Aspartame, sacarina, sucralose, stévia e seus derivados estão na lista divulgada pela Organização Mundial da Saúde, que aponta novas diretrizes para o uso de adoçantes. De acordo com o órgão, as substâncias passaram a não ser recomendadas para pessoas que estão em busca do controle do peso e até mesmo como estratégia para a redução de doenças não transmissíveis.

Segundo a médica endocrinologista e metabologista, Thaís Faria Tannure, que é professora do curso de Medicina da Faculdade De Ciências Médicas de Três Rios (SUPREMA), apesar do alerta, não há uma recomendação forte para se usar substituição de açúcar por outros adoçante, porque eles não mostraram benefício quando inseridos na dieta em substituição do açúcar para redução de gordura corporal e controle de peso.

"O outro ponto é que existem estudos com ainda baixas evidências científicas que podem correlacionar o uso dessa substâncias com piores desfechos cardiovasculares e  desfechos de diabetes. Então, por isso, que existiu essa recomendação que ganhou tanta atenção na mídia", destaca Thaís. A médica pontua ainda que o estudo aborda indivíduos sem diabetes.

"Na prática, é mais um reforço que a gente usa para poder orientar os pacientes, porque apesar de ser extremamente necessário acompanhamento nutricional, tanto para os pacientes que têm já alguma doença, por exemplo, diabetes, quanto para aqueles que não têm uma comorbidade já definida, porém,  têm sobrepeso e  obesidade, que também são consideradas condições de saúde que a gente tem que intervir", ressalta a médica, que ainda ressalta que as orientações são importantes tanto para médicos quanto para nutricionistas, porque se trata de uma dúvida recorrente. "Muitas vezes, eles acreditam que estão fazendo o melhor para a saúde deles. E cada vez mais tem mostrado que o uso de adoçante não é uma realidade para proporcionar mais saúde".

Para a nutricionista Brenda Xavier, um dos problemas que enfrentamos, é o uso indiscriminado dos adoçantes. Ela afirma que os  adoçantes, também denominados como edulcorantes, são vendidos livremente no comércio, sem necessidade de prescrição para aquisição. "E devido isto, é muito consumido pela população, mesmo sem orientação da indicação, do tipo mais apropriado e as quantidades de uso."

Brenda lembra que, inicialmente, os adoçantes foram criados para atender as necessidades de pessoas diabéticas, que não podem consumir açúcar, mas tem sido utilizados como forma de reduzir a quantidade de calorias da dieta para auxiliar na perda de peso. No entanto, em várias pesquisa já realizadas, não se evidenciou os benefícios a longo prazo do uso de adoçantes.

"Este mês, foi divulgado a orientação da OMS para a descontinuidade do uso de adoçante como método de emagrecimento e para evitar doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, obesidade, câncer, AVC, dentre outras). Vale ressaltar que a OMS não verificou neste estudo a segurança desses adoçantes comerciais para a saúde.

A nutricionista ainda pontua que a orientação não inclui adoçantes polióis (xilitol, manitol, sorbitol, dentre outros). Além disso, ressalta que a indicação não inclui indivíduos com diagnóstico de diabetes mellitus. "A OMS aborda sobre o uso e dosagem dos adoçantes, sendo que altas dosagens se associaram ao aumento do IMC e aumento de 76% de risco de obesidade.

A recomendação não vale apenas para os adoçantes que compramos e deixamos na mesa para adoçar os alimentos e preparações. Eles também estão presentes em vários alimentos industrializados, que muitos não levam em consideração na hora de verificar a quantidade consumida. "É importante sempre ler o rótulo dos alimentos e evitar esses alimentos ultraprocessados (aqueles que não conseguimos produzir em casa, que precisam de ingredientes industriais, que muitas vezes nem sabemos o que aquele nome na lista de ingredientes significa)", aconselha a nutricionista.

