Rep?rter: Silvia Zoche

A "imagem" era a forma de express?o dessa d?cada e a moda foi uma das alternativas para transmitir o que se pensava. Cabelos com topetes, brilhos, g?tico, b?sico, rom?ntico, simples, pink, camisa feminina com gravata, napa, ombreiras, scarpin, cores ?cidas, sand?lia de pl?stico (lembra alguma coisa?), cal?a baggy, saia balon?...

O look exagerado foi a pauta desta d?cada, mas havia espa?o para quem quisesse expressar a simplicidade, como Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, citados pela especialista em Jornalismo de Moda e Comunica??o de Moda, Nivea Heluey (foto ao lado). "A imagem era uma forma de express?o das pessoas. Por isso, muitos movimentos usavam a moda para expressar opini?es", diz. A moda era democr?tica e Nivea acredita que isso tinha a ver com a abertura pol?tica que o pa?s come?ou a reviver.

Em Juiz de Fora, ela lembra da boate Factory. "Eu ?a na matin? e havia mulheres que faziam maquiagem na gente. Na cidade, o topete foi a pontua??o mais incisiva". Sua m?e e tia possu?am, na ?poca, uma loja que foi muito ligada a tend?ncias. "Elas faziam pesquisas de moda e a especialidade delas era o jeans. Cal?as clochard e baggy, vestidos e saias balon?s foi muito forte em Juiz de Fora", lembra.

A moda era uma forma de experi?ncia, com pesquisa de novos tecidos, como o strech. "Era uma material super novo, tanto jovial quanto b?sico. Todo mundo brincava um pouco nessa ?poca. Lembro de um anivers?rio de dois anos do meu irm?o, em que minha m?e e minhas tias usaram um camis?o com gravata, a meninada com gel nos cabelos... Super fashion".

Com rela??o ? moda masculina, Nivea diz que o jeans predominava, com influ?ncias futuristas no uso da napa, do brilho. Ela cita o filme Blade Runner. "Foi um dos ?cones da d?cada, com pontua??o na moda", recorda.

Mochilas da Company foram uma febre em Juiz de Fora, assim como usar t?nis de duas cores: amarelo com preto, amarelo com azul, verde com preto...


A "maneca, lour?ssima", Sonia Maria Oliveira, era chamada assim nos jornais at? 1981, ?ltimo ano em que atuou como manequim em Juiz de Fora. Manequim por oito anos, ela lembra que nas d?cadas de 1970 e parte de 1980, a moda n?o tinha o enfoque que possui atualmente. "Antes, n?s mesmas t?nhamos que nos virar com maquiagem e cabelo. N?o havia todo este aparato de hoje".

Sonia acredita que Juiz de Fora era uma cidade avan?ada para ?poca. "At? o Clodovil veio prestigiar os desfiles e um diferencial ? que os desfiles eram beneficentes". Na passarela, as manequins entravam, algumas vezes, ao som de m?sica ao vivo de bandas e havia um locutor descrevendo os trajes e o tipo de tecido, assim como acontece em concursos de beleza.

Em duas cores, vestido avental, com abertura dos lados e pespontos broncos, pr?prio para o dia-a-dia. Simples e bonito, d? total liberdade de movimento. Tem como complemento botas e chap?u. O tecido ? gabardine e a modelo ? Sonia". (Fonte: Jornal Di?rio Mercantil)

Sonia customizava as pr?prias roupas e diz que as pessoas estranhavam, porque sa?a da moda vigente e tamb?m por ser din?mica no seu dia-a-dia, afinal era secret?ria executiva de uma multinacional, pintora, manequim, decoradora de vitrines.

Tamb?m foi convidada para desfilar em outras cidades e at? para morar fora, mas seu pai n?o deixava. "Fiz desfiles em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e S?o Paulo, mas meu pai achava um absurdo. Quando desfilei para uma loja de pijamas, falaram pra minha fam?lia que eu estava desfilando nua. Isso na metade da d?cada de 70", conta.

Al?m de modelo, Sonia produzia alguns desfiles e mixava na passarela a ?urea do teatro. "J? coloquei oito motocicletas na pista e j? elaborei uma pe?a teatral. Algo muito diferente do que se fazia", afirma.


"Juiz de Fora j? foi uma cidade de f?bricas e ind?stria de malhas forte". Entre as lembran?as que a estilista e especialista em Estilismo e Modelagem Aline Firjam, 30, possui dessa ?poca est? a Fejuf, uma feira com expositores locais e da regi?o. "Havia, inclusive, stands com desfiles. J? fomos muito fortes nisso e, com o tempo, foi-se perdendo espa?o", diz.

