Juliano Nery Juliano Nery 25/2/2011

A diáspora juiz-forana

Foto de rodoviária cheia"Em dez minutos, partida do ônibus para o seu destino. Confira em sua passagem, o destino, o horário e o número da plataforma. A Sinart deseja a todos uma boa viagem." O anúncio é bastante claro e a movimentação na rodoviária de Juiz de Fora é bastante intensa por esses dias. Afinal de contas, estamos bem próximos do Carnaval e quem não escolher a segurança do transporte rodoviário, também entupirá as rodovias, só que com os automóveis. E, lembrando sempre: se beber, não dirija! — É assim que começa a diáspora juiz-forana. Neste caso, a nossa "dispersão", origem do termo judaico, não é imposta. No entanto, é fato que os moradores da Manchester Mineira estarão nos mais variados lugares nos dias de folia...

Desde o tempo em que moro na cidade, coisa de uma década, acabei passando três Carnavais por aqui. A contragosto, vale dizer, pois estava trabalhando. Juiz de Fora experimenta um terrível êxodo nesta data. O comércio, praticamente, todo fechado e umas poucas atividades em funcionamento nos dias do batuque que toma conta do Brasil. Existe, é verdade, o louvável trabalho das agremiações da escola de samba da cidade, além do apoio do município com o evento, mas fato é que boa parte dos habitantes, principalmente, aqueles que têm opção, acabam indo para outras bandas... O que é muito estranho, por vários motivos.

Os moradores de Juiz de Fora gostam de Carnaval? — Claro que sim! É só ver a mobilização em torno dos blocos pré-carnavalescos, da quantidade de rodas de samba e da ansiedade das pessoas à espera da sexta-feira, último expediente que antecede à Festa do Momo. No entanto, os fãs de Carnaval não citam na rota a seguir no feriado, a permanência no município. Ouve-se do Carnaval de rua das cidades históricas, como Diamantina, Ouro Preto, Tiradentes, dos blocos de rua do Rio de Janeiro e das festividades em cidades pequenas do Sul de Minas. Por que será?

Acredito que a vocação turística possa fazer parte do conjunto de explicações para o tema. Tirando a Rainbow Fest, que traz inúmeros turistas no mês de agosto, poucas são as ocasiões que a cidade se torna atrativa por conta de eventos. Uma agenda turística que contemplasse os vários períodos do ano poderia colaborar com a solução do tema, já que a captação de eventos é uma boa forma de se trazer desenvolvimento para o município e torná-lo um polo interessante para o turismo.

O que é inadmissível é perceber que os jovens, grandes foliões por natureza e que habitam nossa cidade em grande número durante o ano todo por conta de sua formação, sequer pensam em ficar por essas bandas durante o feriado mais longo do ano. É necessária uma programação mais extensa e descentralizada. Escola de samba para quem gosta dos desfiles, marchinhas para quem gosta de blocos e ritmos da moda para quem gosta do que há de momento.

Já que o ano começa depois do carnaval, de repente, ali pelo dia 14 de março, primeira segunda-feira após os festejos, poderia ser o momento de pensar em como dar um gás nas festividades do ano que vem. Até lá, todo mundo já está de volta. Juiz de Fora merece uma grande festa e não uma corrida atrás de passagens com a rodoviária entupida de gente, querendo Carnaval em outro lugar.

Juliano Nery terá folga no Carnaval deste ano e não vê a hora de botar seu bloco na rua em outro lugar, em 2011.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.


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