de toda a logística até a chegada da medula ao Brasil, tendo inclusive a Guerra da Ucrânia como um dificultador. “O transplante foi um sucesso e a recuperação foi ótima, apesar de inúmeras intercorrências e novas internações”, acrescenta o médico.


Segundo Hallack, o procedimento representa um passo importante para o início de um programa de transplante de medula óssea que utiliza doadores fora da família, possibilitando a expansão da capacidade de acesso a mais doadores, aumentando a oferta de tratamento a mais pessoas que necessitam desse tipo de terapia.


“O Hospital Universitário tem um diferencial nesses casos, sendo um centro de referência para transplante de medula óssea pelo Sistema Único de Saúde, recebendo pacientes de vários estados.”
Para o superintendente Dimas Araújo, o HU-UFJF vem nos últimos anos se fortalecendo como um centro de referência para o cuidado de pacientes em diversas áreas. “Ações como a deste transplante, além de demonstrar a excelência na assistência, é de grande importância na formação de nossos alunos e residentes, e abre espaços importantes para nossos pesquisadores”, defende.

Do diagnóstico ao tratamento


Residente de Andrelândia, Duda Carmo está bem (Foto: Arquivo pessoal)
Duda Carmo conta como foi o processo entre descobrir a doença e receber o transplante. Moradora de Andrelândia, cidade a 150 km de Juiz de Fora, ela disse que começou a sentir fortes dores nas pernas em 2018; achava que seria em função de trabalhar em pé boa parte do dia, mas vieram também as manchas na pele e a fraqueza.


Procurou ajuda em Juiz de Fora, e disse que seu mundo caiu ao ter o diagnóstico: “Fiquei muito assustada e comecei a procurar ajuda médica. A pandemia atrapalhou, fiquei muito mal, tentei todo tipo de medicação, fiquei quatro meses de cama, não comia nem consegui tomar água, não levantava, achei que ia morrer, nem consegui falar. Minha família chegou a ser chamada, e os médicos disseram que não poderiam fazer mais nada por mim.”


Mas ela reagiu à situação, voltou a se alimentar e a caminhar, até ser transferida para o HU-UFJF, onde disse ter encontrado muito acolhimento, amor e respeito. “Eu tenho a equipe do HU como minha segunda família. Não vou citar nomes, porque seria muita maldade, são muitas pessoas. Eu recebi aqui tudo que precisava: carinho, respeito, apoio psicológico”, assegura.


Em sua narrativa, começou a fazer o tratamento na instituição, onde recebia transfusão e medicamento durante duas vezes na semana. Mas não queria mais viver daquele jeito, e resolveu tentar o transplante, mesmo sendo arriscado e sabendo que poderia não sobreviver. Os irmãos não eram compatíveis e também não foi encontrada medula no banco nacional, até ser confirmada a compatibilidade do doador inglês.
“Fiquei muito feliz, e aguardando. Com muita fé eu recebi essas células. Era muito arriscado, no entanto, eu falei que poderia morrer, mas lutando. Fiz o transplante e logo a minha medula ‘pegou’. Só tenho a agradecer toda essa equipe, à Enfermagem, aos médicos, a gente é muito bem cuidada aqui, muito bem amparada. Foi um milagre, mas milagres acontecem.”


Sobre o Redome


O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), no Rio de Janeiro.


Com mais de cinco milhões de doadores cadastrados, o Redome é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são cadastrados mais de 300 mil novos doadores.


Quando não há um doador aparentado (um irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução para o transplante é procurar um doador compatível entre indivíduos, não familiares, na população regional ou mundial, que representem os diversos grupos étnicos (brancos, negros, amarelos etc.) e sua miscigenação. Atuando de modo articulado com cadastros de todo o mundo, reúne todos os dados dos voluntários, como nome, endereço, resultados de exames e características genéticas.
Atualmente, a busca por doadores para pacientes brasileiros é realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Os bancos internacionais também acessam os dados dos candidatos a doadores a partir de sistemas especializados.

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UFJF - Moradora de Andrelândia é a primeira paciente

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