Entrevista
Marcos Petrillo
Produtor cultural e organizador dos Festivais de Rock da d?cada de
80
1) Como surgiu a id?ia dos Festivais de Rock?
Os festivais surgiram de um anseio juvenil que amadureceu com os meus
primeiros contatos com shows profissionais que assisti em Juiz de Fora, Rio
e S?o Paulo. Eu j? queria fazer festivais, por?m n?o sabia por onde come?ar.
Quando senti a possibilidade real, parti para realiz?-los.Quando assisti
Woodstock, tardiamente no cinema em 1976, tive a certeza que era aquilo que
procurava para minha vida.
2) Na ?poca voc? era estudante, estava envolvido com algum movimento?
Sim, eu fazia Hist?ria e procurava me aproximar dos movimentos estudantis
pelo fasc?nio que eles ainda exerciam devido ? ditadura, com todo aquele
clima de clandestinidade, mas principalmente pelas discuss?es que rolavam
sobre cinema, m?sica e a pol?tica propriamente dita. Mas, nunca fiz parte de
nenhuma corrente do movimento estudantil ou sequer fui daqueles militantes
de carteirinha. Procurava me inteirar de certas coisas e na medida do
poss?vel, participar de passeatas e manifestos como apoio num?rico, pelo
menos. Um pouco depois me filiei ao PT e ajudei a fund?-lo em Palma, minha
cidade natal. Mas, apesar do meu entusiasmo, as linhas duras de um partido,
principalmente do PT naquela ?poca, me assustaram um pouco e preferi a for?a
libert?ria do rock, onde podia ser eu mesmo, sem regras e ainda assim, ter
uma ideologia.
3) Quais foram os artistas que participaram?
Quando iniciei os festivais de Juiz de Fora, quase que todas as tribos que
representavam o rock naquele momento estivessem presentes. Dos Punks
paulistas e brasilienses, passando pelo New Wave carioca e o Rock and Rool
b?sico. Da? convidei Raul Seixas, Erasmo Carlos, Bar?o Vermelho, Olho Seco,
C?lera, Rog?rio Sky-Lab, Sangue da Cidade, Lob?o e os Ronaldos, entre
outros.
4) Quem foram os organizadores?
No primeiro festival, al?m de mim tinha: uma galera do Rio - S?rgio de
Castro, Sandra Lomelino, Cleofas Peixoto e Maria Ju?a (hoje, diretora do
Circo Voador) e o pessoal de Juiz de Fora - A?cio, Toninho Buda, Virginia
Guilhon, Anderson Her?dia e Knor.
5) Qual foi o impacto do primeiro Festival na juventude juizforana?
Acredito que o impacto do primeiro festival foi um dos dois mais
contundentes dos cinco realizados, indo al?m da juventude local. Acredito
que aquele festival serviu para apresentar a nova linguagem do rock
brasileiro, e por ter sido bem pr?ximo ao centro da cidade, no campo de
futebol do Sport Club, os moradores sentiram o impacto e a for?a de um
evento que espalhou Punks e figuras pouco convencionais pelas ruas, causando
at? algumas confus?es e chocando pelo agressivo visual. No campo musical e
comportamental, era sem d?vida uma experi?ncia inusitada, principalmente
para os jovens mais capazes de assimilar a nova ordem que surgia.
6) Quais foram os festivais seguintes?
Al?m do primeiro festival, outros quatro foram realizados respectivamente em
85, 86, 89 e 93. Em 85, foi o mais bem sucedido de todos em termos de
organiza??o, p?blico e resultado financeiro. T?nhamos Legi?o Urbana, Ultraje
a Rigor (no auge), Celso Blues Boy. L?o Jaime e Robertinho de Recife. O
evento foi realizado em um dia conforme o primeiro e teve imagens feitas por
Lael Rodrigues para o longa metragem, "Rock Estrela".
Em 86, o clima foi o que descrevi na pergunta ..... e se apresentaram: Capital Inicial, Lob?o, Cazuza. Ira, Camisa de V?nus, entre outras duas dezenas de grupos. Este festival rolou durante dois dias no Jockey.
Em 89, o evento foi diferente. Realizado no Espa?o Mascarenhas, que teve como aquecimento uma super exposi??o de rock e os grupos se apresentaram no teatro do espa?o durante a semana e no s?bado Bar?o Vermelho, Picassos Falsos, Uns e Outros, Inimigos do Rei, Nabi Clifords entre outros, fizeram a festa.
Em 93, o evento voltou para o Jockey Club e teve como atra?es principais, novamente o Bar?o Vermelho e Ratos de Por?o pela primeira vez em Juiz de Fora, al?m de Big Alambic, Virnalise e diversas outras bandas do rock emergente da ?poca.
7) Quais as principais mudan?as do primeiro Festival para o ?ltimo?
Do primeiro Festival de Rock de Juiz de Fora realizado em 1983 at? o ?ltimo
evento ocorrido em 1993, no Jockey Club, se passou uma d?cada. Acho que a
principal mudan?a ? que em 83 n?s t?nhamos novidades a apresentar, dez anos
depois o rock estava em uma entressafra e j? n?o tinha nada de novo capaz de
criar a agita??o do primeiro.
8) Voc? se recorda de algum caso engra?ado, tenso ou que marcou a ?poca
dos festivais?
? dif?cil achar gra?a em meio a tanta tens?o que rolava durante os eventos.
S?o tantos compromissos financeiros e hor?rios a cumprir, que pouco tempo
sobrava para as gargalhadas. ? l?gico que rolavam coisas engra?adas, mas os
problemas eram tantos, que dava tipo um bloqueio.
Vou falar ent?o do lado tenso que muito marcou um dos meus eventos: em 1986, quando eu realizava o terceiro Festival de Rock, que foi um evento, por op??o nossa, mais politizado e contestador, aconteceu uma invas?o da Pol?cia Militar devido aos protestos contra a pr?pria pol?cia, o estado e a igreja. Na verdade, n?s que produzimos n?o desej?vamos que os grupos radicalizassem tanto, e n?o tivemos como deter algumas agress?es verbais no palco. A pol?cia passou a controlar o palco nos tr?s ou quatro ?ltimos shows e eu tive que discutir asperamente com o sargento que estava no comando, que al?m de controlar o palco, pegou pesad?ssimo nas gerais dadas na portaria em busca de drogas.
No dia seguinte, a Arquidiocese de Juiz de Fora condenou o festival em documento publicado na Tribuna de Minas e ainda enviou uma correspond?ncia para uma institui??o que apoiava o evento, com o mesmo teor. Ainda neste dia, tive meu carro detido pela pol?cia, que ficou em torno de cinco dias no p?tio de uma penitenci?ria local. Fui convocado a prestar esclarecimento na Pol?cia Federal e sofri amea?as de policiais para n?o "dar mole pela cidade ". Foi tudo simplesmente horr?vel e tenso.
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