Rep?rter: Silvia Zoche

Veja abaixo relatos de algumas pessoas que viveram o cen?rio pol?tico da d?cada de 80 em Juiz de Fora. Elas relembram acontecimento importantes, confira:


Fl?vio Cheker (PT) tem forma??o acad?mica em Letras pela UFJF, 47 anos, atualmente ? vereador. Militou, tamb?m no Comit? Brasileiro pela Anistia (CBA), criado em julho de 1978, comit? este que, entre outras coisas, denunciava e protestava contra torturas; levantava a identidade, a localiza??o e a situa??o de todos os presos, cassados, banidos, aposentados, exilados e perseguidos pol?ticos. O CBA tamb?m lutava pela liberta??o, pela volta ao Pa?s e pela retomada da exist?ncia civil, profissional e pol?tica.

Checker destaca sua participa??o pol?tica ao entrar na Universidade, no final de d?cada de 70. "O ponto culminante foi o prosseguimento pela redemocratiza??o do pa?s e a luta estudantil que foi muito importante", diz.

Ele relembra que a reconstru??o da Uni?o Nacional dos Estudantes (UNE), em 1979, em Salvador foi acontecimento marcante. "Fui ao Congresso e era um dos representantes. O governo militar tentou impedir a reuni?o, jogaram grampos nas ruas para furar pneus. A ilumina??o era prec?ria e foi muito tenso", conta.

Fl?vio Checker ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), em Juiz de Fora, e a elaborar a Ata dos Signat?rios. J? foi presidente do Diret?rio Central dos Estudantes (DCE) e mesmo depois de formado "continuou a luta". "Havia um certo temor e sentimento de que os movimentos n?o adiantassem nada e/ou radicalizasse as a?es do governo vigente. Mas, ao mesmo tempo, existia a sensa??o de poder continuar". Cheker cita tamb?m a import?ncia da continua??o do movimento oper?rio em 1980. "Atrav?s de Lula e da interven??o da Igreja Progressista, o povo come?ou a ver sua soberania", afirma.


O m?sico, soci?logo, e assessor, Jorge Ant?nio Costa (PSDB) - mais conhecido como Pantera - diz ter nascido em meio a pol?tica, porque o pai era ligado ao trabalhismo Getulista (PTB) e o tio era Lacerdista (ARENA) e os dois conversavam sobre suas posi?es pol?ticas. "As conversas eram comuns e essa foi a escola que me politizou precocemente", diz.

Antes de falar sobre a d?cada de 80, Costa lembra que o golpe militar foi a maior decep??o de seu pai. "A id?ia dele, que era ferrovi?rio, era bloquear o avan?o das tropas, mas as pessoas que haviam combinado n?o foram. A sociedade foi tencionada e acredito que n?o teve jeito: os militares tomaram o poder. O Brasil n?o andava e Jo?o Goulart n?o tinha mais voz de comando", analisa.

Para Pantera, o Brasil viveu um hiato: 21 anos de ditadura. "Comparo com a sensa??o do Monumento dos Pracinhas, os soldados que morreram na 2? Guerra Mundial. Eles n?o se realizaram plenamente, porque foram defender uma causa que n?o era deles". Ele se diz uma das v?timas da ditadura, "v?tima existencial", porque perdeu um amigo que defendia a causa dos grileiros e outro que "pirou e se matou". "Ohando pra tr?s vejo que n?o tinha jeito mesmo e acredito na possibilidade disso acontecer novamente. O alto comando das For?as Armadas est?o, atualmente insatisfeitos. Sinto que vivo, novamente, o clima pr?-64", afirma.

Ele chegou a Juiz de Fora em 1974, passou pelo PCB, na clandestinidade, depois MDB e em 1980, na funda??o do PT na cidade era um dos delegados, mas n?o p?de ir devido ao nascimento da filha. Em 82, voltou para Tr?s Rios, onde candidatou-se a prefeito. "Tive um desentendimento s?rio com o PT e sa?. Entendi que o partido era um subproduto da ditadura", comenta. Foi para o Rio de Janeiro e cursou a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e trabalhou numa produtora na ?rea de jingles. "Por coincid?ncia, Artur da T?vola, Sergio Cabral e Afonso Cabral de Melo Franco estavam em campanha pelo PSDB e foram ? Ag?ncia e me conheceram", conta. Depois de participar da funda??o do PSDB voltou ? Juiz de Fora e novamente para o Rio, onde ficou at? 1996.

Mas, Pantera volta no tempo e fala de uma ?poca marcante na d?cada de 80: as Diretas. "Foi marcante, porque tinha a expectativa da aprova??o da emenda", que foi derrotada na C?mara dos Deputados em 25 de abril de 1984. "Uma vers?o muito aceita ? que Tancredo Neves (ent?o governador de Minas Gerais) era contra ? emenda, porque Ulysses Guimar?es seria candidato contra Leonel Brizola e temia que Ulysses perdesse", diz. Segundo Pantera, o "azar dos azares" foi ter Jos? Sarney, vice-presidente de Tacredo Neves como presidente, na elei??o indireta em 1985. "A gente recebia o sal?rio do m?s e tinha que comprar tudo na hora, porque a infla??o era enorme. Eu n?o tinha dinheiro para sair no fim de semana, ent?o a divers?o era abrir a dispensa e ver o que tinha mantimento", diz.

Como m?sico, Pantera analisa os anos 80 como o per?odo em que "a milit?ncia migrou para o rock. Em 1989, por exemplo, eu que abri o showm?cio de Lula no 2? turno, candidato a presidente, mesmo tendo apoiado M?rio Covas no 1? turno. Toquei de gra?a, porque todos eram contra Collor. O mais curioso ? que na ?poca da ditadura falava-se muito do amanh?. Quando veio o amanh?, veio o Collor. Outra decep??o.", lembra.