Alguns estudos mencionados pela OMS, conforme frisa Brenda, demonstram aumento de 23% do risco de diabetes tipo 2 quando o adoçante foi consumido em bebidas adoçadas e aumento de 34% no risco quando consumido como item de mesa. Em crianças os resultados são limitados, provavelmente devido a dificuldade de realizar pesquisa com esta faixa etária, por questões éticas, mas, considerando os estudos até o momento, não foi verificado benefício do uso de adoçante para emagrecimento. Em gestantes os dados também são limitados, porém, em alguns estudos foi demonstrado que a ingestão de altas doses de adoçantes estavam associadas a um aumento em 25% de parto prematuro.

Formas saudáveis de reduzir o açúcar na alimentação

Segundo a nutricionista Brenda Xavier, não há algum tipo de alimentação para o qual o adoçante deva ser utilizado. Para ela, a  melhor recomendação é o uso dos alimentos em sua forma natural, com o seu próprio sabor, sem adição de açúcar ou adoçante.

"O correto é que desde a alimentação completar, aquelas que iniciamos quando a criança tem 6 meses e precisa de alimento além do leite materno, os alimentos já sejam ofertados desta forma. A construção de hábitos saudáveis é a melhor alternativa. As papilas gustativas presentes na nossa língua se adaptam com o tempo, ou seja, no início pode ser até mais difícil a retirada do açúcar, pois irá mudar o padrão de consumo, mas com o tempo, isso se torna natural e prazeroso."

Em caso de dificuldade da retirada total de açúcar, reforça a nutricionista, ela pode ser feita de forma gradual ou através de substituições da alimentação. Por exemplo: reduzir a quantidade de colher de açúcar que coloca no café; e/ou reduzir o número de vezes no dia em que toma o café com açúcar. "As frutas em geral possuem sabor doce, e quando maduras, essa doçura se torna ainda mais evidente. Desta forma, ao invés de fazer uma vitamina de fruta com açúcar, você pode fazer a vitamina com uma fruta mais madura. O mesmo também vale para a salada de fruta, que pode ser elaborada com frutas maduras, e com substituição do leite condensado por suco de laranja lima, por exemplo". 

"Sucos mais azedos como o de maracujá, podem ser batidos com maçã para ficarem um pouco mais doces", indica Brenda.

A nutricionista ressalta ainda, que quando o assunto são indivíduos que  possuem algum tipo de doença, o uso de adoçantes tem que ser ainda mais cuidadoso. Pacientes renais, por exemplo,  devem evita o uso de acessulme-k e ciclamato de sódio, pois podem até piorar a função renal. "Ou seja, em vez de ter algum resultado benéfico com o uso do adoçante, o mesmo pode causar danos. Além de doenças, em alguns ciclos da vida, também requerem cuidado, como a gestação. O risco dos adoçantes na gestação ainda não está bem estabelecido por poucos estudos em humanos, mas em alguns trabalhos realizados com animais, verificou-se que alguns tipos de adoçantes podem causar efeitos no feto, como aborto espontâneo, anormalidades congênitas, retardo do crescimento intrauterino, dentre outros." 

Até o momento, como pontua Brenda, os adoçantes que possuem menor risco para a gestação são o aspartame, sucralose, acessulfame-k e estévia, devendo ser restrito o uso para gestantes com diabetes (pré-existente ou diabetes gestacional). "As demais gestantes, é orientado manter uma alimentação saudável, com redução do consumo de açúcar e sem uso de adoçante. Mesmo a gestante diabética, o ideal é a alimentação saudável, sem uso de adoçante."

 

 

 

 

 

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Adoçantes | aspartame | Diabetes | OMS | sacarina | Saúde | sucralose

Marcelo Camargo/Agência Brasil - Brasília (DF), 17/05/2023 - A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou novas diretrizes sobre o uso de adoçantes e passou a não recomendar o uso desse tipo de produto para controle de peso ou como estratégia para reduzir o risco de doenças não transmissíveis. A lista inclui aspartame, sacarina, sucralose, stevia e derivados. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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