Colabora??o:
Rep?rter Ana Maria Reis
13/04/2000

As mulheres e as m?quinas

Aos poucos, as mulheres brasileiras come?am a conquistar postos de trabalho em um reduto tradicionalmente masculino: a ind?stria da transforma??o. Este dado poderia ser julgado como uma tend?ncia natural, j? que as mulheres est?o graduando-se e tornando-se aut?nomas economicamente.

No entanto, outro fator o torna, no m?nimo, questionador: de acordo com o soci?logo Eduardo Cond?, o setor das ind?strias de montagem, metalurgia e qu?micas foi o que mais sofreu com o impacto tecnol?gico e que mais diminuiu o n?mero de empregos nas ?ltimas d?cadas.

Estudos realizados pela economista Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense, mostram que, em 1985, havia 2.083 milh?es de trabalhadoras na ind?stria de transforma??o e, em 97, elas eram 2.383 milh?es. Em meados da d?cada de 80, 32% das trabalhadoras tinham entre 18 e 24 anos. Doze anos depois, as mulheres desta faixa et?ria eram 23% enquanto que a maioria das trabalhadoras tinham entre 30 e 39 anos - 27%, provando, em contrapartida, a perman?ncia delas no mercado de trabalho.

Apesar do aumento da participa??o feminina na ind?stria, elas ainda s?o minoria nessa ?rea. Em 85, eram 26,35% da for?a de trabalho. Doze anos depois, a inser??o de mulheres foi de 28,13%.

Panorama da ind?stria no pa?s

  • Em 1999, o pesquisador Adalberto Cardoso realizou um trabalho cient?fico sobre a precariza??o dos v?nculos de trabalho no Brasil sobre os dados do CAGED/Minist?rio do Trabalho. Durante o per?odo de 12 meses, 37% dos trabalhadores de ind?stria sofreram com a ?rotatividade? no setor.

  • Apesar do crescimento observado na ind?stria da transforma??o entre novembro de 98 e novembro de 99, de 4,3%, o IBGE apontou uma queda de - 0,1% durante os meses de outubro/novembro do ano passado.

Mulher que chefia homens

Giane Fernanda Faza Santana, 25, exerce um cargo de chefia na filial da montadora da Mercedes Benz em Juiz de Fora. Acima dela na empresa, est?o os supervisores, gerentes e diretores, estes, os pr?prios alem?es que vieram ao Brasil em 97 para implantar a empresa.

Como L?der de ?rea, ela supervisiona o pessoal da linha de montagem dos carros. Cada linha ? formada por 10 grupos de trabalhadores, que na sua maioria ? homem. Ela acredita n?o existir preconceito entre os colegas ou entre funcion?rios e superiores.

Giane ? formada em Metalurgia pelo Col?gio T?cnico Universit?rio da UFJF e fez, em 97, um curso t?cnico de nivelamento pelo Senai/Fiemg, criado a partir da necessidade de se qualificar os t?cnicos formados para uma poss?vel atua??o nas multinacionais que se instalassem na cidade.

Ap?s din?micas e testes psicot?cnicos, veio o convite de contrata??o pela montadora e viagem de qualifica??o na Europa. O processo de sele??o contou com 500 concorrentes: 36 foram admitidos; destes, apenas 4 eram mulheres.

Depois de morar 4 meses na Alemanha e trabalhar na fun??o de multiplicadora, ela retornou ao Brasil para dar treinamentos. ?N?o sofro com preconceito, mas tenho que passar confian?a e n?o deixar de fazer isto ou aquilo porque minha unha pode quebrar?, comenta Giane, que pretende cursar ou a faculdade de Administra??o ou a de Engenharia de Produ??o e encontra, para isto, incentivo de seus chefes.

Prefer?ncia por mulheres

De acordo com o Gerente de RH da Mercedes Benz em Juiz de Fora, Jayr Rufino, as mulheres t?m aptid?es e qualidades que a maioria dos homens n?o t?m, como, ?simpatia, calma, capacidade de assimilar os problemas e buscar solu?es para estes?. No momento, elas s?o 17% dos 1.400 funcion?rios da empresa. Os setores que mais empregam mulheres s?o os de Recursos Humanos e a Montagem Final, mas elas est?o espalhadas por todos os demais, inclusive na Montagem Bruta e na Engenharia de Log?stica. Segundo Rufino, ? meta da Mercedes Benz no Brasil aumentar o quadro de contrata??o feminina nos pr?ximos anos.

Jayr Rufino acredita que o problema de ascens?o profissional, onde homens seriam beneficiados para exercerem cargos de chefia em um tempo de ?casa? menor que o das mulheres, j? ? coisa do passado. ?Em especial, nas multinacionais, a pol?tica adotada pelo atual mercado ? o de contratar pela qualidade profissional apresentada e n?o pelo sexo?, afirma Rufino.

Para o soci?logo Eduardo Cond?, tal discrimina??o contratual dentro da ind?stria de transforma??o pode gerar uma fragilidade da empresa dentro do mercado nacional (e no internacional), levando-a, irremediavelmente, ? fal?ncia.

Diferen?a Salarial

Uma das formas do tal preconceito ?subliminar? dentro de uma empresa ? a diferen?a salarial entre homens e mulheres. A m?dia ? de 23,77%, mas h? quem acredite, como o soci?logo Eduardo Cond? que, em determinadas regi?es do pa?s, esta diferen?a pode beirar os 40%.

No setor de servi?os, onde a atua??o feminina chega a 39%, por exemplo, a remunera??o feminina ? de 5,13 sal?rios m?nimos, enquanto a dos homens ? de 6,73. Em Juiz de Fora, elas podem ganhar at? 35% menos que os homens.

Giane Faza Santana acredita n?o existir diferen?a salarial entre homens e mulheres dentro da montadora da Mercedez Benz, em Juiz de Fora, onde trabalha como L?der de ?rea (um cargo de chefia na linha de montagem). No entanto, seu marido, Edm?rio Batista Santana, 32 anos, exerce a fun??o de Porta-voz (em que intermedia o pessoal da linha de montagem e o L?der de ?rea), e recebe o mesmo que ela.

Nos Estados Unidos, onde a planta industrial ? uma das mais consolidadas do mundo, esta diferen?a salarial pode ultrapassar os 20%. Na Europa, no entanto, a coisa ? mais s?ria. ?Existe uma forte fiscaliza??o e puni?es altas para os casos de discrimina??o salarial?, adianta o soci?logo Eduardo Cond?.

Participe:

Para mulheres que est?o no mercado de trabalho:
Você já sofreu algum tipo de discriminação no emprego, por ser mulher?
      Sim
      Não
   

ATENÇÃO: o resultado desta enquete não tem valor de amostragem científica e se refere apenas a um grupo de visitantes do JF Service.


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