Voluntarismo
A for?a do trabalho solid?rio em tempos de crise

Disposi??o para a solidariedade

?At? os anos 40, mais ou menos, existia pobreza no Brasil, mas n?o mis?ria. O movimento urbano ? que gerou a mis?ria, reflete o professor da UFJF e diretor do grupo de teatro Divulga??o, Jos? Luiz Ribeiro. ?Nosso pa?s sempre foi de muita fartura em terras e alimentos e nunca passamos por guerras nem per?odos de escassez. Talvez por isso o brasileiro n?o tenha t?o forte essa cultura do voluntariado, como existe em pa?ses europeus, por exemplo. Mas agora, com o caos dos grandes centros urbanos, o trabalho do volunt?rio ? fundamental. N?o d? para esperar o governo resolver. A nossa sociedade desse final de s?culo est? carente, n?o s? na parte econ?mica, mas tamb?m espiritual, afetiva, social.?

Com a cria??o da ?A??o da Cidadania contra a Mis?ria e pela Vida?, o soci?logo Herbert de Souza (1935 - 1997), o Betinho, foi uma das principais lideran?as de uma nova corrente de trabalho solid?rio no Brasil: das institui?es que n?o dependem do Estado e que buscam, atrav?s de parcerias com o setor privado, recursos para manterem suas atividades.

As associa?es s?o un?nimes ao afirmarem: toda colabora??o ? bem vinda. A doa??o de dinheiro, roupas, rem?dios e alimentos ? uma alternativa f?cil. ? claro que, antes de ajudar, ? preciso conhecer a institui??o e, feita a doa??o, ? bom acompanhar de perto o destino da sua ajuda.

Mas quem tem disponibilidade de tempo pode oferecer o seu pr?prio trabalho. Exemplos n?o faltam:

    O int?rprete Vanderson Samuel Morais de Souza (na foto, ? direita do irm?o, Daniel Moraes de Souza, que tem defici?ncia auditiva) ? volunt?rio da Associa??o dos Surdos de Juiz de Fora. O lucro gerado atrav?s das matr?culas no curso de L?ngua Brasileira de Sinais (LIBRAS), ministrado por ele, ? direcionado ? associa??o. Al?m do curso, Vanderson d? aulas de teatro para os associados e ? int?rprete de pessoas com defici?ncia auditiva. ?Os surdos t?m uma vida social muito limitada. O trabalho que realizamos com eles busca o desenvolvimento da comunica??o e o resultado ? muito gratificante.?

    A psic?loga Din? Maria Werneck trabalha no Centro de Assist?ncia ao Menor Excepcional (CAME) desde 1977. Semanalmente, ela dedica 10 horas ao atendimento de crian?as e pais de excepcionais. Din? recebe uma remunera??o m?nima por sua atividade (aproximadamente R$200 mensais), mas afirma que nunca pensou em deixar o CAME por isso. ?? um trabalho que faz bem pra vida da gente mesmo. O m?nimo que conseguimos das crian?as para n?s j? ? o m?ximo. A pessoa chega querendo ensinar alguma coisa, mas acaba aprendendo muito mais.? A psic?loga relata sua experi?ncia: ?Hoje estou aposentada pelo Estado, mas, j? trabalhei muitos anos em dois empregos e ainda assim n?o deixei de prestar servi?os ao CAME. Quem quer ajudar as pessoas, sempre arruma um tempinho.?

    O diretor do grupo de teatro Divulga??o, Jos? Luiz Ribeiro, afirma ser um volunt?rio desde 1960. Ribeiro e sua equipe apresentam pe?as para comunidades carentes. ?Acreditamos na possibilidade de conscientiza??o pol?tica atrav?s do teatro. Quase cem escolas e creches de Juiz de Fora e regi?o assistem ?s nossas apresenta?es gratuitamente. A vida inteira me foi dito: se Deus te d? um dom, n?o ? para voc? guardar; ? para distribuir. Tentamos colocar isso em pr?tica.?, ensina.

Para aqueles que realmente n?o encontram tempo nem dinheiro para se dedicarem a uma atividade volunt?ria, ainda assim existem meios de ajudar a quem precisa. ? o caso do t?cnico em inform?tica Danilo Oliveira Santos. Ele ? doador de sangue para o Hemominas (R. Bar?o de Cataguases, s/n.) e para a Associa??o dos Hemof?licos de Minas Gerais desde 1997. ?O ?nico trabalho que tenho ? o de ir, de tr?s em tr?s meses, at? o local e fazer a doa??o, o que demora no m?ximo uma hora. Sem falar que ? uma coisa muito gratificante; eu me sinto bem sabendo que posso estar ajudando alguma pessoa.?

O dif?cil n?o ? criar; ? manter

Criado h? tr?s anos, o Comit? para Democratiza??o da Inform?tica de Juiz de Fora - CDInfo comemora a duplica??o do n?mero de escolas de cidadania e inform?tica, mas n?o esconde a preocupa??o com os problemas financeiros e administrativos do movimento. H? tr?s meses, a Escola de Inform?tica e Cidadania (EIC) do bairro Santo Ant?nio, primeira EIC criada pelo Comit?, teve que abrir m?o da linha telef?nica. A coordena??o n?o tinha condi?es de arcar com mais esta despesa mensal, j? que a sede ? alugada. A decis?o acabou inviabilizando tamb?m o acesso ? Internet e, conseq?entemente, a realiza??o de cursos nesta ?rea. Al?m de relatar esta dificuldade durante reuni?o do CDInfo em janeiro de 2000, a coordenadora Zeneides Martins Barbosa tamb?m lamentou a falta de entusiasmo da comunidade. ?H? alunos que desistem do curso, faltando dois meses para a formatura?.