A fam?lia de Aline, que ela conta que tem tradi??o industrial, atualmente, continua com a marca de antes, mas n?o fabrica mais e sim terceiriza. Aline, que come?ou a trabalhar em fac??o aos 17 anos, conhece todos os processos. "Aprendi, corte, costura, modelagem... e sei que o processo de produ??o desde a cria??o ao com?rcio ? muito caro. Ou fica-se na produ??o ou no com?rcio. Na d?cada de 80, quem possu?a marca pr?pria, fazia tudo. Hoje ? fac??o num local e montagem em outro", ressalta.

Recorda?es dessa ?poca tem a Teresa Aquino Luiz, que trabalha, atualmente, na confec??o de Aline. Teresa conta com saudades do tempo em que trabalhava na Malharia M?ster. "Em 1981, a f?brica come?ou a crescer. A produ??o era de 150 mil pe?as por m?s e com o tempo chegou a 250 mil pe?as por m?s. ?ramos entre 900 a mil funcion?rios. Na ?poca, a cidade tinha mais de 400 malharias e f?bricas de meias", recorda.

Um dos investimentos da M?ster era em seus funcion?rios. "Participava da Fenit todos os anos. J? viajei para Europa tr?s vezes pela f?brica para estudar mais sobre os tecidos. Juiz de Fora era a Manchester Mineira at? 1990. N?o deram subs?dio para as empresas e a cidade perdeu tanto...", comenta.

Marcante na mem?ria ? que Juiz de Fora foi um centro de vendas, de pessoas de outras cidade vindo para comprar no atacado. "Tenho muito orgulho da f?brica que trabalhei, do produto que faz?amos. Uma empresa s?lida, que se preocupava com os funcion?rios. A M?ster foi uma escola". Ela diz que reconhecia de longe uma pe?a da M?ster. "Lembro de estar no aeroporto e ver um homem com uma camisa da M?ster que, na verdade, era uma blusa de pijama".

"Vejo as f?bricas fechando com pesar. Juiz de Fora ? uma cidade voltada para confec??o" e cita algumas f?bricas como Santa Cruz, Santa B?rbara, S?o Nicolau e Magnatex.


O maquiador Reinaldo de Olveira Angelo diz que a tend?ncia de cores da sombra eram a branca, verde, azul e delineador branco em cima e embaixo dos olhos. Usava-se tamb?m pequenos riscos pretos sob os olhos, tipo boneca. O blush era bem forte, marcando bem o rosto. Para n?o exceder, o batom deveria ser claro. Mas o brilho era essencial.

Emails enviados ? Reda??o

Em primeiro lugar, queria parabenizar os jornalistas Humberto Nicoline e Jorge Sanglard pelo belo e importante trabalho "Anos 80 em Juiz de Fora". E tamb?m ao ACESSA.com por ter aberto espa?o para que a nova gera??o possa conhecer um pouco da JF daquela ?poca. Fotos lindas, bons textos, conte?do informativo e bem pesquisado.

Entretanto, queria registrar que, em se tratando do item moda, senti falta de algumas personalidades que marcaram aquela d?cada. A primeira delas ? o saudoso Darcy Abi-Nasser, dono da Fios e M?quinas e um dos maiores incentivadores que a moda juizforana j? possuiu. Ao lado de Jo?o e Eduardo Delmonte, Karminha Lopes e tantos outros que n?o mediam esfor?os para mostrar o que a cidade tinha de bom nesse quesito, Darcy ? figura inesquec?vel. Dotado de extremo bom gosto, tinha em sua personalidade o arrojo necess?rio para imprimir ousadia e pioneirismo nos eventos que ajudava a promover. Al?m disso, seu "olho cl?nico" deu a Juiz de Fora uma das melhores safras de modelos de passarela e est?dio. Foi em meados daquela d?cada, por sinal, que eles come?aram a se profissionalizar.

Hoje, naturalmente, os eventos de moda est?o mais sofisticados e chego a me surpreender com o profissionalismo que se faz presente nos desfiles e campanhas, n?o perdendo em nada para os grandes centros. Quero, portanto, aproveitar a oportunidade e parabenizar tamb?m a toda essa nova gera??o de promotores, modelos, lojistas, confeccnionistas e jornalistas de moda, que est? fazendo bonito em nossa cidade, neste segmento que ? t?o importante para a nossa economia.

Ana Goulart
Jornalista (ex-editora de Moda da Tribuna de Minas)



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