Quanto riso, quanta alegria
Homenageando Carequinha, o palha?o mais famoso do Brasil, Bloco do Beco leva milhares de foli?es ?s ruas de JF, mais uma vez.

Rep?rter: Ricardo Corr?a
Edi??o: Ludmila Gusman
Designer: L?via Mattos

O Beco ? o bloco mais desorganizado de Juiz de Fora. E n?o que isso seja entendido como negativo. Afinal, como foi dito no grito de guerra antes da festa come?ar, "carnaval bom ? assim, sem organiza??o, mas com muito respeito". E assim foi, na desorganiza??o organizada que j? ocupa as ruas de Juiz de Fora h? mais de 30 anos. Era tanta gente, e tanta anima??o, que a Pol?cia Militar nem arriscou quantos eram os foli?es. E se n?o dava para medir a quantidade de gente, tamb?m n?o dava para medir a anima??o de quem foi atr?s do som pelas principais vias do Centro.

Quanto riso, quanta alegria. Se fosse para contar, eram quase mil palha?os na avenida. Mas um deles foi o centro das aten?es. George Savalla, que todos conhecem como o palha?o Carequinha, do alto de seus 90 anos, e do carro em que acenava para o p?blico, agradeceu a homenagem e distribuiu um dos sorrisos mais famosos e cativantes do Brasil.

"Carequinha, um beijo no seu cora??o" era o samba, e foi s? o mote para a transforma??o do circo em carnaval, e vice-versa. Mas com uma diferen?a marcante: na passarela, nas ruas, todos s?o artistas e p?blico ao mesmo tempo. Talvez isso explique porque, em meio a tanta gente, e tanta anima??o, todos arranjem um espa?o para aparecer. E ? claro que uns aparecem mais, com fantasias ex?ticas, ou simplesmente diferentes. Do gorila e o ca?ador, ? bruxa, c?meras de televis?o, travestis. H? espa?o para tudo quando a imagina??o e irrever?ncia s?o colocadas em pr?tica.

Mais do que ningu?m o Bloco do Beco sabe fazer isso. S?o palha?os de fato, fazendo arte h? muito tempo. E onde tem irrever?ncia, tem Jos? Carlos Passos, o Z? Kodak (foto abaixo ao centro, com Paulo Caruso). Seu show ? no dia seguinte, mas o general da Banda Daki n?o deixa de comparecer ao desfile do Beco, irm?o mais novo da banda.

Ali Z? Kodak at? usa seu chap?u de general, mas o comandante maior ? outro. Armando Aguiar, o Mam?o (na foto abaixo ? esquerda com Tarc?sio), que j? exibia uma garrafa de u?sque antes da festa come?ar. Um dos fundadores famosos do bloco, o compositor j? comemora antes do desfile. ? f?cil saber que mais uma vez ser? um sucesso. Mas sempre um sucesso diferente.

"A cada ano se renova. ? mais gente, mais alegria e, mesmo com toda a experi?ncia, toda tradi??o, eu sempre me emociono de uma forma diferente".

Na concentra??o, a alegria n?o tinha partido, e nem fei?es pol?ticas. O deputado estadual Biel Rocha (abaixo, ? direita, com a esposa e o l?der do afox?), e o ex-prefeito Tarc?sio Delgado, por exemplo, claro, n?o queriam nem falar em PT ou PMDB. Queiram exaltar a alegria por participar da festa do Beco.

"? um momento de voc? se abastecer e de se encontrar com o povo de Juiz de Fora. O momento mais rico de nossa cultura e, este ano, com uma caracter?stica diferente, que ? a estr?ia do afox? abrindo o desfile e o carnaval de Juiz de Fora", disse Biel, que ressaltou a tradi??o do Beco. Tarc?sio tamb?m.

"? uma coisa muito antiga, muito nossa. Muita gente que temos saudade n?s encontramos aqui. O Bloco do Beco ? a maior alegria do nosso carnaval, porque ? m?ltiplo, vale tudo mesmo aqui", disse o ex-prefeito, que n?o rompeu a tradi??o e tomou o u?sque com Mam?o.

Quem tamb?m compareceu com sua alegria e descontra??o foi o folcl?rico Angela Maria (foto ao lado). Torcedor fan?tico do Tupi, ele ainda n?o conseguiu ver um jogo de seu time este ano, mas para ir no Beco ele deu um jeito. Talvez tenha sentido, ano passado, como ? ruim ficar de fora dessa festa.

"Isso aqui ? uma alegria maravilhosa. E nesse ano de 2006, em que se homenageia o grande Carequinha, estamos ainda mais felizes", disse o famoso "Angela".