O advogado Raymundo, Tarc?sio Delgado, j? foi vereador, deputado estadual, deputado federal e prefeito de Juiz de Fora. Seu primeiro mandato como prefeito foi na d?cada de 80, entre 1983 e 1988. Ele acredita que os acontecimentos nacionais, dessa ?poca, tiveram muita repercuss?o na cidade. "Juiz de Fora sempre foi politizada e sintonizada com a evolu??o pol?tica", diz.

Ele conta sobre sua elei??o no fim de 1982, para prefeito, com 42 anos, assumindo em 1? de fevereiro de 1983, per?odo ainda autorit?rio. "Mesmo assim come?amos com um tipo de a??o de democracia participativa, com forte controle social do poder municipal, o que era absolutamente estranho para ?poca", afirma.

Criou um Conselho Municipal que deu poderes a sociedade se reunir e Conselhos setoriais, como sa?de, educa??o, transporte, meio ambiente. "Juiz de Fora foi um exemplo nacional de abertura para pr?tica democr?tica, apesar do quadro desfavor?vel por dois anos", conta.

A pr?tica de participa??o n?o era f?cil, j? que o pa?s, como um todo, havia vivido 20 anos de ditadura. "As pessoas ficavam temerosas e corria-se um certo risco, claro. Foi dif?cil, mas havia uma turma de vanguarda, que tinha coragem de avan?ar dessa forma".

Ao ser prefeito, pela primeira vez, conta que formou uma equipe com pessoas novas, como ele diz, "a meninada da faculdade". "Eles participavam com resist?ncia ? ditadura e conscientes. Causou-se um estranhamento, porque n?o foram pessoas de indica??o", recorda-se.

A primeira a??o de seu mandato que recorda-se foram os mutir?es dominicais. "?amos aos bairros, todos os secret?rios, and?vamos e v?amos os problemas do local e depois de uma reuni?o e debates, perguntava-se a comunidade quais os problemas mais graves, de prioridade. Lan?amos um trabalho em mutir?o para fazer rede de esgoto, entre outras coisas, com a ajuda dos moradores que quisessem. ?amos com os t?cnicos e os moradores ajudavam. A melhor obra que havia era essa, porque havia esp?rito comunit?rio".


Atualmente, o professor de Hist?ria, S?rgio Augusto Leal de Medeiros, n?o possui milit?ncia. "Conduzi a uma vis?o pol?tica que transcende a milit?ncia partid?ria", explica. Ele diz que partido ? constru??o do s?culo XIX e para falar da d?cada de 80 ele volta 20 anos. "Na d?cada de 60 e 70, a minha fam?lia sempre se preocupou com quest?es pol?ticas, porque o espa?o pol?tico era restrito, devido a ditadura militar".

Na ?poca de faculdade, cursando Hist?ria, ele conta que o Instituto de Ci?ncias Humanas e Letras (ICHL) mobilizava-se em torno de quest?es como acesso dos alunos ao Campus, defesa ad Universidade p?blica e Restaurante Universit?rio (RU). Medeiros participava ativamente e chegou a ser foi secret?rio do Diret?rio Acad?mico (DA) do ICHL. "Nasci de um grupo respons?vel pela primeira greve na universidade. O DCE (Diret?rio Central dos Estudantes) era, naquele momento, o grande catalisador de outros espa?os da cidade.Isso contribuiu muito para quebrar a ditadura", conta.

Tamb?m fez parte do movimento que fundou o Partido do Trabalhadores (PT), em Juiz de Fora. "Reun?amos no sal?o da Igreja da Gl?ria. Todos que estavam envolvidos tiveram um papel importante". Em 1980, formou-se em Hist?ria, ?poca do governo militar de Jo?o Batista de Oliveira Figueiredo. "Fiz um concurso e passei em 1? lugar - certa contradi??o - no Minist?rio da Aeron?utica, na ?poca da abertura pol?tica, em 1984/85", diz. Ele lembra que o processo de abertura foi negoci?vel e que as Diretas J? legitimaram uma negocia??o palaciana, "um processo que n?o rompesse com os militares".

Para Medeiros, o rompimento da ditadura trouxe um novo eixo no movimento estudantil. "H? a introdu??o sobre discuss?es de sexualidade, comportamento (drogas, m?sica, cultura...), explos?o de bandas, teatro, tudo isso para expressar o mundo pol?tico em outros ramos", relembra.


M?dico, bacharel em Direito, professor universit?rio e pol?tico O, atualmente, deputado estadual, Sebasti?o Helv?cio, come?ou sua rela??o com a pol?tica no Diret?rio Acad?mico (DA) de Medicina, faculdade que cursou. Teve sua primeira disputa eleitoral, em 1982, para prefeito de Juiz de Fora e que participou tamb?m como estreante de um com?cio pelas "Diretas J?", em Curitiba, que acredita ter sido "simbolismo para representar bem o brasileiro". Ele lembra que distribu?ram adesivos com o slogan Quero votar para presidente. "Apesar de n?o conseguirmos ganhar a vota??o, criou-se um clima para elei??o de Tancredo Neves", diz Helv?cio.

Para ele, os trabalhadores n?o estavam envolvidos com as Diretas, mas que a partir dos primeiros com?cios, a grande imprensa come?ou a divulgar. "Em Juiz de Fora, teve um com?cio na Pra?a da Esta??o, em que falei bastante. Nesse dia, estavam presentes, inclusive, Ulysses Guimar?es e Itamar Franco. Foi bem popular e n?o somente com a presen?a de grupos diretivos". Recorda-se, tamb?m, que as lideran?as pol?ticas estavam a favor.


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