Errei. E agora?

Rep?rter: Emilene Campos
07/11/2000

Quando comete uma falha, como voc? reage? Xinga, briga, chora, ignora, fica se culpando? Muitas dessas rea?es fazem parte do repert?rio tanto de quem pensa ?que nunca pode errar?, tanto daquele que n?o cansa de repetir ?eu n?o acerto uma?. Se um n?o se permite errar, o outro acredita que ele ? o pr?prio problema e, se um dia fizer alguma coisa certa, ser? pura sorte.

Em casos como esse, ? comum ouvir a frase ?vou aprender com meus erros, n?o os repetirei da pr?xima vez?. Falar ? f?cil. O dif?cil ? incorporar essa id?ia ao dia a dia e reagir de forma sensata quando est? passando por uma situa??o dessa. Para o psic?logo Caio C?sar de Almeida, a informa??o apenas n?o ? suficiente para reeducar uma pessoa. ?A pr?pria sociedade cobra a perfei??o. No mundo de hoje mais ainda?, enfatiza. Para ele, n?o se trata de uma quest?o intelectual, mas emocional.

Por isso, o importante neste processo ? aprender a lidar com o sentimento de frustra??o. E quanto mais cedo isso puder ser trabalhado, melhor. ?De prefer?ncia na inf?ncia?, refor?a. Nem precisa dizer que a fam?lia tem papel fundamental nesse aprendizado. ?Quando a crian?a ? muito cobrada pela fam?lia, ela tende a ter mais dificuldade de assimilar a cr?tica quando adulta?. ?No adulto, a situa??o ? mais complicada? , diz a psic?loga Luzianne Maria Damato de Ara?jo. O problema j? est? ?cristalizado? e ele vai ter que quebrar um paradigma para construir outro.

? o caso de um dos pacientes de Caio Almeida. Segundo o profissional, seu cliente tem necessidade de mostrar superioridade em rela??o aos colegas de trabalho e se cobra muito para atingir bons resultados. Por outro lado, tem receio de n?o corresponder ?s expectativas de seus chefes e acabar sendo criticado. Em fun??o desse dilema, muitas vezes, ele prefere repassar uma obriga??o para um colega do que encarar o desafio de um novo projeto. "O medo de errar ? t?o grande que, ?s vezes, faz um trabalho aqu?m das suas possibilidades. Ele utiliza a seguinte l?gica: j? que n?o vir? o elogio, tamb?m n?o haver? cr?tica?, conclui.

Bobagem evitar a cr?tica, a quest?o ? como lidar com ela. Procurar um relacionamento mais aberto, no qual as pessoas compreendam suas limita?es, ? uma das alternativas apontadas pelos terapeutas. Outra op??o ? procurar se conhecer melhor, rever seus sentimentos. Isso pode ser feito com a ajuda de algu?m em quem voc? confie: seus pais, seu marido ou esposa, um amigo ou at? mesmo um profissional.

Caio explica que isso ajuda a pessoa a direcionar a vida para metas mais realistas e a conhecer seus limites emocionais. Enfim, descobrir o que a est? levando a cometer determinados erros e a tentar resolver a quest?o. O terapeuta lembra que o medo de errar muitas vezes pode inibir nossa capacidade de ousar, de arriscar, de viver novas experi?ncias, o que acaba delimitando a vida. Por isso, ? melhor n?o adiar a solu??o do problema.

Autoconfian?a ? pr?-requisito

A psic?loga Luzianne Maria Damato de Ara?jo acredita que, para ensinar uma crian?a a lidar com as cr?ticas, o fundamental ? trabalhar sua autoconfian?a. ?Quem ? auto confiante pode transformar o problema em algo bom, proveitoso?, ensina. O recado tamb?m vale para os pais. O adulto deve mostrar os limites e cobrar com coer?ncia. Se o menino acertou, destaque o fato, d? parab?ns. Se errou, fale sobre o problema, mas n?o humilhe e, muito menos, seja recorrente. ?Erros e acertos fazem parte do desenvolvimento da garotada, mas a forma como isso ? encarado e repassado influencia na forma??o delas ?, explica Luzianne.

A fam?lia deve ainda estar aberta ? concep??o de mundo da crian?a. ?Por exemplo, se ela coloriu uma ?rvore de cor de rosa. Antes de colocar mil defeitos e falar que as ?rvores s?o sempre verde e marrom, deixe-a explicar sua inten??o. Ela pode estar apenas demostrando sua face mais criativa?, exemplifica Luzianne.

Outra ressalva feita pela psic?loga diz respeito ao castigo. Deve haver um rela??o direta entre o que ela fez e a tarefa que vai ter que cumprir. ?Se seu filho brigou na rua. Qual ? a l?gica de n?o deix?-lo ver televis?o? Se tirou nota baixa. Por que n?o permitir que coma doce?, argumenta. A quest?o, segundo ela, ? ficar atenta aos sinais e agir da forma mais sensata, sem subestimar ou superestimar a crian?a. Dar o exemplo, tamb?m ? crucial. O dito popular ?fa?a o que eu digo, n?o fa?a o que eu fa?o? tamb?m n?o cola com os pequenos.


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