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Depoimento de Luiz Ruffato
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Cheguei em Juiz de Fora em janeiro de 1978 em busca de um emprego que
pudesse sustentar os meus estudos. Ainda no dia da chegada, junto com mais
dois colegas de Cataguases, arrumei trabalho numa oficina situada na
Rua Saint-Clair de Carvalho.
Fazia de tudo l?, desde tornearia-mec?nica (profiss?o em que me formei no Senai de Cataguases) at? servi?os gerais (como soldagem). Dormia num quartinho atr?s da oficina e ? noite fazia o terceiro-ano-integrado num cursinho na Galeria do Bar do Beco. ?s vezes, na hora do almo?o (um p?-efe numa lanchonete perto do trabalho), caminhava para os lados do Parque Halfeld, para ir conhecendo a cidade. Numa dessas vezes, aconteceu a minha tomada de consci?ncia pol?tica. Estava resolvendo algum problema no cursinho. Demorei um pouco e quando sa? da galeria e entrei no Cal?ad?o da Rua Halfeld me vi no meio de uma multid?o. Como n?o entendi o que estava acontecendo, me encostei num canto e fiquei observando o que ocorria. No Cal?ad?o, posicionados, estudantes carregavam cartazes e faixas e gritavam palavras de ordem.
No Parque Halfeld, perfilados, soldados do Batalh?o de Choque com c?es e cavalos, aguardavam um sinal qualquer para atravessar a Avenida Rio Branco. De repente, soltaram um foguete na dire??o da pol?cia e iniciou-se uma enorme batalha. Com cassetetes, bombas de g?s lacrimog?neo, cachorros e cavalos, a pol?cia tentava dispersar a multid?o.
Fiquei paralisado, entocado pr?ximo da entrada de um pr?dio, sem conseguir perceber que ali ? minha frente estava se desenrolando a Hist?ria. O resultado dessa batalha todos conhecem: a ditadura iniciava a sua derrocada.
No final daquele ano, prestei vestibular para Comunica??o na UFJF, passei e dei uma guinada na
minha vida. Me envolvi na pol?tica estudantil (participei da refunda??o da
UEE, numa viagem m?gica a Ouro Preto, fui candidato ao DA de Comunica??o e
ao DCE), ajudei na funda??o do PT, corri todos os lugares defendendo
a Anistia e a Redemocratiza??o. E chocalhamos tamb?m a cultura de Juiz de
Fora. Os s?bados eram dedicados ao Varal de Poesia (literatura e
pol?tica de m?os dadas), os dias da semana ? formula??o de livros da
Roseta Publica?es e depois da Sociedade de Articultura. E
destemidos tamb?m cuidamos da mem?ria da cidade: as campanhas pelo
tombamento de monumentos arquitet?nicos e pela introdu??o de uma
pol?tica cultura, que at? hoje faz a diferen?a de Juiz de Fora no cen?rio
nacional.
Em fins de 1983, deixei a cidade, a que voltaria num breve per?odo entre 1987-1990. Fiz amigos que me acompanham at? hoje. A cidade mudou. Eu mudei. Mas, ambos, eu e a cidade, permanecemos enamorados um do outro...
Luiz Ruffato.