Festa completa e aben?oada
A festa do Beco acontece nas ruas, mas foi na concentra??o que se acumulou energia e disposi??o. Enquanto os foli?es se aqueciam, desde ?s 17h, o espa?o era do afox?, que abriu o carnaval e lavou as ruas para a passagem do bloco famoso. J? eram mais de 20h quando o Beco ficou pronto para sair. Na verdade quase pronto, j? que a bateria ficou presa no tr?nsito da Avenida Brasil e s? chegou alguns minutos depois.

Chegou j? tocando, mas o primeiro barulho que se ouviu n?o foi dos batuques, mas dos fogos do terra?o de um hotel na avenida. Era a senha para a sa?da do bloco, que subiria a Santa Rita, at? a avenida Rio Branco. A multid?o passou lentamente pela rua, junto com o famoso trenzinho da alegria. O caminh?o-trem que sempre alegrou as crian?as no Parque Halfeld mais uma vez entrou em cena para carregar os pequeninos. Era um presente do Beco para Carequinha. Exatamente por isso o trenzinho veio logo atr?s do carro que levava o palha?o. Ele revezou entre alguns minutos de descanso e uma centena de acenos para a multid?o.

Da Santa Rita os foli?es entraram em uma das pistas da Rio Branco e depois desceram o Cal?ad?o. Em frente ao Theatro Central, a prova concreta de que o Beco contagia. Basta ver o Rei Momo e a Rainha do Carnaval, juntinhos, animados e at? demais... ? carnaval.

No caminho, muitos abandonaram o bloco, e muitos aderiram. Na entrada da Batista de Oliveira j? se anunciava o fim do festejo. Depois era s? pegar a S?o Jo?o, a Get?lio Vargas e voltar ? Pra?a Ant?nio Carlos, onde tudo come?ou. Fim do desfile do Beco, in?cio do Carnaval de Juiz de Fora.

O Beco faz hist?ria
? dif?cil dizer qual ? mais famoso, o Bar ou o Bloco. O certo, no entanto, ? que o Beco j? virou tradi??o no Carnaval de Juiz de Fora e, ao lado da Banda Daki, ? um dos maiores orgulhos dos foli?es de nossa cidade. Mas para chegar a esse ponto, o bloco fez hist?ria. Ano, ap?s ano, h? mais de 30, a irrever?ncia dos sambas e a anima??o de seus participantes foi contagiando o juizforano. Bloco de intelectuais, mas intelectuais do samba, da m?sica, apaixonados pela folia.

O grupo foi criado na d?cada de 70, pelos amigos C?sar Itaboray, Jo?o Medeiros e Armando Aguiar, o Mam?o. O Bar do Beco era ponto de encontro de compositores, poetas e jornalistas da cidade, e n?o demorou muito para que a galeria ficasse pequena para o bloco e a?, as ruas de Juiz de Fora passam a mudar, por algumas horas. Perdem esse car?ter e se tornam, simplesmente, o Beco: um mar de gente pulando e cantando sem parar.

E as mais de tr?s d?cadas de folia fizeram com que a turma fosse recheada de hist?rias. No in?cio era s? o bloco mesmo, com a galera cantando, mas rapidamente houve a necessidade de um carro de som. Em uma dessas vezes, logo nas primeiras, o beco usou uma Kombi de vender laranjas na feira. Mas o que era para ser um apoio acabou sendo um peso a mais. Al?m de n?o funcionar, a Kombi precisou ser empurrada pelo bloco. Nada que desanimasse os foli?es.

Os sambas do Bloco do Beco sempre foram irreverentes e, muitas vezes, causaram pol?mica. A pol?tica sempre foi lembrada e o juizforano Itamar Franco, quando decretou a morat?ria, no Governo de Minas, ganhou sua s?tira. No samba-enredo "Quem empresta a Minas d?... adeus" foi lembrada a decis?o de n?o pagar as d?vidas do estado, o que causou repercuss?o nacional.

Certa vez, quando cantariam "Saudade do casar?o", os foli?es criaram problema com a pol?cia. Era a hist?ria da transfer?ncia da delegacia, que ficava na rua Batista de Oliveira. Com policiais rondando o bloco para garantir que o Beco n?o iria falar demais, os organizadores decidiram mudar o samba. Cantaram "Cora??o Leviano", de Paulinho da Viola. E n?o se fala mais nisso.

E assim se conta a hist?ria do Bloco do Beco, que este ano foi tombado pela C?mara Municipal de Juiz de Fora, como entidade carnavalesca da cidade. O grupo foi tombado este ano, mas a alegria, o entusiasmo e a irrever?ncia j? s?o inesquec?veis... h? mais de 30 anos.


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