Autonomia Feminina Mulheres mais experientes com homens mais novos. Lolitas e seus parceiros maduros. A liberação sexual e o amor livre. O JF Service ouviu histórias de pessoas que acreditam mais no entusiasmo de uma relação que, necessariamente, em convenções. A autonomia feminina, observada nesses últimos anos, parece ter aproximado o desejo da mulher do modelo masculino. Nossas entrevistadas elogiam a mútua troca de experiências em relações em que a diferença de idades é uma soma.

 

Colaboração:
Repórter Ana Maria Reis
10/12/99

Na década de 60, embarcando na onda feminista, pesquisas revelavam uma máxima que ainda hoje persiste na criação diferenciada entre meninos e meninas - “as mulheres amadurecem emocionalmente mais cedo e sexualmente mais tarde”. Estes aspectos podem ser analisados em pesquisas divulgadas há 30 anos em relatórios de Medicina como o Kinsey e o Hite. Em contrapartida, o sexólogo Octávio Viscarde Filho tem observado em seu consultório médico que as mulheres estão mais abertas aos estímulos eróticos, fato que pode estar sendo abordado em pesquisas mais recentes. Portanto, conclui Viscarde, no próximo século, o comportamento sexual feminino não poderá ser previsto desta mesma forma porque as jovens poderão apresentar uma inclinação sexual semelhante à dos rapazes.

Luciana Pacheco, 18 anos, estudante universitária, diz que em seu meio social as meninas têm vida sexual mais ativa que os meninos. “Se quiséssemos, teríamos um homem diferente a cada noite”, afirma. No entanto, esta liberdade sexual não fez parte da juventude de mulheres que hoje estão na faixa de 40 e 50 anos. Elas realmente desenvolveram a capacidade de amar antes de seus namorados e noivos, casaram-se com eles, enviuvaram-se ou divorciaram-se e hoje estão relacionando-se com rapazes por uma série de motivos, entre eles, pelo vigor sexual ainda presente e pela vontade de experimentar novas vivências.

Mas para a psicóloga e sexóloga Marilza Roquette Vaz, estas mudanças comportamentais acontecem numa velocidade muito reduzida e admite, mesmo em meio à liberação sexual, ter tratado de pacientes que sofriam por preconceito ou ciúme excessivo por estarem relacionando-se com homens mais novos. Ela conta um caso de uma paciente que namorava um rapaz 30 anos mais moço, a quem todos perguntavam se era mãe dele. “Ela conseguiu superar seus medos, mas hoje eu já não tenho notícias dos dois porque eles foram morar fora de Juiz de Fora”, comenta. Em entrevista à revista Marie Claire, de abril deste ano, a atriz Vera Holtz, 46 anos e que assumidamente já teve várias experiências com rapazes, confessa que nestas horas abusava do bom humor. A quem lhe fazia este tipo de pergunta, ela respondia, por exemplo, que não somente era seu filho o seu parceiro, como, também, o mais velho deles.

Apesar de tantas piadinhas e olhares desconsertantes, nossas entrevistadas apontam várias vantagens em relacionar-se com pessoas de idades pouco afins às suas. A troca de experiências é um aspecto positivo nessas relações. Como explicou Marilza Roquette, os meninos encontram mais carinho, segurança e uma relação mais aberta com mulheres mais velhas, enquanto o homem maduro representa, para uma jovem, a experiência de vida aliada a sensualidade. “A mulher mais velha geralmente não é a mais experiente no quesito ‘cama’, porque normalmente só conheceu o seu marido, mas poderá oferecer um relacionamento mais livre de compromissos”, explica a sexóloga que já foi pedida em casamento por um rapaz mais jovem e recusou. “Eu quero é fazer o que na minha época me diziam que não era meu direito fazê-lo”, diverte-se Marilza Roquette.

 

“Fliperama”

BB, 29 anos, operadora de telemarketing, está no seu segundo namoro e nunca relacionou-se com homens da sua idade ou mais velhos. Segundo ela, seu lado brincalhão parece espantar esta faixa etária e por não aparentar a idade que tem, ela acaba atraindo os rapazes. Em seu primeiro namoro, a diferença de idade era de 6 anos. Ela trabalhava fora o dia inteiro, mas para ajudá-lo a passar no vestibular, acabou se matriculando em um cursinho à noite. “O meu lado materno é muito aflorado, quero ajudar a pessoa a crescer”, explica. Coincidentemente quando ele, enfim, entrou na faculdade, o namoro terminou.

Em casa, ela diz sofrer pressão por parte da sua mãe, que sempre a aconselha a não alimentar esperanças quanto a um casamento. Mas BB defende-se dizendo que o que a segura em uma relação é o lado afetivo. “Sou independente e tenho projetos de vida e trabalho. Acredito que a desilusão, que atinge homens e mulheres com vidas muito diferentes após um relacionamento desfeito, aconteça quando um não possui maiores distrações que o outro”, explica BB, dizendo que acha ótimo passar uma tarde no fliperama com o seu atual namorado, 8 anos mais jovem. Ela acredita que, sexualmente, os homens mais novos podem sair perdendo no quesito know-how mas, que a disposição sexual dos mais jovens é, indiscutivelmente, um ponto positivo na relação.

 

“Lolita”

A estudante de Comunicação Bárbara Bastos, 22 anos, apaixonou-se pela primeira vez aos 11 anos de idade por uma homem beirando os 30. Sem ser correspondida imediatamente, conseguiu “ficar” com ele aos 14 apenas pela sensação do “dever cumprido”. Durante toda sua adolescência até a idade madura, ela somente se interessou por homens bem mais velhos. Na maioria dos casos, o casal possuía uma diferença maior que a de 10 anos. “Eu me atraia pelo peso da experiência que via neles: um mundo diferente a me oferecerem”, explica. Em casa, nunca sofreu grandes reprovações porque seus pais sempre consideraram “fogo de palha” seus rolos ou namoros com homens mais velhos. Mas apesar deste currículo invejável a qualquer Lolita de Nabockov, Bárbara diz ter perdido todo interesse em relacionar-se com parceiros mais maduros. Atualmente ela namora há 5 meses um rapaz de 23 anos.

 


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