Em abril, a not?cia ? outra. A escola est? se reestruturando com a ajuda da comunidade e, para superar as dificuldades, os coordenadores est?o mobilizando os pais de alunos e a par?quia local. A equipe aposta no envolvimento dos moradores e na colabora??o dos ex-alunos para manter a estrutura funcionando. Na segunda quinzena de maio, haver? a formatura de tr?s turmas. A inten??o ? de que os pais decidam a melhor forma de comemorar a data e ajudem a angariar recursos.

Para evitar que o movimento enfraque?a, representantes do CDInfo em Juiz de Fora visitaram as escolas do CDI Rio de Janeiro. ?As EICs do Rio j? passaram por crises como essa. Mas hoje os 48 n?cleos est?o em pleno vapor?, explica Abritta. A primeira provid?ncia tomada depois deste encontro foi criar um grupo para reestruturar o movimento em Juiz de Fora e, posteriormente, registr?-lo como uma organiza??o n?o-governamental. Abritta explica que isso ? importante na busca de patroc?nio e na profissionaliza??o do CDInfo. Ele convida profissionais das ?reas de Direito, Economia e Administra??o a auxiliarem na elabora??o do estatuto e dos plano estrat?gico.

Vencendo a crise com recursos pr?prios

Para driblar a crise financeira, muitas organiza?es n?o governamentais realizam atividades comerciais. ? o caso da Funda??o Jo?o Theod?sio Ara?jo, conhecida como Associa??o dos Cegos de Juiz de Fora. O lucro gerado na cl?nica oftalmol?gica, na ?tica e na loja de artesanatos ? destinado aos programas sociais da institui??o.

?A crise entrou sem pedir licen?a, mas n?s reagimos em vez de cruzarmos os bra?os. Estamos vencendo a crise com recursos pr?prios?, declara o presidente da Associa??o, Jo?o Theod?sio Ara?jo. Atualmente, a funda??o conta com 20 telefonistas, que realizam o servi?o de telemarketing. O trabalho consiste em ligar para diferentes casas, convidando as fam?lias a se tornarem s?cias contribuintes. Um grupo de 11 motoqueiros, al?m dos volunt?rios, busca as contribui?es na casa dos doadores. ?O telemarketing ? uma id?ia que est? dando muito certo?, afirma Theod?sio.


Empresas investem em trabalho volunt?rio

Valorizar a imagem p?blica e melhorar a vida da comunidade s?o os principais motivos citados por empresas brasileiras para investirem em trabalhos volunt?rios. A conclus?o est? no relat?rio de uma pesquisa do Centro de Estudos em administra??o do Terceiro Setor, CEATS, da Universidade de S?o Paulo. Em Juiz de Fora alguns empres?rios d?o exemplos de interesse pela quest?o social:

Atrav?s da promo??o de uma copa de futebol, uma cadeia de supermercados da cidade distribui entre institui?es carentes cerca de quatro toneladas de alimentos. ?Para participar do evento, o atleta contribui com 1 quilo de alimento n?o perec?vel?, explica o assessor de imprensa da rede, Nelson J?nior. "Recentemente, arrecadamos 3.500 quilos de alimentos com um evento esportivo."

O propriet?rio de uma loja de material de constru??o da cidade, Juarez Coutinho e sua esposa C?lia de Moura Coutinho presidem a Obra Social do Bom Pastor e, em conjunto com mais 40 volunt?rios, desenvolvem diversas atividades. A entidade tem car?ter filantr?pico e atende a crian?as com um sistema de creche, curso de jardinagem em conv?nio com a Prefeitura, al?m de dar assist?ncia a v?rias fam?lias e abrigar o Clube das M?es.

A institui??o abriga um grupo escolar, j? contou com a ajuda de m?dicos e dentistas volunt?rios mas, no momento, estes servi?os est?o sendo municipalizados. ?A filantropia no Brasil tem que dar um jeito de se auto-sustentar e, ao meu ver, este setor deveria profissionalizar-se? , comenta o empres?rio juizforano. ?As empresas de pequeno e m?dio porte n?o conseguem inserir em seus gastos o assistencialismo, primeiro, pela economia inst?vel e, segundo, pela falta de organiza??o do Governo que n?o fiscaliza o setor?, analisa Coutinho.

Keley Lopes ? coordenadora de marketing de uma f?brica de p? de caf? que doa mensalmente o seu produto a 20 institui?es filantr?picas em Juiz de Fora e regi?o e em algumas cidades do Estado do Rio de Janeiro, atendidas por filiais. Solicitando o servi?o, a entidade fica cadastrada na empresa e passa a integrar uma fila de espera. Baseado em um esquema rotativo de doa??o, as entidades recebem o alimento durante 1 ano. A empresa doa de acordo com a porcentagem geral da produ??o e com o tamanho e o n?mero de assistidos de cada institui??o beneficiada.

Al?m desta cota de doa??o fixa, a empresa atende mensalmente a associa?es de bairro e pessoas diretas com uma cota vari?vel de caf?. Segundo Keley Lopes, o interesse da empresa ? apenas ?social?. Times de associa?es de bairro e escolinhas de futebol tamb?m ganham da empresa uniforme.


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